RESAZ: [forum-prof] recomendo Ali Kamel

Jose Henrique Erthal Sanglard sanglard at peno.coppe.ufrj.br
Wed Jan 14 15:58:04 BRST 2009


Zakon
   Acho inteiramente inútil e inviável a gente querer achar mocinhos de 
um lado e só bandidos do outro nesta guerra estúpida. Ambos os lados 
estão errados, profundamente errados. E o pior de tudo é que as 
ações recentes de Israel me lembram o final do famoso livro de 
Orwell. Não consigo hoje, sinceramente, distinguir as milícias judias, 
supostamente humanas, dos porcos terroristas árabes.
    Parece estar claro que Israel está cometendo crimes de guerra 
(sem cobertura da imprensa, uso de armas químicas e proibidas - 
bombas de fósforo, p. ex.) se igualando cada vez mais aos terroristas 
árabes que pretende combater. E os árabes continuam suas ações 
terroristas. Talvez isso só alimente ações ainda mais insanas no 
futuro. Ou estamos pensando em genocídio e extermínio?
    E tudo isso parece estar de acordo com as famosas frases de Golda 
Meir(?), que dizia que podia perdoar os árabes por materem crianças 
israelenses, mas não por eles obrigarem (sic) Israel a matar as 
crianças árabes em resposta aos ataques terorristas. Isto é uma visão 
absolutamente lamentável, na minha opinião, até porque justifica o 
ataque a civis, crimes de guerra e, mais além, criminaliza e 
responsabiliza os próprios árabes pelas ações igualmente nefastas de 
Israel. Parece aquela história do estuprador que tenta incriminar a 
vítima, que teria se "oferecido" ou provocado seus instintos bestiais, 
para justificar suas ações.
    Sei que a situação não é simples, que os grupos árabes se 
misturam aos civis e talvez, seja pelo terror como pelo voluntarismo 
religioso fanático, controlem boa parte da população palestina. Mas 
por causa disso, por não haver alvos militares claros, Israel se dar ao 
direito de mandar todos para o inferno, tudo pelos ares ou matar a 
população civil à mingua, é outra história.
    Imaginem se, para eliminar os grupos de criminosos e de traficantes 
que infestam nossa cidade, as forças armadas entrassem nos morros 
e favelas atirando, matando e explodindo tudo o que virem pela frente. 
Guardadas as devidas proporções e difenrente contextos, acho que há 
fortes semelhanças em ambas as ações, que deveriam ser 
condenadas - ou não?
   Abraço
Sanglard
_______________________________________
On 13 Jan 2009 at 23:54, Abraham Zakon wrote:


Artigo na pág. de Opinião de O Globo -13/01/09
 
Gaza


Ali Kamel

Eu acredito em eleições. E acredito que o povo 
sempre tem a capacidade de julgar o que considera 
bom para si. Isso não quer dizer que o povo acerte 
sempre: não são poucas as vezes em que a decisão 
mostra-se errada no futuro. Não importa, no momento 
em que comparece às urnas, certo ou errado, o povo é 
responsável por suas escolhas. 


Por que essa conversa? Porque isso não me sai da 
mente quando vejo, chocado, os bombardeios em Gaza. 
Em 2006, houve eleições para escolha do primeiro-
ministro palestino. Era um contexto em que os EUA 
clamavam pela democratização do mundo árabe. Quando 
o Hamas saiu-se vitorioso, muita gente, diante dos 
lamentos dos americanos, riu, dizendo algo assim: 
"Ora, não queriam democracia? Agora o povo vota, 
escolhe o Hamas e os EUA lamentam? Então democracia 
só vale quando ganham os aliados?" Na época, escrevi 
que a simples presença do Hamas nas eleições 
mostrava que aquilo não era uma democracia: porque 
democracia não é o regime em que todas as tendências 
disputam o voto; democracia é o regime em que todas 
as tendências que aceitam a democracia disputam o 
voto. Como o Hamas prega uma teocracia, um sistema 
político que o aceita como legítimo aspirante ao 
poder não pode ser chamado de democracia. Seja como 
for, tendo sido democráticas ou não, aquelas 
eleições expressaram a vontade do povo: observadores 
internacionais atestaram que o pleito transcorreu 
sem fraudes. 


E o que pregava o Hamas na campanha de 2006? Antes, 
para entender o linguajar, é importante lembrar que 
o Hamas não aceita a existência do Estado de Israel, 
chamado de "Entidade Sionista". Assim, quando se 
refere à "Palestina", o Hamas engloba tudo, 
inclusive Israel. Destaco aqui três pontos do 
programa eleitoral (na disputa, o grupo deu-se o 
nome de "Mudança e Reforma"): "A Palestina é uma 
terra árabe e muçulmana"; "O povo palestino ainda 
está em processo de libertação nacional e tem o 
direito de usar todos os meios para alcançar esse 
objetivo, inclusive a luta armada"; "Entre outras 
coisas, nosso programa defende a 'Resistência' e o 
reforço de seu papel para resistir à Ocupação e 
alcançar a liberação. A 'Mudança e Reforma' vai 
também construir um cidadão palestino orgulhoso de 
sua religião, terra, liberdade e dignidade; e que, 
por elas, esteja pronto para o sacrifício." 

