[forum-prof] L.I.X.O.

Lilia Irmeli lilia at astro.ufrj.br
Mon Jan 11 17:22:52 BRST 2010


Essa estoria já fez aniversário. Ver por ex. (novembro 2008)

http://scholarlykitchen.sspnet.org/2008/11/25/elsevier-math-editor-controversy/

e, como comentário correto sobre o tema (final do artigo):

''The problem is not that he published 5 articles in his own journal.
The problem is that he’s published over 300
articles<http://www.scirus.com/srsapp/search?q=%28au%3AEl+AND+au%3ANaschie%29&t=all&sort=0&g=s>in
his own journal since 1993. ''

Agora, por curiosidade, qto de fato é relevante e ''honesto'' em suas
publicacoes?

Afinal, conheci um gajo produtivo que tambem simulava publicacoes,
que eram de fato resumos ( para ''fazer numero'', para
dar ''mais peso ao seu nicho'' - argumentos dados sem o menor pudor)

O que leva uma pessoa produtiva a falsificar descaradamente quando isso,
de fato, nao é necessario?

Esse é um tema interessante, digno de artigo. Alias, como será que
evoluiram essas taticas na historia da ciencia e as respectivas
estatísticas?

2010/1/11 amdf <amdf at scire.coppe.ufrj.br>

>  *
> *Folha de São Paulo, 03 de janeiro de 2010
> *+Marcelo Leite*
> *L.I.X.O.
> **Físico egípcio descobre como pôr a estatística a serviço de si mesmo*
> **
> Falta ao Brasil um cientista tão empreendedor quanto Mohamed El Naschie. O
> físico egípcio, que se apresenta como conselheiro do Ministério de Ciência e
> Tecnologia de seu país, embora more no Reino Unido, fez uma descoberta
> sensacional: como pôr a estatística a serviço do homem comum (no caso, ele
> mesmo). Por ora, sua descoberta só foi aplicada num campo específico da
> matemática aplicada, a cienciometria, disciplina estatística que emprega
> métodos quantitativos confiáveis para medir a produtividade de cada
> instituição de pesquisa, periódico científico ou cientista individual. Até
> agora ela só fazia a fortuna de conglomerados de informação, como a empresa
> Thomson Reuters-ISI.
> Se fosse brasileiro, El Naschie teria um currículo Lattes de cair o queixo.
> Produziu quatro centenas de artigos publicados em periódicos especializados
> acompanhados (indexados) pela ISI Web of Science, uma base de dados da
> Thomson Reuters que permite esmiuçar a vida acadêmica de qualquer
> pesquisador expressivo. Seus trabalhos já foram citados umas 5.000 vezes,
> indicador forte do impacto que os estudos tiveram na comunidade científica
> internacional.
> El Naschie fundou e editou durante anos o periódico "Chaos, Solitons and
> Fractals" (CSF). Entre as 65 publicações da categoria Aplicações
> Interdisciplinares de Matemática classificadas pela Thomson-Reuters, "CSF"
> ocupava a segunda posição em 2007. Há alguns problemas com a produção do
> egípcio, no entanto. Nos últimos anos, seus adversários se deram conta de
> que mais de 300 dos 400 artigos publicados por El Naschie o foram no próprio
> "CSF" por ele editado. A denúncia está na edição de dezembro do boletim
> "Siam News", da Sociedade de Matemática Industrial e Aplicada, com sede em
> Filadélfia (EUA).
> Há mais. Das 4.992 citações obtidas pelo físico, cerca de 2.000 são de
> trabalhos editados no mesmo "CSF", boa parte deles de autoria do próprio El
> Naschie. A autocitação é um expediente comum em ciência, mas em geral
> condenado como uma forma artificial e antiética de melhorar as próprias
> estatísticas de produtividade. Acha pouco? Fique sabendo então que El
> Naschie tem estreita colaboração com Ji-Huan He, da Universidade Donghua de
> Xangai. He, que também atua como editor do "CSF", fundou em 2000 o periódico
> "International Journal of Nonlinear Science and Numerical Simulation"
> (IJNSNS). O "IJNSNS" tem em seu corpo de editores, claro, o colega egípcio.
> Nesta altura o leitor perspicaz já terá adivinhado que He e El Naschie
> publicam copiosamente nos periódicos um do outro. Também abundam as trocas
> de citações, uma colaboração científica de resultados inquestionáveis.
> He e o "IJNSNS" patrocinaram uma reunião científica na Universidade
> Donghua, lê-se no "Siam News". Os anais do encontro foram publicados no
> periódico "Journal of Physics: Conference Series" (JPCS), que não se
> responsabiliza pela verificação ("peer review") da qualidade dos trabalhos.
> A reunião de He na Donghua ocupou um volume inteiro do JPCS, em 2008, com
