[forum-prof] Algumas propostas para a UFRJ...
Lucia Q.
luciaq at superig.com.br
Mon Jan 3 15:16:52 BRST 2005
Cara Maria Silvia e demais colegas,
O assunto surgiu de uma observação do Felipe: "Acho que o Consuni e a Reitoria devem lançar um processo de Estatuinte da UFRJ, aproveitando as discussões da Reforma Universitária, a crise da FND, o problema
do número excessivo de professores substitutos no CLA (atualmente quase 50% [...]"
Aproveitei para mencionar o problema da linguística que me preocupa há muito tempo. É um problema invisível, se nós da linguística não o mencionarmos. Quer dizer, não há apenas o problema de 50% de substitutos no CLA, mas também o da área da linguística...
Concordo com você qdo diz "O inverso é que não se aplica, ou seja, considerar a Lingüística como base prioritária da grade curricular do curso. Seria o mesmo que tomar a Pedagogia como pilar da avaliação do ensino" [veja abaixo].
Claro que a linguística é a base teórica (mas não curricular) de quem quer refletir sobre língua, qualquer língua humana, inclusive latim e grego. Não há nenhum aspecto de línguas que não interesse à linguística e se algum fenômeno "morfológico e/ou semântico" existe em alguma língua e que as teorias não dão conta de explicar, estendem-se as teorias. É assim que as teorias se desenvolvem na linguística. Mas não creio que deva constar do curso de letras como 4 disciplinas introdutórias aos vários cursos. Deveriam vir mais adiante, talvez no meio do curso - depois de um ciclo básico de 2 anos - pq os alunos não estão conseguindo seguir as abstrações próprias da linguística. O resultado é pior do que não ter nenhuma linguística. O mesmo se passa com fonoaudiologia para quem oferecemos mais cursos do que para letras (7 disciplinas obrigatórias).
O fato de v. citar Bakhtin, um autor do início da século passado interessado em literatura e com alguns interessantes insights sobre a fala em interação, em relação à linguística bem mostra como sua (dela) "imerção'" na área de letras tem contribuído para misturar modelos e escamotear as questões que ocupam os linguistas. Em outras palavras, o que reinvidico é um espaço acadêmico próprio para a linguística. Não quero ter que defender um espaço que a linguística já ocupa no primeiro mundo desde as primeiras décadas do século passado. No mais estamos de acordo.
Um abraço da colega
Lucia Q.
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From: Maria A. Silva
To: Lucia Q.
Cc: forum-prof at listas.if.ufrj.br
Sent: Saturday, January 01, 2005 2:57 PM
Subject: Re: [forum-prof] Algumas propostas para a UFRJ...
Boa tarde, colegas do forum-prof. E que tenham, todos, um excelente 2005.
Andei afastada das discussões por encontrar-me em licença médica, para tratamento fisioterápico. Não tenho usado muito o computador, mas o e-mail da colega Lucia me incita a apresentar alguns comentários. Não sei bem como surgiu o assunto, não recebi outras mensagens a respeito. Então falo apoiando-me no que pude apreender do texto.
Olha, Lucia, está havendo algum problema de interpretação. Em primeiro lugar, o número expressivo de pesquisas de IC e teses em Lingüística desmente a suposição de que, na Letras, ela seja apenas "secundária", um mero suporte. Pelo contrário. Muitos docentes nossos, tanto de Vernáculas quanto dos departamentos de línguas estrangeiras, têm formação pós-graduada na área. O inverso é que não se aplica, ou seja, considerar a Lingüística como base prioritária da grade curricular do curso. Seria o mesmo que tomar a Pedagogia como pilar da avaliação do ensino. Nenhuma área deve prevalecer sobre as demais, o que se deve pensar urgentemente é um meio eficaz de gerenciamento e aplicação prática das disciplinas. Elas deveriam integrar saberes em vez de compartimentá-los.
O que dizer, por exemplo, da análise do discurso, tão em voga, que utiliza base lingüística atrelada à fundamentação teórica da crítica literária? Sim, porque, como bem lembra minha colega Silvia Cárcamo, as teorias bakhtinianas (por exemplo) citadas nos estudos dessa área têm a literatura como objeto de análise, não a linguagem ou a língua em si.
A Lingüística nos fornece meios objetivos para a compreensão do funcionamento estrutural da linguagem e por isso é importante para o estudo das línguas em sua dinâmica. Mas não vejo porque eliminar o latim e o grego da grade curricular de Letras - se esta é a proposta -, pois, apesar de "mortos", estão na origem de muitos idiomas, entre eles o nosso. Existem aspectos morfológicos e semânticos nessas línguas que a lingüística, apenas, não saberia contemplar. E isso, um futuro profissional em Letras, sobretudo aquele que irá lecionar português, tem que saber.
Outros cadáveres preocupam mais... O péssimo desempenho dos vestibulandos na prova de redação é um sintoma alarmante. Alguém da lista mencionou que as provas de redação deveriam ser corrigidas por profissionais de Comunicação e não de Letras. Mas para se comunicar é preciso, antes de mais nada, entender e se fazer entender sem equívocos. Ninguém desprovido do domínio de sua própria língua poderá fazê-lo.
Abraços,
Maria A. Silva
Neolatinas - Fac. Letras UFRJ
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From: Lucia Q.
Date: 01/01/05 12:42:33
To: Lilia Irmeli Arany Prado; Luiz Felipe de Souza Coelho
Cc: forum-prof at listas.if.ufrj.br
Subject: Re: [forum-prof] Algumas propostas para a UFRJ...
Caro Felipe,
O que não faz sentido no CLA é linguística, que está longe de ser letras, ou
outra área qualquer a não ser a antropologia ou as ciências da cognição, que
não temos na UFRJ. Hoje acha-se dividida (graças à gloriosa revolução e ao
autoritarismo que imperou na UFRJ) em 2 partes, 1 na Letras e 1 no MN, na
Antropologia Social. A linguística, que tem potencial de ser um curso 7 e de
se ocupar do seu campo de estudos, fica enxugando gelo na Letras, prestando
serviço aos cursos de Letras (tal como a matemática faz p/ outros cursos),
que não se interessam em sua maioria pelas questões da linguística.
As outras áreas de Letras vêem a linguística como uma disciplina ancilar de
português, que não entendem e não querem entender. (Podemos continuar dando
apoio a essas áreas, mas como disciplinas optativas, já que o aluno e o
professor de letras, via de regra, não aceitam o modelo da linguística para
as lingua(gem)s humanas. Preferem manter um "latim genérico"e um "grego
genérico'" no currículo, com 2 anos obrigatórios, que supostamente dariam
aos alunos um modelo para pensarem línguas. Ou seja, gostam do modelo
medieval de línguas).
Isso, em um país com mais de 200 línguas indígenas que não 'cabem no modelo
latino" e muitíssimas línguas européias e asiáticas faladas como língua
materna. É um descalabro!
Enquanto tentamos em vão "desemburrar" alunos de letras, estrageiros do SIL,
Novas tribos, CEU, CIMI e sei lá que mais estão ativos nas tribos
brasileiras convertendo índios! E o governo brasileiro dá graças a deus por
termos um país com uma só língua e uma só cultura. É de chorar.
Bom, como desabafo de fim de ano chega. Bom 2005 para todos nós.
Lucia Q.
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