[forum-prof] Colegas Cientistas e suas Maquinas Publicadoras

Prof. Luiz Eduardo luizeduardo at pharma.ufrj.br
Sat Jan 6 18:06:47 BRST 2007


Meus Colegas Cientistas e suas Maquinas Publicadoras

Em 1974, a UNICAMP contratava recem-graduados, 
sem concurso, e de imediato já os enviava para 
fazer mestrado e doutorado em Davies, na Califórnia.

Em 1975, recem-graduado na engenharia de 
alimentos da UNICAMP, fui o primeiro colocado na seleção do Mestrado.

Isso não tem mérito nenhum.

Eu sabia muito bem que tipo de decoreba aqueles 
"cientistas" iriam perguntar na prova escrita.
Com certeza iriam mandar colocar no papel o Ciclo 
de Krebs, ou da Pentose-Fosfato, e seus compostos 
intermediários, todos, pela ordem.
Ok, eles não pediram isso.
Mas pediram todas as enzimas envolvidas no processo (pela ordem).
Eu tinha decorado tudo isso e muito mais.
Sei muito bem respeitar as regras do jogo.
Enquanto estiver jogando.
Enquanto estiver em idade de jogar.
Até me tornar um adulto professor.
Agora... sinto muito, mas agora o jogo acabou.
Eu tenho apenas esta vida.
Não posso jogá-la no lixo, submetê-la às ordens dos mortos-vivos.

Eu vejo o que meus colegas-cientistas publicam.
Aquilo não pode ser jogado no lixo.
Aquilo é pior que lixo hospitalar.
Aquilo é pior que pilhas e baterias usadas.
Aquilo não pode ser despejado em qualquer lata de lixo.
Falemos sério.

Minha tese de mestrado era pra ser no que se 
publicava na época: mistura de farinhas para 
recombinar os aminoácidos essenciais, otimizando 
o valor biológico, compensando a falta de lisina 
do milho e a carencia de metionina da soja, 
fazendo uma farinha mista pros pobres comerem.
A universidade, como vemos, já defendeu porcarias 
mais sofisticadas que o Bolsa-Família.

Fiz muitos experimentos.
E mesmo publiquei muitas dessas porcarias, 
enquanto humilde e subalterno APRENDIZ.
Desidratei polpa de goiaba, em secadores de 
tambor aquecido, tudo misturado com muita soja.
Botei rato pra comer.
Pesei rato, medi rato, humilhei ratos e poderia 
ser hoje um campeão de alpinismo lattesiano.

Na boiada já fui boi, mas um dia me montei.
Não vou ficar fazendo isso que leio nas revistas: 
contando, com barômetros ou não, quantos 
coliformes fecais, ou quantas microgramas de 
mercúrio existem nos mariscos pescados em Saquarema.
Não vou ficar colecionando publicações desse tipo.
Isso não é ciencia.
Isso é vulgar burocracia de laboratório.
Isso pode ser feito por qualquer alunos de nível médio.
Isso é trabalho de rotina nos miseráveis 
laboratórios oficiais de saúde pública.
Isso não é ciencia.
Nada disso é ciencia.

Mas é isso que eu vejo meus colegas cientistas 
publicando inutilmente, banalmente, burocraticamente, mariavaicomasoutrasmente.

Das farinhas mistas, dos produtos de soja 
salvadores da fome e da miséria, passando pela 
contagem de contaminantes e micróbios, agora 
entraram nessa charlatanice de alimentos funcionais.

Um desqualificado e imoral cientista da Unicamp 
aparece no Jornal Nacional, da TV Globo, 
anunciando a Tabela de Composição de Alimentos 
Brasileiros, a grande contribuição unicampiana 
para a nutrição brasileira. E dá o exemplo da 
feijoada. Diz que a tabela da USDA não informa 
quanto tem de proteína no sarapatel, no cururu, 
no vatapá, no pão de queijo, no calango, no angu do Gomes e na feijoada.

Se eu fosse dono da UNICAMP eu botava o cara na 
rua no dia seguinte, por justa causa, porque um 
imbecil desses só pode prejudicar a imagem da instituição junto ao público.

Falemos sério: cada feijoada tem uma composição diferente.
Aliás, cada concha, da mesma feijoada, tem um 
percentual proteico totalmente diferente, porque 
um pega carne seca, outro pega muito caldo, outro 
opta pela orelhinha do porco...
como é que um publicador daqueles me publica uma porcaria dessas em público ?

Mas tudo isso não é exclusivo das ciências de alimentos.
Na Nutrição a gente assiste a mesma coisa, com 
esse negócio de pesar e medir gente, de tirar 
sangue de crianças famintas, em filas de 
hospitais públicos, pra saber se no sangue tem 
vitamina A e ferro suficientes... pra nem falar 
nas teses e publicações sugerindo que os pobres 
comam bifes de casca de abacaxi e sopa de casca 
de ovo... enquanto o cientista come o abacaxi e o ovo.

Foi desse ambiente aí que eu vim.
Foi nesse ambiente científico aí que me formei.
Estava deixando pra publicar sobre isso mais pra 
frente, quando estivesse menos ocupado com a agenda de professor.

Parece, porém, que vou ter que escrever sobre isso logo-logo.

Não vai ser bom pra universidade.
Não vai ser bom pra ciencia.
Não vai ser bom pra nenhum de nós.

A gente podia deixar esse pessoal em paz, 
publicando essas bobagens, se eles ficassem na deles.
Até aí... ainda dava pra tolerar.

Mas quando eles estão tentando e conseguindo 
impor hegemonicamente essa vertente obscena da 
ciência, sinto muito, vamos ter que iluminar e discutir os fatos.

L.E. 
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