Deu para entender? O Hamas propôs um programa 
segundo o qual não há lugar para judeus na 
"Palestina", o uso da luta armada deve ser reforçado 
para se livrar deles, e os cidadãos comuns devem 
estar preparados para se sacrificar (morrer) pela 
religião, pela terra, pela liberdade e pela 
dignidade. 

Havia alternativa? Sim, apesar da ambiguidade 
eterna, o Fatah do presidente Mahmoud Abbas (e, 
antes, de Yasser Arafat), na mesma eleição, pregava 
a saída de Israel dos territórios ocupados em 1967, 
a criação de um Estado Palestino com sua capital em 
Jerusalém e uma solução para os refugiados de 1948 
com base em resoluções da ONU, uma agenda que só 
parece moderada porque é comparada à do Hamas. 
Embora estimulasse e declarasse legítima a 
resistência à ocupação, a novos assentamentos 
judaicos e à construção do muro de proteção que 
Israel ergue entre a Cisjordânia e seu território, o 
Fatah declarava expressamente: "Quando o imortal 
presidente Arafat anunciou em 1988 a decisão do 
Conselho Nacional Palestino, reunido naquele ano, de 
adotar a 'solução histórica', que se baseia no 
estabelecimento de um Estado independente Palestino 
lado a lado com Israel, ele estava de fato 
declarando que o povo palestino e suas lideranças 
tinham adotado a paz como uma opção estratégica." 

E qual foi a decisão dos palestinos? Num sistema 
eleitoral que adota o voto distrital misto, o Hamas 
ganhou tanto no voto proporcional quanto nos 
distritos, abocanhando 74 dos 132 assentos do 
Parlamento. Ou seja, diante do desgaste de 40 anos 
do Fatah, e das denúncias de corrupção que pairavam 
sobre o movimento, os palestinos deixaram a paz de 
lado e optaram pela promessa de pureza divina e dos 
foguetes do Hamas. Meses depois, uma luta interna 
feroz entre os dois grupos teve lugar e resultou 
numa divisão territorial: o Fatah ficou com a 
Cisjordânia, onde a situação é de calma, e o Hamas 
ficou com Gaza, de onde continuou pregando o 
programa aprovado pelos eleitores: enfrentamento 
armado, mesmo tendo consciência do que isso 
acarretaria, 

Diante disso, dá para dizer que os palestinos de 
Gaza são inocentes vítimas do jugo do Hamas e de uma 
reação desproporcional dos israelenses? 

Olha, eu deploro a guerra, lamento profundamente a 
morte de tanta gente, especialmente de crianças, 
vítimas de uma guerra de adultos. Vejo as bombas, e 
fico prostrado, temendo que o bom senso nunca 
chegue. Mas isso não me impede de ver que a guerra, 
com suas consequências, foi uma escolha consciente 
também dos palestinos de Gaza. Retratá-los como 
despossuídos de todo poder de influir em seus 
destinos não é mais uma verdade desde 2006. 

Parecerá sempre simplificação qualquer coisa que se 
diga num espaço tão curto, em que é preciso deixar 
de lado as raízes desse conflito e a trama tão 
complicada que distribuiu culpa e vítimas por todos 
os lados. Mas não consigo terminar este artigo sem 
dizer: para que haja paz, os dois lados têm de ceder 
em questões tidas como inegociáveis, o apelo às 
armas tem de ser abandonado, o Estado Palestino deve 
ser criado ao lado de Israel, cujo direito a existir 
não deve ser questionado. Se isso acontecer, muitos 
árabes e israelenses daquela região não se amarão, 
terão antipatias mútuas, mas viverão lado a lado. 

Utopia? 

ALI KAMEL é jornalista


-----Mensagem original-----
De: forum-prof-bounces at if.ufrj.br [mailto:forum-
prof-bounces at if.ufrj.br] Em nome de Lilia Irmeli
Enviada em: terça-feira, 13 de janeiro de 2009 17:24
Para: FORUM-prof at listas.if.ufrj.br
Assunto: [forum-prof] recomendo

texto de Fritz Utzeri   :
De Varsóvia a Gaza
07 de janeiro de 2009

http://www.socialismo.org.br/portal/internacional/38
-artigo/714-de-varsovia-a-gaza

_______________________________________________
forum-prof mailing list
forum-prof at listas.if.ufrj.br
http://webmail.if.ufrj.br/mailman/listinfo/forum-
prof
             Prof. José H. E. SANGLARD
        E-mail: sanglard at peno.coppe.ufrj.br
UFRJ: (55) (21) 2562-8735    Fax: (55) (21) 2562-8731
  Cell: (55) (21) 9631-4578  Home: (55) (21) 2208-0081





More information about the Forum-Prof mailing list