[forum-prof] Re: [Uniaberta] Vestibular

Marcio da Costa marccosta at terra.com.br
Mon Jul 12 14:02:04 BRT 2004


Lilia,
teus argumentos são bem interessantes. O problema do COMO deixou de ser
enfrentado há cerca de duas décadas pelos "educadores" (confesso que detesto
esse termo pois sempre me cheira a proselitismo). Envenenados pela onda
descontrutivista que brota do mundo franco-estruturalista-esquerdista, nos
anos 70, nosso "pensamento educacional" reduziu-se, quase exclusivamente, a
um amontoado de denúncias - tratando as escolas como palanques. Os cursos de
educação e as cadeiras da área de didática viraram cursos de anti-pedagogia
e anti-didática. Isso chegou ao ponto de várias faculdades supostamente
voltadas a condensar o pensamento educacional voltado ao enfrentamento dos
problemas da área terem banido das suas habilitações a formação de
pedagogos, profissionais técnicos da educação. A nossa, por exemplo, até
hoje, só forma professores. É um autêntico curso normal superior. Há anos
batalho por uma reforma curricular e nas habilitações de nosso curso de
pedagogia - parece que agora vai sair - baseada na idéia de que as
atividades voltadas ao acompanhamento, gestão, planejamento, técnicas e
avaliação educacional não são coisas vergonhosas, reacionárias ou
"tecnicismos", como tanto gostou de caracterizar nossa inteligentzia
educacional. O desprezo pelas chamadas áreas de "ensino de ..." é vulgar nas
faculdades de educação, assim como o preconceito/ignorância contra quase
tudo que for técnica de ensino e aprendizagem e, sobretudo, contra coisas
que são empiricamente testadas seguindo os modelos da pesquisa experimental.
O palavrório político tentou suprimir isso tudo. Adotam-se modelos
pedagógicos (desde métodos de alfabetização até formas de organização do
fluxo escolar) meramente com base em princípios filosóficos vagos - de
preferência embalados numa suposta radicalidade contestatória. Métodos
sintéticos de alfabetização, aprovação automática e vestibular discursivo,
em meu entender, só para citar alguns, fazem parte desse mesmo febeapá
pedagógico.
A proposta do Claudio de submeter os reitores aos vestibulares, ou a
extensão do Felipe às bancas julgadoras, põem a nu essa idiotia presunçosa e
preguiçosa que se aboletou em todos os níveis de nosso sistema educacional.
A consequência mais grave é o desperdício absurdo de recursos, energia e
talentos em prol de amontoados inconsistentes de conteúdos que não servem ao
menos como exercício aos neurônios.
Abraços,
Marcio.

----- Original Message ----- 
From: <lilia at ov.ufrj.br>
To: <uniaberta at listas.if.ufrj.br>; <forum-prof at listas.if.ufrj.br>
Sent: Saturday, July 10, 2004 6:48 PM
Subject: [Uniaberta] Vestibular


