RESAZ: [forum-prof] Proifes, Gaza, Lattes e Mediocridade
Abraham Zakon
azakon2 at globo.com
Mon Jan 19 17:48:36 BRST 2009
O artigo mostra que muita gente pensa ser a universidade melhor do que suas
aparências sugerem.
Quando um judeu menciona essas coisas, os medíocres e corruptos dizem que é
mania de persiguição.
Quando um não-judeu reclama, dizem que é maluco.
Se for negro, dizem coisas piores.
Quando alguém insiste em protestar, criam uma comissão de sindicância para
puni-lo.
AZ
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De: forum-prof-bounces at if.ufrj.br [mailto:forum-prof-bounces at if.ufrj.br] Em
nome de LuizEduardo2
Enviada em: segunda-feira, 19 de janeiro de 2009 17:35
Para: FORUM-prof at listas.if.ufrj.br
Assunto: [forum-prof] Proifes, Gaza, Lattes e Mediocridade
19 de janeiro de 2009
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[] <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/images/ilubar.gif>
LUIZ FELIPE PONDÉ
A luz
Um ético de plantão faz pose de indignação sem colocar em prática boas
condutas em seu quintal
UMA LEITORA pergunta: "O que é um ético de plantão?". O repúdio de algumas
universidades brasileiras ao bombardeio da universidade de Gaza é um
exemplo. Afora o fato de que não sabemos se o reitor ou o Exército mentiu (a
rápida opinião de que prédios civis não sejam bases militares em Gaza já
evidencia o amadorismo da discussão), o que chama a atenção é a rapidez com
que os acadêmicos (minha tribo) se dispõem ao repúdio.
Intelectuais e artistas deveriam ser mais cuidadosos quando se fazem
bastiões da ética, pois o mundo da arte e da cultura é marcado por toda
forma de abuso de poder e vícios corporativos. Um ético de plantão faz poses
de indignação sem nenhuma prática ética em seu quintal. A pose de indignação
virou ferramenta do marketing. Claro que a vida real se dá em meio a um
equilíbrio sutil de vício e virtude. Só que nosso ético de plantão negará
isso, vendendo uma pose de quem vive fora desse mar cinzento.
Neste verão, confesso, estou assombrado pelos fantasmas machadianos:
"Suporta-se bem a cólica alheia", diria Brás Cubas sobre esses plantonistas.
A causa dessas assombrações é a longa exposição ao silêncio do campo
desabitado e a escuridão. Aqui, tempestades nos deixam na escuridão pré-luz
elétrica, e temos uma por dia. Fatos como esses nos devolvem às nossas
origens: a luz elétrica é um dos bastiões da civilização contra as trevas.
Acredito mais na luz da CPFL do que na do Iluminismo.
Voltemos à minha tribo. Muita gente boa (Carpeaux, Paulo Francis, Ortega y
Gasset, Nisbet, Oakeshott) já falou sobre essa nova classe média produzida
pela indústria universitária: engenheiros, médicos, cientistas, sociólogos,
filósofos profissionais que entendem muito de uma coisa apenas, mas que têm
opiniões fáceis sobre todo o resto. Nada mais bárbaro do que "o"
especialista.
Esse bárbaro, a partir de seu pequeno diploma, emite juízos sobre, digamos,
se devemos ou não colonizar a Lua, partindo de suas minúsculas manias que
não se sabem manias. Confesso: também tenho as minhas. Exemplos? Creio que
somos motivados mais por paixões ordinárias do que por grandes ideias, penso
que mentimos a maior parte do tempo, principalmente quando falamos em nome
do "bem coletivo", confio mais em quem se crê mal do que em quem se crê a
favor do bem, tenho medo de que o medo seja mais essencial do que o amor e
de que, na ausência de luz elétrica, nossas almas penadas nos visitem.
Por volta do século 13, os monastérios perderam o lugar de bastiões do
conhecimento para as então recém-fundadas universidades. Temo que, assim
como os monastérios medievais viraram poços de vícios e bandidagem, nossas
universidades também sucumbam ao peso da mediocridade e do mau-caratismo. Lá
em nome do imaginário do inferno, sei lá, cá em nome da miséria burocrática
e da "produtividade".
Cara leitora, veja como agem muitos dos éticos de plantão da minha tribo, os
mesmos que choram pela universidade em Gaza. Eles não se deteriam diante do
aniquilamento de colegas unicamente porque discordam deles. Usariam o poder
institucional para negar verbas de pesquisa a seus "inimigos", motivados por
conflitos de interesses bem mais mesquinhos do que o conflito de Gaza. O
discurso "do coletivo" na universidade quase sempre serve mais à ditadura da
igualdade miserável do que à liberdade da diferença que faz diferença: a
competência. Lobbies políticos destroem carreiras promissoras sorrindo pelos
corredores.
Mas existem dramas gerados pela própria estrutura industrial do "produto
científico", diria Adorno. O discurso da produtividade, sua quantificação e
burocracia matam o cotidiano acadêmico. Reuniões intermináveis são gastas
garantindo que não teremos tempo para nada de relevante. A solução é
"produzir mais produtividade". Assim, os burocratas da produtividade prestam
serviço à mais vil preguiça intelectual.
Milhares de artigos que não serão lidos são publicados em centenas de
revistas que não serão tampouco lidas. Um mar de "objetividade irrelevante".
Mas isso tudo ocupa tempo, gera pontuações e dá emprego ao banal. O que
ganhamos com isso? A garantia de que a maior parte de nós estará ocupada com
a burocracia da produtividade.
Mas por que aceitamos esse desfile de mediocridade organizada? Simples, cara
leitora: porque a mediocridade, como uma boa mãe, cuida do futuro dos seus
filhos.
luiz.ponde at grupofolha.com.br
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