> 221 artigos. Neles se encontram 366 citações a outros artigos do "IJNSNS" e
> 353 referências a He.
> Alguém devia abrir um Laboratório Interdisciplinar de Xenotransplantes e
> Ozonoterapia no Brasil. Ou, quem sabe, obter financiamento público para
> editar um periódico intitulado "Brazilian Library of Advanced Biotechnology,
> Laboratory Agrosciences and Biomolecular Low-cost Analysis". Fariam o maior
> sucesso -bastando não usar as siglas na publicação dos milhares de estudos
> que produzirão.
>
>
> Folha de São Paulo, 10 de janeiro de 2010
> *+Marcelo Leite*
> *Fenômeno editorial *
> *Não é a primeira vez que a Elsevier se enrola com denúncias de falhas*
>
> O verdadeiro fenômeno da blogosfera não são os próprios blogs, mas os
> comentários que os leitores deixam neles. É cada uma...
> A coluna da semana passada, "L.I.X.O.", sobre a portentosa produtividade do
> egípcio Mohamed El Naschie, teve trechos reproduzidos no blog Ciência em
> Dia. Apenas o suficiente para dar uma ideia da controvérsia sobre centenas
> de artigos e milhares de citações do pesquisador, boa parte no periódico de
> matemática aplicada editado por ele mesmo, "Chaos, Solitons and Fractals"
> (CSF).
> E não é que houve gente saindo em sua defesa? Em lugar de ponderar as
> informações objetivas publicadas sobre as práticas de El Naschie, um leitor
> encontrou na blogosfera -e comprou por seu valor de face (zero)- uma teoria
> conspiratória: o egípcio seria vítima de pessoas acusadas de plagiar artigos
> do próprio El Naschie.
> De fato existiu uma acusação de plágio, envolvendo artigo na revista de
> divulgação científica "Scientific American". É um rolo longo demais para
> desenrolar aqui. Além disso, em nada afeta os prodígios editoriais de El
> Naschie à frente do periódico "CSF".
> Importa é saber que a casa editora de "CSF", o famoso conglomerado holandês
> Elsevier, desembarcou El Naschie. Decerto identificou coisas estranhas no
> periódico por ele fundado, mas do qual "se aposentou", segundo informa
> laconicamente a companhia.
> A economia de palavras pela Elsevier faz suspeitar que tenha sido
> processada por El Naschie. Assim ocorreu com a revista britânica "Nature" e
> o jornal alemão "Die Zeit", que relataram o milagre da multiplicação das
> citações ("CSF" tem um fator de impacto 3, ou seja, em média cada artigo seu
> termina citado três vezes por outros trabalhos, um índice muito bom).
> A empresa não encontrou ainda um novo editor para "CSF". Suspendeu
> temporariamente a recepção de novos artigos para "peer review" (auditoria de
> qualidade por outros pesquisadores que é tradição em publicações
> científicas). Apesar disso, a Elsevier continua cobrando 4.204 euros -mais
> de R$ 10 mil- da biblioteca que assinar a revista.
> Não se trata de crucificar a Elsevier, "uma comunidade global de 7.000
> editores de periódicos científicos, 70 mil membros de conselhos editoriais,
> 300 mil revisores e 600 mil autores" (como se apresenta na internet). Não
> deve mesmo ser fácil manter controle sobre 2.000 periódicos, entre eles
> muitos de renome inconteste, como "Cell" (fator de impacto 30).
> A Elsevier também se vangloria de promover o mecanismo de "peer review" por
> 125 anos. Ora, tal sistema existe justamente para garantir a qualidade e a
> honestidade das pesquisas publicadas. Basta um "CSF" para deixar sob
> suspeita todo o acervo, assim como uma laranja podre pode pôr a caixa
> inteira a perder.
> Não é a primeira vez que a editora se vê enrolada em denúncias de falhas
> graves no controle de qualidade. Em maio passado, a Elsevier reconheceu em
> nota que sua filial australiana havia publicado nada menos que seis
> periódicos científicos falsos, todos com títulos começando por "Australasian
> Journal of...".
> Em realidade, eram compilações de artigos não inéditos patrocinadas pela
> empresa farmacêutica Merck (não por coincidência, favoráveis a produtos
> seus). O patrocínio não vinha explicitado nas publicações, editadas com
> aparência de periódicos médicos de verdade.
> Um leitor mais afoito de blogs poderia concluir dos dois casos que a
> Elsevier faz parte de um complô para pôr sob suspeita toda a literatura
> científica. Para variar, estaria errado.
>
>
>
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