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Luis Paulo Vieira Braga lpbraga at im.ufrj.br
Wed Jan 5 11:13:15 BRST 2005


Comentários aos comentários

	É uma oportunidade ímpar poder debater de forma inteligente com 
tantos colegas de tantas áreas distintas como ocorre neste Forum. 
Independentemente dos estilos,  da dedicação de cada um, ou das diferentes 
opiniões, tenho aprendido muito com todos ao longo das discussões. Vou 
comentar as intervenções mais recentes da Lilia, do Luiz Eduardo e do Luiz 
Felipe Coelho ( a mão de obra que mantem este Forum ). Vou me limitar a 
quatro questões tratadas pelos colegas, embora muitos outros aspectos 
levantados também sejam merecedores de nossa atenção, a saber - perfil 
docente, incentivo monetário, ensino de graduação e interdisciplinaridade.

	A consagração do trinômio ensino, pesquisa e extensão pela Lei de 
Diretrizes e Bases (LDB)  não  deve ser  intepretada como a obrigatoriedade 
do exercício simultâneo destas atividades por todo docente, mas sim de que 
não deveria haver distinção entre elas. Infelizmente, não é isto o que se vê. 
Um exemplo concreto são as ponderações nos processos de progressão 
horizontal, que atribuem muito mais pontos para as atividades de pesquisa do 
que para aquelas de ensino e extensão, o que acaba levando à seguinte 
circularidade - as atividades de ensino e extensão valem menos porque são de 
qualidade inferior e são de  qualidade inferior porque valem menos... É 
fundamental que se institua um sistema de aferição destas atividades, 
inclusive com a participação de alunos e público, para que elas possam ser 
avaliadas com o mesmo rigor das atividades de pesquisa, eliminando-se assim 
os procedimentos evasivos apontados  - tutorados e monitores substituindo 
professores, ementas não cumpridas, etc... 

	Não sou contra o prêmio pela produtividade, embora no movimento 
docente oficial do qual participo, isto seja um tabu. Mas, para mim, prêmio 
por produtividade deve representar algo que se recebe por ter excedido as 
obrigações devidas. Por este motivo fui e sou contra a GED, um reajuste de 
salário disfarçado, que pretende gratificar o professor pela atividade fim de 
sua categoria ! Da mesma forma, encaro com reservas as bolsas de 
produtividade de pesquisa, que não se incorporarão ao salário  quando o 
docente se aposentar e que durante sua vigência acabam por motivar o docente 
a se afastar da  docência - principalmente a de graduação. Não menos 
deformadora são as atividades de extensão remuneradas - muitas vezes a única 
forma para melhorar as condições de trabalho - que podem vir a se tornar o 
foco da atividade de um docente em detrimento das demais. As deformações que 
vemos em função destas múltiplas formas de gratificação têm sua origem na 
degradação do salário e do processo de avaliação e controle do trabalho 
docente. Uma das piores conseqüências da última campanha salarial foi a 
suspensão do SIGMA, o qual o movimento docente oficial infelizmente  rejeita, 
mas que é nada mais nada menos do que a informatização do relatório anual 
docente que todos devemos desde sempre...

	A questão do ensino de graduação vai muito além  da óbvia 
obrigatoriedade de ministrar corretamente as disciplinas, mas de proporcionar 
uma formação profissional adequada, o que em muitos cursos da UFRJ e de 
outras IFES deixou de ocorrer há muito tempo. A saída encontrada vem sendo a 
priorização na formação de alunos para ingressarem na pós-graduação, o que 
atende a uma parcela minoritária do corpo discente, reforçando, assim, a 
imagem de torre de marfim da universidade pública.  Novamente na origem deste 
desiquilíbrio está a questão financeira - o orçamento da universidade, 
consumido em salários e custeio- contempla pouco as iniciativas voltadas para 
a formação profissional, enquanto que na pós-graduação há verbas e agilidade 
em empregá-las. Embora se possa dizer que, contemporâneamente, se estreitam 
as distâncias entre a pesquisa e a aplicação, estas distâncias continuam e 
continuarão, necessariamente, a existir e se fecharmos os olhos para esta 
realidade acabaremos por comprometer a própria pós-graduação.

	O último ponto, importantíssimo, que foi levantado nas mensagens dos 
colegas é a natureza interdisciplinar do trabalho científico atual, o qual 
contrasta com a estrutura da universidade e mesmo dos comitês julgadores das 
agências de fomento à pesquisa. Neste aspecto a UFRJ é particularmente 
pródiga em relação às suas congêneres, pois consegue reunir departamento, 
unidade, decania, pró-reitoria e reitoria. Qualquer trabalho interdisciplinar 
fica muito prejudicado, por exemplo, atuar em um curso que não seja 
prioritariamente ministrado por professores do mesmo departamento... Fica 
ainda pior quando o curso não pertence à unidade à qual está localizado o 
professor. O sentido das transformações parece favorecer a extinção da 
instância departamental, embora ela esteja consagrada na LDB e não tenha sido 
arranhada no corrente ante-projeto de reforma universitária. As atividades de 
ensino, pesquisa e extensão deveriam, a meu ver, serem referenciadas na 
unidade, e as decanias poderiam - enfim servir para alguma coisa além da 
função politica - fazer o meio de campo quando estas atividades envolvessem 
mais de uma unidade.

	Infelizmente o âmbito das discussões travadas neste Forum é muito 
pequeno, por outro lado o movimento docente oficial tem uma pauta tão ampla e 
estruturada que enfrenta dificuldades de agilização e atração para uma maior 
participação neste momento tão crítico para as IFES . A iniciativa do PROIFES 
sofre de legitimidade e  também não demonstrou, até agora, capacidade de 
mobilização da categoria em torno das questões da reforma. Resta-nos, 
portanto, a alternativa de continuarmos a espernear, esperando, a exemplo de 
outros movimentos "flash", a centelha crítica que desperte a categoria...




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