[Uniaberta] Re: [forum-prof] Gaza e UFRJ (porque a UFRJ não está mais presente nessas discussões ?)

[coelho at if.ufrj.br]

Já eu gostaria de que se discutisse na UFRJ o colonialismo e sua herança que
é a ordem internacional atual.

Tratada em conjunto a expansão imperial de uma meia dúzia de nações
européias pelo mundo matou muito mais do que Gengis Kã, ela está disparada
na frente da lista. Só as duas guerras mundiais e a escravidão, subprodutos
dessa expansão,  somadas já dão mais de 100 milhões. A Europa
subdesenvolveu as regiões onde não fez genocídio (intencional ou por
epidemias) e fez genocídio nas regiões que desenvolveu. Até a inofensiva
Bélgica matou milhões no Congo.

Hitler, tirando as excessões conhecidas dos genocídios do povo judeu e do povo
cigano, só tratou os europeus como os ingleses e os franceses tratavam os
africanos e asiáticos, como povos inferiores a serem roubados de terras,
forçados a trabalho gratuito e massacrados caso não obedecessem seus
senhores. E em sociedades pré-industriais roubar as terras era roubar tudo que
os povos conquistados tinham. Até na Europa os ingleses trataram os irlandeses
assim, roubando as suas terras e matando cerca de 1 milhão de pessoas de fome
na Grande Fome http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Irish_Famine, um quarto da
população, um percentual similar ao que o nazismo matou dos povos judeu e
cigano. Claro que tudo com os famosos "public inquiries" e com as
preocupações humanitárias sinceras de muitos ingleses.

Nem os campos de concentração foram inventados por Hitler, essa foi a
solução inglesa para acabar a guerra com os colonos descendentes dos
holandeses na África do Sul, encarcerando as mulheres e os filhos destes. Era
uma solução bastante humana para padrões coloniais, morreram só algumas
dezenas de milhares de encarcerados, e os "boer" se renderam para que suas
mulheres e filhos não morressem de fome e doenças correlatas. Foi eficiente.

As fronteiras arbitrárias dos atuais países criados pelos europeus (a grande
maioria hoje foi) são outra herança venenosa. Quantos não morreram na
América Latina e quantos não morrem na África devido a elas?

Essa autocrítica pelos europeus falta... São esses países que estão no
Conselho de Segurança da ONU: os três europeus, o neo-europeu Estados Unidos
e a China. Reformar este Conselho é acabar com a era colonial que durou 500
anos e que ainda nos envenena. Esse conselho é incapaz de lidar com crises que
envolvam esses países e todas, de algum jeito, os envolvem, da Cashemira à
Palestina, do Cáucaso russo ao Ceilão, de Chipre ao Afeganistão.

Quoting Lilia Irmeli <lilia at astro.ufrj.br>:

> talvez valesse discutir a diferença entre terrorismo e guerra 'oficial';
> talvez valesse descobrir se a taxa de mortandade diaria influencia
> a preemencia do interesse; talvez valesse (re) definir massacre,
> considerando tecnologias mais sofisticadas ;
>
> talvez valesse (re) estudar a capacidade de autodestruiçao na historia:
> (na altamente ilustrativa e exaustiva listagem de dados)
>
> http://users.erols.com/mwhite28/warstat0.htm
>
> Rank Death Toll Cause Centuries
>
> 1-	55 million Second World War 20C
>
> 2-	 40 million Mao Zedong (mostly famine) 20C
>
> 3-	 40 million Mongol Conquests 13C
>
> 4-	36 million An Lushan Revolt 8C
>
> 5-	25 million Fall of the Ming Dynasty 17C
>
> 6-	20 million Taiping Rebellion 19C
>
> 7-	20 million Annihilation of the American Indians 15C-19C
>
> 8-	20 million Iosif Stalin 20C
>
> 9-	19 million Mideast Slave Trade 7C-19C
>
> 10-	18 million Atlantic Slave Trade 15C-19C
>
> 11-	17 million Timur Lenk 14C-15C
>
> 12-	17 million British India (mostly famine) 19C
>
> 13-	15 million First World War 20C
>
> 14-	9 million Russian Civil War 20C
>
> 15-	8 million Fall of Rome 3C-5C
>
> 16-	8 million Congo Free State 19C-20C
>
> 17-	7 million Thirty Years War 17C
>
> 18-	 5 million Russia's Time of Troubles 16C-17C
>
> 19-	 4 million Napoleonic Wars 19C
>
> 20-	 3 million Chinese Civil War 20C
>
> 21-	 3 million French Wars of Religion 16C
>
>
> 2009/1/12 Luiz Felipe Coelho <coelho at if.ufrj.br>:
>> Concordo, Lilia e Luiz Eduardo, a questão é o que essa questão tem a ver com
>> a UFRJ. Me espanto como um evento tão traumático como o do ataque a Gaza e
>> como outros (por exemplo, a Europa Oriental congela sem o gás russo, quase
>> aconteceu uma guerra nuclear entre Índia e Paquistão e há a possibilidade de
>> mudanças na política esterna norte-americana) não suscitem propostas de
>> discussão na UFRJ.
>>
>> Afinal a UFRJ acabou de criar um curso de graduação em relações
>> internacionais exatamente porque  temos, como universidade, a diversidade de
>> competências para discutir esses e outros temas de política internacional. O
>> mais importante nunca são as respostas (cada um de nós as tem diferentes e
>> até veementemente diferentes) mas a capacidade de fazer perguntas, a
>> capacidade de ver semelhanças entre situações aparentemente diferentes e de
>> ver diferenças entre situações aparentemente semelhantes.
>> ...
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