[forum-prof] Algumas propostas para a UFRJ...
Maria A. Silva
maria.a.dasilva at terra.com.br
Sat Jan 1 14:57:21 BRST 2005
Boa tarde, colegas do forum-prof. E que tenham, todos, um excelente 2005.
Andei afastada das discussões por encontrar-me em licença médica, para
tratamento fisioterápico. Não tenho usado muito o computador, mas o e-mail
da colega Lucia me incita a apresentar alguns comentários. Não sei bem como
surgiu o assunto, não recebi outras mensagens a respeito. Então falo
apoiando-me no que pude apreender do texto.
Olha, Lucia, está havendo algum problema de interpretação. Em primeiro lugar
o número expressivo de pesquisas de IC e teses em Lingüística desmente a
suposição de que, na Letras, ela seja apenas "secundária", um mero suporte.
Pelo contrário. Muitos docentes nossos, tanto de Vernáculas quanto dos
departamentos de línguas estrangeiras, têm formação pós-graduada na área. O
inverso é que não se aplica, ou seja, considerar a Lingüística como base
prioritária da grade curricular do curso. Seria o mesmo que tomar a
Pedagogia como pilar da avaliação do ensino. Nenhuma área deve prevalecer
sobre as demais, o que se deve pensar urgentemente é um meio eficaz de
gerenciamento e aplicação prática das disciplinas. Elas deveriam integrar
saberes em vez de compartimentá-los.
O que dizer, por exemplo, da análise do discurso, tão em voga, que utiliza
base lingüística atrelada à fundamentação teórica da crítica literária? Sim,
porque, como bem lembra minha colega Silvia Cárcamo, as teorias bakhtinianas
(por exemplo) citadas nos estudos dessa área têm a literatura como objeto de
análise, não a linguagem ou a língua em si.
A Lingüística nos fornece meios objetivos para a compreensão do
funcionamento estrutural da linguagem e por isso é importante para o estudo
das línguas em sua dinâmica. Mas não vejo porque eliminar o latim e o grego
da grade curricular de Letras se esta é a proposta -, pois, apesar de
mortos, estão na origem de muitos idiomas, entre eles o nosso. Existem
aspectos morfológicos e semânticos nessas línguas que a lingüística, apenas,
não saberia contemplar. E isso, um futuro profissional em Letras, sobretudo
aquele que irá lecionar português, tem que saber.
Outros cadáveres preocupam mais... O péssimo desempenho dos vestibulandos na
prova de redação é um sintoma alarmante. Alguém da lista mencionou que as
provas de redação deveriam ser corrigidas por profissionais de Comunicação e
não de Letras. Mas para se comunicar é preciso, antes de mais nada, entender
e se fazer entender sem equívocos. Ninguém desprovido do domínio de sua
própria língua poderá fazê-lo.
Abraços,
Maria A. Silva
Neolatinas Fac. Letras UFRJ
-------Original Message-------
From: Lucia Q.
Date: 01/01/05 12:42:33
To: Lilia Irmeli Arany Prado; Luiz Felipe de Souza Coelho
Cc: forum-prof at listas.if.ufrj.br
Subject: Re: [forum-prof] Algumas propostas para a UFRJ...
Caro Felipe,
O que não faz sentido no CLA é linguística, que está longe de ser letras, ou
outra área qualquer a não ser a antropologia ou as ciências da cognição, que
não temos na UFRJ. Hoje acha-se dividida (graças à gloriosa revolução e ao
autoritarismo que imperou na UFRJ) em 2 partes, 1 na Letras e 1 no MN, na
Antropologia Social. A linguística, que tem potencial de ser um curso 7 e de
se ocupar do seu campo de estudos, fica enxugando gelo na Letras, prestando
serviço aos cursos de Letras (tal como a matemática faz p/ outros cursos),
que não se interessam em sua maioria pelas questões da linguística.
As outras áreas de Letras vêem a linguística como uma disciplina ancilar de
português, que não entendem e não querem entender. (Podemos continuar dando
apoio a essas áreas, mas como disciplinas optativas, já que o aluno e o
professor de letras, via de regra, não aceitam o modelo da linguística para
as lingua(gem)s humanas. Preferem manter um "latim genérico"e um "grego
genérico'" no currículo, com 2 anos obrigatórios, que supostamente dariam
aos alunos um modelo para pensarem línguas. Ou seja, gostam do modelo
medieval de línguas).
Isso, em um país com mais de 200 línguas indígenas que não 'cabem no modelo
latino" e muitíssimas línguas européias e asiáticas faladas como língua
materna. É um descalabro!
Enquanto tentamos em vão "desemburrar" alunos de letras, estrageiros do SIL,
Novas tribos, CEU, CIMI e sei lá que mais estão ativos nas tribos
brasileiras convertendo índios! E o governo brasileiro dá graças a deus por
termos um país com uma só língua e uma só cultura. É de chorar.
Bom, como desabafo de fim de ano chega. Bom 2005 para todos nós.
Lucia Q.
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