RESAZ: [forum-prof] Gaza - A visão de um embaixador

Abraham Zakon azakon2 at globo.com
Wed Jan 7 08:54:13 BRST 2009


Embaixador brasileiro no Egito explica a disputa no Oriente Médio

Cristine Gerk, Jornal do Brasil 

 

RIO - Para um diplomata que já foi responsável pelas embaixadas brasileiras
no Irã e na Turquia, e atualmente representa o Brasil no Egito, a análise
sobre os ataques israelenses na Faixa de Gaza ganha contornos muito mais
amplos e profundos. Segundo Cesario Melantonio Neto, a paz na região, que
seria ajudada pela chegada de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos,
está novamente distante. Neste contexto de confronto, o especialista atenta
para a formação de dois eixos de poder na região: um alinhado aos EUA,
liderado por Egito e Arábia Saudita, e outro crítico da influência
americana, representado por Irã e Síria. Com a recusa do Egito em receber os
palestinos fugitivos dos ataques, o eixo do Irã ganha cada vez mais
popularidade. 

Nessa entrevista ao Jornal do Brasil, Melantonio fala ainda sobre o papel
que o Brasil pode ter nesse cenário caótico, além de abordar as relações
entre egípcios e brasileiros. 

 

Que repercussões esses ataques têm para a região? 

 

São péssimas. Todos estávamos esperando a posse de Obama, com perspectiva de
mudança no curso das negociações de paz na região. Mas, com esses ataques,
cria-se uma situação de enorme tensão no Oriente Médio. Isso certamente
dificultará o trabalho dos países que tentam promover esse diálogo. Hillary
Clinton e Obama terão um trabalho muito mais complicado porque muda agora
totalmente o quadro político e estratégico com o qual terão de lidar. O
ataque cria grandes problemas para o Egito, que é o maior país árabe, sede
da Liga Árabe e um dos únicos que reconhece o Estado de Israel. A comunidade
árabe critica o Egito por não apoiar a sua causa e não legitimar o Hamas.
Enquanto isso, o Irã vai buscar nesse momento de crise ser um protagonista
retórico. Ao contrário do Egito, o país tem se fortalecido muito na opinião
pública dos países islâmicos com o discurso em prol da causa. 

 

O Egito está disposto a receber os palestinos que tentam fugir do conflito? 

Quase 90% dos egípcios não querem relação estreita com Israel e há uma forte
pressão para que o governo receba os palestinos que tentam escapar do
conflito fugindo para o Egito, nas cidades de fronteira, onde há comida e
remédios. Mas o governo provavelmente não fará isso. Eles são o segundo país
da região, atrás somente de Israel, que mais recebe ajuda financeira militar
dos EUA – US$ 1,2 bilhão por ano, apenas US$ 100 milhões a menos que Israel.
Se o Egito for para o outro eixo, há uma perda estratégica muito grande para
os EUA. Os americanos ficam em cima porque temem que a fraternidade islâmica
tome o poder do país e faça essa mudança. No governo, 20% dos acentos da
oposição, ou seja 88 cadeiras, ficaram com a Fraternidade, mas eles sofrem
perseguição grande, não acredito que consigam se sobrepor a essa força. O
poder de Estado lá é muito forte. Dos 80 milhões de habitantes, 7 milhões
são funcionários públicos – quase 10% da população. 

 

O que o Brasil pode fazer para ajudar este Oriente Médio em guerra? 

O Brasil e os demais países latinos apóiam o processo de paz e a
intensificação do contato entre os principais países da região para lutar
pelo processo de conciliação, mas não ao ponto de ser um intermediário
direto no conflito. Há quase 12 milhões de brasileiros de origem árabe e
meio milhão de origem judaica. Isso é uma ponte étnica com o Oriente Médio.
O Brasil agora está organizando uma aproximação estreita com o mundo árabe.
No dia 31 de março, vai acontecer uma nova reunião da cúpula América do Sul
- Países Árabes (Aspa) organizada com apoio da Liga Árabe. A Aspa prevê uma
aproximação política, econômica e cultural entre as regiões. A nossa
proposta é de institucionalizar a Aspa e fazer reuniões de um futuro comitê
executivo a cada seis meses. 

