[forum-prof] L.I.X.O... publicações e patentes
Abraham Zakon
azakon2 at globo.com
Mon Jan 11 22:11:28 BRST 2010
Leandro:
Agradeço pela leitura de mais uma de suas análises bem fundamentadas e
esclarecedoras.
Essa discussão sobre LIXO (muito bem lançada e abordada) complementa o que
tem sido dito de várias maneiras nesse Forum:
1o - substituiram os catedráticos educadores por doutores publicadores;
2o - cada PhDeus quer seu espaço laboratorial ou de consultoria para obter
maior remuneração mensal e prestígio estatístico ou científico;
3o - o número de laboratórios de ensino para graduandos é menor que o
correspondente para pesquisas experimentais ou computacionais.
4o - cada um por si e...
Há uns 30 anos, o Prof. Catedrático Bernardo Mascarenhas da Escola de
Química leu num congresso de engenharia química os títulos de algumas teses
de mestrado e motivou boas gargalhadas na platéia formada de profissionais
atuantes nas empresas...
Na última década, o Prof. Catedrático Kurt Politzer da Escola de Química
apresentou num evento do Conselho Regional de Química os dados sobre a
baixíssima produção de patentes no Brasil e o cenário deve continuar sendo o
mesmo.
O dramático nesse antagonismo acadêmico (publicar teses de PG ou elaborar
pedidos de patentes) é que as universidades deixam aos inventores o encargo
de procurar clientes para adquirir as patentes e... as nossas caem
rapidamente em domínio público, porque é caro pagar as taxas no Brasil e
revalidar para o exterior e não temos verbas para sua manutenção.
AZ
_____
De: forum-prof-bounces at if.ufrj.br [mailto:forum-prof-bounces at if.ufrj.br] Em
nome de leandrofilho at uol.com.br
Enviada em: segunda-feira, 11 de janeiro de 2010 21:15
Para: Luiz Eduardo email
Cc: FORUM-prof at listas.if.ufrj.br
Assunto: Re: [forum-prof] L.I.X.O... in-recicláv el & CHICOTE inócuo...
Prezados,
Penso que boa parte do mal-estar na avaliação do desempenho acadêmico,
resulte do emprego da palavra "produtividade" e de sua inevitável associação
com os códigos do economicismo capitalista.
Como o trabalho docente jamais se prestou à tangibilidade típica do modo de
produção capitalista, não sendo sequer "produtivo" do ponto de vista
econômico, determinar parâmetros para uma avaliação justificadora da
remuneração dos professores, o ítem mais dispendioso de qualquer sistema
educacional (mesmo quando são mal pagos), constitui a tarefa mais difícil e
quase sempre inglória da maioria dos gestores de educação.
E como o que se pretende sempre é o ajuste dessa avaliação aos dogmas da
economia capitalista, quase sempre os principais parâmetros de produtividade
remetem à redução de carga horária dos cursos (é preciso aligeirar a
formação!),com aumento acentuado da carga horária docente
(professor-horista) ao aumento da relação professor-aluno (tem ex-Reitor que
não vê problemas se for de 1:300 ou superior) e no caso mais especifico e
hegemônico entre os professores universitários, a massiva publicação de
artigos.
Nesse último ítem, são abundantes os relatos de publicadores tão
"produtivos", que a impressão é de que os numerosos artigos tão febrilmente
elaborados, podem ter sido na verdade... psicografados.
A questão maior, é que enquanto a menoridade acadêmica continuar grassando
no ensino superior, mais capitalista tenderá a ser a avaliação dos docentes
universitários, os quais serão ainda submetidos, cada vez mais, aos
esquemas "meritocráticos" de diferenciação salarial por meio de bolsas ou
outras formas de estímulo pecuniário, outra grande tradição herdada do
capitalismo industrial.
E não é nada fácil superar esse estado de coisas, exatamente porque o
capitalismo é o sistema-mundo vigente, como lembra Wallerstein, além do fato
de que os docentes universitários em quase todo o mundo, abraçam serenamente
a tese da naturalização da produtividade acadêmica.
Donde tendem em sua maioria, a acatar como igualmente natural, a
competitividade sem exclusão de golpes, incluindo publicações por vezes
fraudulentas, além de atos de explícito vampirismo intelectual, numa espécie
de conformidade com uma variante do darwinismo que jamais foi endossada por
Darwin, mas apenas por alguns dos seus mais equivocados intérpretes, como
Spencer e Weber.
