[forum-prof] VEJA a reforma
Luis Paulo Vieira Braga
lpbraga at im.ufrj.br
Fri Jan 28 08:44:37 BRST 2005
VEJA a reforma
Dans les facultés 6% de fils douvriers, dans les internats de rééducation
90%.
Grafite durante a revolta estudantil de 68 em Paris
Aparentemente a cúpula petista e a sindical que a acompanha ainda não
perceberam a natureza do pacto que firmaram com as elites do país para chegar
ao poder formal. Acreditaram, que mantendo a política econômica do governo
anterior, poderiam conduzir diferentemente a área social, implementando assim
um programa mais ousado do que a rede de proteção social do presidente
Fernando Henrique. Da mesma forma a educação, o meio ambiente, a cultura, a
reforma agrária, constituir-se-iam em marcos do novo governo. Honrando sua
parte do pacto, os novos governantes livraram-se dos dissidentes, que até
então se acreditavam leais ao programa do partido, e deram início a um
conjunto de pseudo reformas, dentre as quais destacou-se a da previdência que
jogou sobre os ombros do funcionalismo público a responsabilidade pelo rombo
da previdência. Neste particular a guinada foi tão forte que inventou-se a
famosa PEC paralela da previdência, hoje esquecida, para atenuar a oposição à
abrupta quebra de direitos.
Em seqüência às pretensas reformas tributária e da justiça, anunciou-se a
reforma universitária ao final de 2004, dando-se um prazo até 15 de
fevereiro de 2005, portanto durante o recesso universitário , para sugestões
ao projeto antes de seu envio ao congresso. O movimento docente oficial,
agastado pelas campanhas da previdência e salarial, crítico do PROUNI ,
humilhado pelo PROIFES, obviamente se colocou criticamente ao projeto. No
entanto, foi do campo liberal que vieram as críticas mais contundentes. A
revista VEJA, que usualmente reflete as tendências do empresariado,
principalmente o cosmopolita, recomendou, em reportagem de capa desta
semana, a lata de lixo como o destino ideal para a reforma pretendida.
Adjetivando o projeto, pejorativamente, como de inspiração soviética, o que é
no mínimo curioso, pois os professores e cientistas egressos deste sistema
foram disputados pelas melhores universidades do mundo, inclusive do Brasil,
o artigo elenca cinco conseqüências desastrosas para o país se a reforma
petista fôr adotada. Três delas para o setor privado introdução da gestão
colegiada em detrimento do poder do proprietário da universidade, controle da
abertura de novas universidades e limitação da participação do capital
estrangeiro. Duas para o setor público cotas para excluídos e o fim das
fundações. Em apoio às críticas colhem-se depoimentos de Claudio Moura
Castro e Paulo Renato Souza, ex-homens públicos, atuais empreendedores do
setor educacional. Não faz muito tempo que ouvimos o dono da maior
universidade particular do Brasil declarar que não via nenhuma necessidade de
ser fazer um curso superior para se vencer na vida e, que para ele o ensino é
um negócio como outro qualquer. O próprio ex-ministro da educação do governo
anterior recomendou o setor como de alto retorno de investimento...Por outro
lado sabe-se da pressão internacional para a abertura do mercado educacional
brasileiro. Não é preciso muito mais para compreender as intenções da
revista, o que aliás não constitui novidade para ninguém. A defesa das
fundações, tornadas desnecessárias pela autonomia concedida às
universidades, é a defesa do braço privado dentro de um órgão público,
funcionando à margem da administração central da universidade, e, muitas
vezes com mais poder que esta . A questão das cotas, por outro lado, é
rejeitada unanimimente tanto à esquerda como à direita do governo, embora
por motivos diferentes.
Tudo indica que o presidente e sua equipe terão enormes dificuldades para
aprovar sua reforma, compreendendo melhor que ao trocar o exercício do poder
em nome do povo, pelo exercício do poder em nome do conchavo, cabem-lhe no
pacto sinistro tão somente as benesses do poder, aliás usufruídas
prodigamente, mais nada além disso...
Prof. Luis Paulo
DME
C.P. 68530
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