 

Como funciona o jogo de poder na região? 

 

Há dois grupos que lutam pelo controle no Oriente Médio. Um eixo é liderado
por Irã e Síria. Embora os dois tenham divergências religiosas, compartilham
da mesma visão política – o ideal de que a região não seja uma colônia dos
Estados Unidos. Eles têm dado apoio financeiro e treinamento militar ao
Hezbollah, ao Hamas e à Fraternidade Islâmica. O outro eixo, composto
sobretudo por Egito e Arábia Saudita, é alinhado com os Estados Unidos,
embora isso esteja enfraquecendo com o tempo. Há competição entre os dois
países, a Arábia quer ocupar o lugar do Egito. 

 

 

O que falta para a paz ser atingida entre israelenses e palestinos? 

Não acredito que falte influência externa ou alguma intervenção conciliadora
de fora melhor sucedida. O problema é que é difícil uma negociação entre
dois países completamente divididos dar certo. Os palestinos são divididos
entre o Hamas e o Fatah. O governo de Ehud Olmert está de saída, e as forças
de poder são disputadas entre o Kadima, de Tzipi Livni, e o Likud, do
ex-premiê Benjamin Netanyahu. Neste momento crítico, a União Européia e os
Estados Unidos têm obrigação de intensificar os esforços de paz, ao invés de
abandonar o barco na tempestade. Essa região precisa encontrar estabilidade,
não pode continuar nessa montanha russa. Até porque ela concentra grande
parte da riqueza estratégica mundial, o que acontece lá influencia o mundo
todo. 

 

Como é a relação entre o Egito e o Brasil hoje? 

O Egito tem muito interesse nos programas sociais do Brasil, como o Fome
Zero. Lá, metade da população vive com 1 ou 2 dólares por dia. Vou à
Brasília na semana que vem e vamos oferecer um programa bilateral ou
multilateral com ajuda das Nações Unidas e do Banco Mundial, para
intercâmbio em ações de combate à pobreza e à fome entre os dois países. O
Brasil está apoiando a participação do Egito na cúpula do G8 (Canadá,
França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos)
+ G5 (África do Sul, Brasil, China, Índia e México) em 2009, na Itália, e
eles ficaram muito gratos com o apoio brasileiro. 

 

E o Egito e o Irã? Como se relacionam? 

 

Eles têm relações diplomáticas, mas não plenas. Não existem embaixadas, e
sim escritórios de representação de interesses em cada um. Isso foi causado
por um incidente mal resolvido. Depois de o presidente egípcio Anwar Sadat
ter sido assassinado por manter relações diplomáticas com Israel, o governo
iraniano deu o nome do assassino a de uma rua no país. 

 

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-----Mensagem original-----
De: forum-prof-bounces at if.ufrj.br [mailto:forum-prof-bounces at if.ufrj.br] Em
nome de coelho at if.ufrj.br
Enviada em: quarta-feira, 7 de janeiro de 2009 01:13
Para: marccosta
Cc: FORUM-prof
Assunto: Re: [forum-prof] Professores repudiam ataque contra Universidade de
Gaza

 

Oi Marcio,

respeito muito o Bernard Sorj e o Simon Schwartzman mas os números deles

contradizem um pouco os do serviço estatístico de Israel. Este fala em 160

mil em 1949 que viraram 1,45 milhões em 2007 (aumento de um fator 9,0).

