[forum-prof] Poemas aos Homens do nosso Tempo (Hilda Hilst)

Luiz Felipe Coelho coelho at if.ufrj.br
Wed Jan 14 18:15:31 BRST 2009


Prezados Sanglard, Zakon, Lilia, Stefanella, 
Ribas, Marcio e todos os demais amigos deste forum

O objetivo sempre deve ser somar as qualidades e 
não os defeitos,  isto vale para pessoas (nós 
neste forum, por exemplo) e para povos. Numa 
pequena região da Terra, envolvendo distâncias 
bem menores que Rio - São Paulo, há três países 
hoje (Chipre, Líbano e Israel) e diversos 
quase-países (a Palestina ocupada por Israel, a 
república turca de Chipre, os druzos, os 
maronitas, os xiitas e os sunitas no Líbano).

A soma das qualidades desses povos, respeitando 
as diversidades e os direitos humanos, faria 
dessa região a mais desenvolvida do Mediterrâneo 
Oriental. Lá é o berço da civilização, do 
alfabeto, das cidades, da agricultura e do 
monoteísmo, lá é um lugar sagrado para bilhões de 
pessoas. Lá poderá ser um paraíso da alta 
tecnologia industrial, de serviços bancários, de 
turismo e de agricultura com irrigação avançada. 
Essa região de minorias pode usar essa 
diversidade para ser um paraíso para ortodoxos, 
católicos, xiitas, sunitas, judeus, protestantes e ateus.

A soma dos defeitos desses povos - política 
infelizmente seguida com extrema tenacidade por 
Israel em seu território, na Palestina e no 
Líbano, jogando árabe contra árabe, e que é 
contrária a seus próprios interesses - destruirá 
a todos.  Lá poderá ser um inferno também, com 
todos os lados - árabes e israelenses - cada vez 
ignorando mais os Direitos Humanos. É a velha 
discussão de vou explodir a escola de tua filha 
pois você massacrou a aldeia de meus avós. Isso 
nada tem a ver quer com o Islam quer com o 
Judaísmo, isso é o horror do estabelecimento de 
estados homogêneos numa das regiões mais 
heterogêneas da Terra. Foi um erro da ONU 
levantar a tampa dessa caixa de Pandora, quando 
dividiu a Palestina em dois estados mais 
Jerusalém, uma proposta inviável e inaceitável 
para as duas comunidades. Agora isso tem que ser 
consertado ou essa região de minorias pode usar 
essa diversidade para viver em eternas guerra civis.

Com a palavra a poeta Hilda Hist.

Abraços
---
Poemas aos Homens do nosso Tempo (Hilda Hilst)

     Amada vida, minha morte demora.
     Dizer que coisa ao homem,
     Propor que viagem? Reis, ministros
     E todos vós, políticos,
     Que palavra além de ouro e treva
     Fica em vossos ouvidos?
     Além de vossa RAPACIDADE
     O que sabeis
     Da alma dos homens?
     Ouro, conquista, lucro, logro
     E os nossos ossos
     E o sangue das gentes
     E a vida dos homens
     Entre os vossos dentes.

     (II)


     * * *

     Lobos? São muitos.
     Mas tu podes ainda
     A palavra na língua

     Aquietá-los.

     Mortos? O mundo.
     Mas podes acordá-lo
     Sortilégio de vida
     Na palavra escrita.

     Lúcidos? São poucos.
     Mas se farão milhares
     Se à lucidez dos poucos
     Te juntares.

     Raros? Teus preclaros amigos.
     E tu mesmo, raro.
     Se nas coisas que digo
     Acreditares.

     (VIII)

      * * *

     Bombas limpas, disseram? E tu sorris
     E eu também. E já nos vemos mortos
     Um verniz sobre o corpo, limpos, estáticos,
     Mais mortos do que limpos, exato
     Nosso corpo de vidro, rígido
     À mercê dos teus atos, homem político.
     Bombas limpas sobre a carne antiga.
     Vitral esplendente e agudo sobre a tarde.
     E nós na tarde repensamos mudos
     A limpeza fatal sobre nossas cabeças
     E tua sábia eloqüência, homens-hienas

     Dirigentes do mundo.

     (XIV)

     * * *

     Ao teu encontro, Homem do meu tempo,
     E à espera de que tu prevaleças
     À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,
     Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
     E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
     Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa.
     As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei
     Minha própria rudeza e o difícil de antes,
     Aparências, o amor dilacerado dos homens
     Meu próprio amor que é o teu
     O mistério dos rios, da terra, da semente.
     Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu

     Compaixão e ternura e paz na Terra
     Se ainda encontrasse em ti, o que te deu.

     (IX)

     * * *

     Ávidos de ter, homens e mulheres caminham pelas ruas.
     As amigas sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer,
     Se debruçam banais, sobre as vitrines curvas.
     Uma pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas.
     Te pergunto: E a entranha?
     De ti mesma, de um poder que te foi dado
     Alguma coisa clara se fez? Ou porque tudo se perdeu
     É que procuras nas vitrines curvas, tu mesma,
     Possuída de sonho, tu mesma infinita, maga,
     Tua aventura de ser, tão esquecida?
     Por que não tentas esse poço de dentro
     O incomensurável, um passeio veemente pela vida?

     Teu outro rosto. Único. Primeiro. E encantada
     De ter teu rosto verdadeiro, desejarias nada.

     (XIII)

      * * *

     Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
     Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
     Dirás que sangue é o não teres teu ouro
     E o poeta te diz: compra o teu tempo.

     Contempla o teu viver que corre, escuta
     O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
     Enquanto faço o verso, tu que não me lês
     Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
     O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
     "Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
     Irmão do meu momento: quando eu morrer
     Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
     MORRE O AMOR DE UM POETA.
     E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
     E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto

     Não cabe no meu canto.

     (XVI)
     ===

     (Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - 
Poemas aos Homens do nosso Tempo)
     (Poesia: 1959 - 1979 - São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)





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