Com efeito, até Marx andou escrevendo umas boas bobagens sobre Darwin, tendo
sido por sinal, categoricamente desautorizado pelo próprio naturalista
inglês.
Assim sendo, diante dessas consideráveis dificuldades, já seria de bom
tamanho se os professores principiassem pela rejeição gradual dessa infame
expressão "produtividade acadêmica", a qual somente lhes minora e falseia a
função social, já que o trabalho docente não é por natureza produtivo,
empregando ao invés disso, o termo proficuidade acadêmica ou proficuidade
intelectual.
Sem embargo, proficuidade é uma palavra que tem mais a ver com proficiência,
maestria, capacidade apurada e com atividades que resultam em efeitos
proveitosos, sendo portanto mais próxima da elaboração intelectual maior, o
que se espera enfim como resultante da prática laboral dos docentes
universitários.
Além disso. proficuidade tem mais a ver com legado, do que com
produtividade.
Pensado nessas expressões, será que Kant, Einstein ou Heinsenberg, devem ser
mais bem lembrados como "produtivos" ou como profícuos?
Não sei quanto a vocês, mas de minha parte, nem mesmo o fato de eles nos
terem legado inúmeros textos ou trabalhos de caráter acadêmico, serve para
considerá-los como simplesmente "produtivos".
Penso que para muito além dessa estreita visão, eles estiveram, isso sim,
entre os mais profícuos e prolíficos acadêmicos de todos os tempos.
E só isso já nos deveria levar a entender, que "avaliar produtividade" de
professor, principalmente a partir de códigos ou esquemas típicos do
economicismo capitalista, é antes de tudo um grosseiro equívoco em qualquer
instância da gestão educacional.
Abraços,
Leandro
Atenciosamente,
Leandro Nogueira
Doutor em Educação Física
Coordenador do Curso de Graduação em Educação Física
EEFD-UFRJ
Em 11/01/2010 19:27, Luiz Eduardo email < luizeduardo.email at yahoo.com.br >
escreveu:
At 17:22 11/1/2010 -0200, you wrote:
Essa estoria já fez aniversário. Ver por ex. (novembro 2008)
http://scholarlykitchen.sspnet.org/2008/11/25/elsevier-math-editor-controver
sy/
e, como comentário correto sobre o tema (final do artigo):
''The problem is not that he published 5 articles in his own journal.
The problem is that hes published over 300 articles
<http://www.scirus.com/srsapp/search?q=%28au%3AEl+AND+au%3ANaschie%29&t=all&
sort=0&g=s> in his own journal since 1993. ''
Agora, por curiosidade, qto de fato é relevante e ''honesto'' em suas
publicacoes?
Afinal, conheci um gajo produtivo que tambem simulava publicacoes,
que eram de fato resumos ( para ''fazer numero'', para
dar ''mais peso ao seu nicho'' - argumentos dados sem o menor pudor)
O que leva uma pessoa produtiva a falsificar descaradamente quando isso,
de fato, nao é necessario?
Esse é um tema interessante, digno de artigo. Alias, como será que
evoluiram essas taticas na historia da ciencia e as respectivas
estatísticas?
O que é desonesto não é publicar ou não publicar no proprio jornal.
Desonesto é impor as publicações como único e opressor indicador de produção
e produtividade.
Se os concursos públicos fossem feitos com inteligencia e honestidade...
Se o ingresso no quadro de professores fosse por critérios inteligentes e
honestos...
Se quem entrasse aqui fosse...
DE VERDADE...
professor...
pesquisador...
intelectual...
ora, não precisaria AVALIAR PRODUTIVIDADE NENHUMA.
E, ao impor tais indicadores... estamos fazendo o quê ?
Ora... estamos querendo inventar chicotes pra fazer intelectual pensar...
pra fazer cientista publicar...
ORA...
ESSE CHICOTE SÓ FUNCIONA EM CIMA DE QUEM É O OBRIGADO A FAZER O QUE NÃO
SABE, O QUE NÃO QUER, O QUE N ÃO PODE.
E então...
dá nisso aí...
UM MEDIOCRE INSTRUMENTO DE ESTÍMULO À PRODUTIVIDADE DE MEDIOCRES.
Por favor...
L.E.
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