Com a expulsão de 600 mil não-judeus, os judeus, com 1 milhão em 1949,

ficaram em clara maioria em Israel. Em 2007 são 5,5 milhões de judeus

(aumento de um fator 5,5). O site é meio chatinho mas faz anos que o tenho

"linkado": 

http://www1.cbs.gov.il/ts/databank/series_func_e_v1.html?level_1=2&level_2=1
&level_3=1

 

A expulsão desses não-judeus claramente não resolveu o problema de ter um

estado de maioria judia, pois evidentemente parte do crescimento da

população judia veio da imigração e outra parte da natalidade enquanto

todo o não-judeu veio da natalidade, mas mesmo assim o segundo é bem maior

que o primeiro. Se (e esse é um grande "se") essa tendência continuar em

cerca de um século Israel terá maioria não-judia. E isto sem considerar a

população dos territórios ocupados que deveria ter ou nacionalidade

israelense ou nacionalidade palestina. Na verdade a proposta da OLP era um

estado laico na antiga Palestina britânica, e Israel vai ter que se tornar

isso em 100 anos. A natalidade dos não-judeus é maior do que a dos judeus

pois os primeiros são mais pobres, isto ocorre no mundo todo. E nos judeus

o crescimento maior é o dos judeus de origem árabe, os judeus orientais,

que também são mais pobres que os judeus europeus.

 

Deve ser doloroso para inúmeros judeus progressistas e democráticos verem

no que Israel se tornou. Concordo que Israel não fez genocídio em larga

escala como os nazistas mas aplica de forma controlada o terrorismo de

estado. Essa foi a estratégia do inglês Crommwel, que se denominava o

escolhido de Deus, ele conquistou a Irlanda no século XVII com um exército

pequeno, simplesmente matando todos os habitantes de duas aldéias, 3 mil

pessoas, e gerando tal terror que todas as aldeias e cidades se renderam a

ele. Duzentos e cinquenta anos depois os irlandeses recuperaram a

liberdade de uma colonização brutal, em que perderam todas as terras e os

direitos civis. Os ingleses tentaram então um estado de ampla maioria

protestante na Irlanda do Norte. Hoje, 80 anos depois, a população da

Irlanda do Norte está dividida meio a meio e os protestantes de lá também

foram obrigados pelo IRA e pela demografia a fazer a paz com os católicos.

 

Se Israel quer durar precisa aprender das experiências do Crommwell e do

"estado de maioria protestante", onde essa maioria se evaporou em menos de

um século. No Líbano, criado pelos franceses para ter maioria cristã essa

maioria também se evaporou em menos de um século. E quando se evapora,

precisa haver boa vontade entre as partes, como acabou acontecendo na

Irlanda do Norte, ou então se resolve na guerra civil, como no Líbano.

 

Torço para que Israel queira durar, pois muito da cultura mundial vem do

judaísmo, mas tudo indica o contrário. Não só a decisão de matar 100

árabes para cada judeu (a idéia nazista usual) como pelas declarações de

humor negro dos políticos israelenses de que estão matando os palestinos

porque gostam deles mostra que eles não consideram os palestinos como

humanos. A última invasão do Líbano foi considerada em Israel um grande

fiasco pois esta relação ficou em 10 para 1. Claro que um nacionalismo

fascista desse, inclusive elegendo Begin e Sharon, gera nacionalismos

fascistas de contrapartida, a história européia tem vários exemplos.

Israel está gerando diversos nacionalismos tão radicais quanto o dela,

perdeu 15 anos em que se recusou a implementar o acordo de Oslo, e agora

ela tem pouco tempo para fazer a paz e a autocrítica. E terá que fazer

isso com a presença cada vez mais intensa desses nacionalismos

intolerantes que gerou.

 

Só uma grande discordância com o Symon: o ultra-direitista Sharon não foi

eleito devido ao terrorismo palestino mas devido a um massacre de

palestinos em Jerusalem, em protesto contra a presença desse genocida na

parte árabe da cidade. Esse massacre levou a um protesto armado pois o

massacre não foi punido pelo governo. E não foi punido pois parte da

sociedade israelense aplaude matar árabes. Essa mesma sociedade depois

elegeu o Sharon, o que é bem condizente, mas muito preocupante.

 

Abraços

 

 

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