[forum-prof] primeiro mundo à brasileira
Lucia Q.
luciaq at superig.com.br
Sat Jul 3 15:51:58 BRT 2004
Colegas, Aloysio Campos da Paz é o fundador e diretor de vários grandes centros de ortopedia , a Rede Sara do Aparelho Locomotor, que atende gratuita e dignamente pobres e ricos de todo o Brasil e America Latina. É, ainda, um importante centro de pesquisas de ponta em algumas áreas - a neurologia é um centro de excelência para o qual vêm neurologistas e neurocientistas do primeiro mundo para estudar. Recentemente abriu uma unidade no Rio, em Mangaratiba, me parece, mas apenas de recuperação de lesões e fisioterapia. Vale a pena conhecer a Rede Sara.
Se há alguém que pode falar sobre serviço público gratis e de qualidade é ele. É, ainda, um exemplo de como uma instituição que deu e continua dando certo pode sair da administração federal direta (M. da Saúde) e manter a qualidade e ainda melhorar e se expandir em um regime jurídico diferente - não sei se fundação ou outra coisa. É o primeiro mundo à brasileira, como deve ser.
Lucia Quental
O GLOBO
Rio, 03 de julho de 2004 Versão impressa
A classe média precisa pressionar
ALOYSIO CAMPOS DA PAZ JÚNIOR
Nos serviços púbicos, antes prestigiados e competentes em função do mecanismo de cobrança dos formadores de opinião, implantou-se o desprezo, o descaso e a total falta de respeito humano. Quando muito, em uma situação de emergência, pelo hábito há muito arraigado do "cabide de empregos", o atendimento dado em corredores sujos e cheios de maca no caso dos hospitais, ou em filas quilométricas para pensionistas e aposentados, tem-se a efêmera possibilidade de ser assunto secundário na mídia. E tudo fica como antes. Encontra-se afinal uma justificativa para o aviltamento salarial.
Mas agora novidades! Temos, pela onda de modernidade que bastardamente copiamos, grandes melhorias. Podemos contratar polícia, ter planos de saúde que prometem e não cumprem e escolas privadas que recebem subsídios. Ensino elementar para todos? Ora, não seja antiquado, isto é coisa do tempo das normalistas... Assim, hospital e escola pública para pobre; seguro-saúde e mensalidades cada vez mais escorchantes para a classe média; clínica particular ou exterior para rico...
Este é o modelo perverso que se consolidou em nosso país e que floresce devido à implosão deliberada, porquanto pautada por ideologia, do Estado brasileiro.
Implosão ampliada pelos sucessivos conflitos na relação de trabalho no setor público resultante de um corporativismo intencional. Intencional? Sim, porque enquanto o setor público pára, o setor privado funciona; com o mesmo pessoal! Afinal, não estamos no país do cabide? E a classe média, sem perceber, abdica dia a dia, mês a mês, ano a ano, de um direito inalienável qual seria o retorno em serviços pelo Estado, do imposto que cada um paga. E, lentamente, a decadência física e moral das instituições se acentua.
Deliberadamente, confunde-se setor de serviços (dever do Estado) com setor produtivo (busca do lucro). Passamos da condição de "sujeito" à de objeto de consumo. O Estado brasileiro paga a conta sem discutir, sem diferenciar custo de preço, enchendo os bolsos dos que pensam e agem "modernamente". Afinal, no mundo de George Bush, quem não lucra é no mínimo idiota. Merece mesmo é ser enganado.
Vivo numa instituição (Rede Sarah) que sobrevive pelo rigor ideológico que gera competência, e em meu cotidiano constato a total abdicação pela classe média e os mais privilegiados do elementar direito de cidadania. E o diálogo abaixo invade meu cotidiano:
- Doutor, antes de tudo, desculpe-me por estar aqui ocupando o lugar de um pobre...
Ao que respondo, antes perplexo hoje entediado:
- O senhor não paga impostos? Pois são eles que, através do Orçamento da União, permitem o cotidiano desta instituição!
Depois de ter sido expropriada do direito aos serviços públicos prestados pelo Estado (no mínimo saúde, educação e segurança), a classe média brasileira ainda pede desculpas quando, cheia de constrangimento, tem alguma oportunidade de acesso aos serviços que pertencem àqueles que, pagando impostos, viabilizam o pagamento de salários, de equipamentos e a manutenção dos investimentos.
Com seu padrão de exigência, seu olhar crítico e sua capacidade formadora de opinião, a pressão da classe média por melhores serviços públicos, levaria, no tempo, a um resgate da qualidade perdida. Um atalho para "nivelar por cima", em seu favor e no de toda a população.
Ainda é possível reverter a inacreditável "parceria" caracterizada pela "complementaridade" que surgiu do conluio na discussão da Constituição de 88. "Parceria" em estradas ou represas ainda vai, mas em saúde, educação e segurança se torna solução espúria resultante da terceirização da obrigação maior do Estado: prestar serviços.
ALOYSIO CAMPOS DA PAZ JÚNIOR é fundador e cirurgião-chefe da rede Sarah de Hospitais de Reabilitação.
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