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<DIV><FONT face=Arial>Colegas, Aloysio Campos da Paz é o fundador e diretor
de vários grandes centros de ortopedia , a Rede Sara do Aparelho Locomotor,
que atende gratuita e dignamente pobres e ricos de todo o Brasil e America
Latina. É, ainda, um importante centro de pesquisas de ponta em algumas
áreas - a neurologia é um centro de excelência para o qual vêm
neurologistas e neurocientistas do primeiro mundo para estudar. Recentemente
abriu uma unidade no Rio, em Mangaratiba, me parece, mas apenas de recuperação
de lesões e fisioterapia. Vale a pena conhecer a Rede Sara.</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial>Se há alguém que pode falar sobre serviço público gratis e
de qualidade é ele. É, ainda, um exemplo de como uma instituição que deu e
continua dando certo pode sair da administração federal direta (M. da Saúde) e
manter a qualidade e ainda melhorar e se expandir em um regime jurídico
diferente - não sei se fundação ou outra coisa. É o primeiro mundo à brasileira,
como deve ser.</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial>Lucia Quental</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2><FONT size=2>O GLOBO</FONT></DIV>
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<TD class=data height=23>Rio, 03 de julho de 2004 </TD>
<TD class=data align=right height=23><B>Versão impressa</B></TD></TR>
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<TD colSpan=2><FONT size=2></FONT></TD></TR></TBODY></TABLE></DIV>
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<TD><!--inicio_materia--><FONT class=materia>A classe média precisa
pressionar<BR><IMG height=3
src="http://oglobo.globo.com/online/img/1x1.gif" width=1
border=0><BR></FONT><EM>ALOYSIO CAMPOS DA PAZ JÚNIOR</EM><BR><BR>Nos
serviços púbicos, antes prestigiados e competentes em função do mecanismo
de cobrança dos formadores de opinião, implantou-se o desprezo, o descaso
e a total falta de respeito humano. Quando muito, em uma situação de
emergência, pelo hábito há muito arraigado do “cabide de empregos”, o
atendimento dado em corredores sujos e cheios de maca no caso dos
hospitais, ou em filas quilométricas para pensionistas e aposentados,
tem-se a efêmera possibilidade de ser assunto secundário na mídia. E tudo
fica como antes. Encontra-se afinal uma justificativa para o aviltamento
salarial. <BR><BR>Mas agora novidades! Temos, pela onda de modernidade que
bastardamente copiamos, grandes melhorias. Podemos contratar polícia, ter
planos de saúde que prometem e não cumprem e escolas privadas que recebem
subsídios. Ensino elementar para todos? Ora, não seja antiquado, isto é
coisa do tempo das normalistas... Assim, hospital e escola pública para
pobre; seguro-saúde e mensalidades cada vez mais escorchantes para a
classe média; clínica particular ou exterior para rico... <BR><BR>Este é o
modelo perverso que se consolidou em nosso país e que floresce devido à
implosão deliberada, porquanto pautada por ideologia, do Estado
brasileiro. <BR><BR>Implosão ampliada pelos sucessivos conflitos na
relação de trabalho no setor público resultante de um corporativismo
intencional. Intencional? Sim, porque enquanto o setor público pára, o
setor privado funciona; com o mesmo pessoal! Afinal, não estamos no país
do cabide? E a classe média, sem perceber, abdica dia a dia, mês a mês,
ano a ano, de um direito inalienável qual seria o retorno em serviços pelo
Estado, do imposto que cada um paga. E, lentamente, a decadência física e
moral das instituições se acentua. <BR><BR>Deliberadamente, confunde-se
setor de serviços (dever do Estado) com setor produtivo (busca do lucro).
Passamos da condição de “sujeito” à de objeto de consumo. O Estado
brasileiro paga a conta sem discutir, sem diferenciar custo de preço,
enchendo os bolsos dos que pensam e agem “modernamente”. Afinal, no mundo
de George Bush, quem não lucra é no mínimo idiota. Merece mesmo é ser
enganado. <BR><BR>Vivo numa instituição (Rede Sarah) que sobrevive pelo
rigor ideológico que gera competência, e em meu cotidiano constato a total
abdicação pela classe média e os mais privilegiados do elementar direito
de cidadania. E o diálogo abaixo invade meu cotidiano: <BR><BR>— Doutor,
antes de tudo, desculpe-me por estar aqui ocupando o lugar de um pobre...
<BR><BR>Ao que respondo, antes perplexo hoje entediado: <BR><BR>— O senhor
não paga impostos? Pois são eles que, através do Orçamento da União,
permitem o cotidiano desta instituição! <BR><BR>Depois de ter sido
expropriada do direito aos serviços públicos prestados pelo Estado (no
mínimo saúde, educação e segurança), a classe média brasileira ainda pede
desculpas quando, cheia de constrangimento, tem alguma oportunidade de
acesso aos serviços que pertencem àqueles que, pagando impostos,
viabilizam o pagamento de salários, de equipamentos e a manutenção dos
investimentos. <BR><BR>Com seu padrão de exigência, seu olhar crítico e
sua capacidade formadora de opinião, a pressão da classe média por
melhores serviços públicos, levaria, no tempo, a um resgate da qualidade
perdida. Um atalho para “nivelar por cima”, em seu favor e no de toda a
população. <BR><BR>Ainda é possível reverter a inacreditável “parceria”
caracterizada pela “complementaridade” que surgiu do conluio na discussão
da Constituição de 88. “Parceria” em estradas ou represas ainda vai, mas
em saúde, educação e segurança se torna solução espúria resultante da
terceirização da obrigação maior do Estado: prestar serviços.
<BR><EM>ALOYSIO CAMPOS DA PAZ JÚNIOR é fundador e cirurgião-chefe da rede
Sarah de Hospitais de
Reabilitação.</EM></TD></TR></TBODY></TABLE></DIV></FONT></BODY></HTML>