> Felipe e todos
>
> acho essa questao ainda mais complicada. O fato de questionar o ensino
> fundamental, que deve ter amplitude, não significa a meu ver que saibamos
> claramente (a ponto de fazer uma prova) o que aprendemos ao longo da vida.
> Creio que a maior vantagem de um aprendizado amplo e'a de termos opcoes
sobre
> interesses reais (os de cada um - os quais poderao ser aprofundados sem
perder
> de vista as efemeras conexoes com algo maior) e adquirirmos "roteiros" de
busca
> para novos conhecimento bem como aqueles perdidos no tempo.
> (so' como curiosidade, e sem pretender misturar decoreba com a
profundidade do
> que se esta discutindo, uma vez me dei ao trabalho de decorar mais do q
250
> acidentes geograficos do litoral brasileiro - achei divertido, mas alem de
> tirar 10 acho que so' lembro da baia da Guanabara :).
>
> Esse mesmo questionamento pode se aplicar a provas de Olimpiadas de
quimica,
> fisica, astronomia (as internacionais entao são um horror :) onde
concorrentes
> são criancas. E guardadas as proporcoes, provas de ingresso em mestrado,
> doutorado ou concursos com amplo leque de conhecimentos para os quais os
> candidatos esfolam os neuronios estudando e montando resumos (onde
> necessariamente os conhecimentos exigido não podem ser muito
especializados).
> Se todos nos estivessemos preparados para qq prova, creio que não
precisariamos
> preparar aulas para termos claro, conhecimentos, conceitos e tecnicas
quando
> estas não fazem parte das nossas pesquisas.
>
> A meu ver a coisa mais importante a questionar e' COMO transmitir
conhecimento
> amplo, COMO avaliar o conhecimento adquirido e COMO avaliar a
excepcionalidade
> para alem dos manuais. Da minha parca experiencia constato que alunos não
> conseguem lidar nem ter proveito adequado (provavelmente devido a uma
cadeia
> hierarquica de eventos desde a alfabetizacao, e quiçá a algum defeito
genetico
> do homo sapiens : ) sem as provas, exercicios e avaliacao canonica
(ocasioes em
> que tentei outra coisa eles pediram prova). Por outro lado já dei como
> "correta" resposta "errada" devido aa "brilhancia" da mesma, justificando
a
> avaliacao. Mas isso so' e' possivel em atividade prodessor-aluno
> "personalizada" e não em vestibular ou em grandes turmas. As vezes eu vejo
os
> especialistas de pesquisa em ensino dando voltas em teorias repletas de
> conceitos sofisticados para concluir o que nos fazemos no dia a dia
(claro, os
> maus especialistas) e as vezes eu vejo os "curiosos" de outras áreas
> desenvolvendo tecnicas interessantes de aplicacao imediata (os curiosos
> competentes) que não encontram respaldo junto aos especialistas
competentes
> (nem junto aos seus pares). Que falta que faz eles não se entenderem sobre
o
> conceito de "pesquisa em ensino"! Que falta que faz não trazerem
resultados
> praticos e amplamente divulgados sobre o "COMO", de modo que nos,
ignorantes no
> assunto, não precisassemos desse tatibitati vestibulando.
>
> Esta' faltando a Universidade se voltar para o rombo na educacao desse
pais. E'
>  preciso um pouquinho mais de doaçao e menos ego(?). Se cada especialista
> doasse um dia de seu ano aa educacao fundamental (palestra em escola da
> periferia, revisao de livro didatico, respoder uma pergunta  de um
estudante
> curioso q mora la onde o vento faz a curva, receber um estudante carente
na
> universidade e explicar o que faz, etc. - tendo alguem que coordenasse,
como no
> ex. do Caruso do sbpc vai aa escola), qual seria a doacao contabilizada?
>
> Uma prova "simples" e inteligente e abrangendo amplo conhecimento, a meu
ver,
> so' pode ser confeccionada por pessoas experientes em cada area. Alias
esse e'
> o grande problema dos erros dos livros didaticos com um autor, p. ex.,
biologo
> falando de fisica e astronomia.  Entao, o fato de um reitor eventualmente
não
> ser capaz de fazer uma prova (não tendo estudado para faze-la) para mim
não
> significa nada e esse tipo de pegadinha do Cláudio de Moura Castro so'
mostra
> sua sistematica na defesa de interesses para mim inevitavelmente
suspeitos.
>
> Agora, esse seu exemplo da "gloriosa" e' realmente um caso ridiculo e
> tendencioso, mas talvez justamente pelo fato da ausencia de seniors
> interessados na divulgacao da ciencia e na pequena doacao possivel para a
> melhoria do ensino fundamental no pais.
>
> Abraco Lilia
>
> +++++++++++++++++++++++
> 10 Jul 2004 De: Felipe coelho at if.ufrj.br> Para:
uniaberta at listas.if.ufrj.br
> Prezados colegas
> >
> > As colocações do Marcio sobre o Vestibular (repasso-as abaixo) são
> > perfeitas. As questões discursivas e as de múltipla escolha não são
> > ideologicamente neutras, quer na forma quer no conteúdo, uma avaliação
> > teria que usar as duas. A UFF faz uma pré-prova, com questões de
multipla
> > escolha fáceis sobre todas as áreas de conhecimento, e depois faz provas
> > específicas discursivas. Porque não podemos ter algo similar?
> >
> > Concordo com ele que os reitores talvez não passassem no vestibular dado
> > pelas suas instituições (uma idéia do Cláudio de Moura Castro)  mas nem
as
> > próprias bancas passariam! Eu sugeri ao coordenador do Vestibular
(sugerira
> > antes à decana do CCMN) que as provas antes de serem aplicada aos
> > candidatos fossem aplicadas aos membros da banca. Se um conhecimento
numa
> > área é tão importante que qualquer egresso do segundo grau deve saber,
> > mesmo que ele não seja específico dessa área, então os professores que
> > preparam as provas tem que saber respondê-las. A resposta dada é que
eles
> > não aceitariam fazê-lo. A resposta real é que não conseguiriam fazê-lo.
E
> > uma prova que nem a sua equipe consegue resolver é um delírio.
> >
> > Só um exemplo da loucura, que vi quando meu filho fez prova para a
> > Informática na UFRJ (foi no ano dos 40% de zeros em Física...). O
problema
> > não era só a Física. Nesse ano na UFRJ a prova não-específica de
História
> > tinha dez questões, uma delas "Fale sobre a Revolução Gloriosa." Isso é
um
> > detalhe da história inglesa, com alguma importância para eles, mas que é
> > irrelevante para qualquer brasileiro egresso do segundo grau saber. Eu
até
> > sabia porque morei 5 anos na Inglaterra mas perguntei a diversos colegas
> > meus que não sabiam. Será que o cara que fez Segundo Grau num ginásio
> > estadual numa favela tem alguma idéia disso? Será que tem alguma
> > importância ele não saber? É muito pior que perguntar no exame de fim do
> > segundo grau da Inglaterra "Fale sobre a Inconfidência Mineira".
> >
> > Há um paralelismo no entanto. Nos dois casos procura-se dar uma face
> > aceitável ao passado: no caso inglês é o de esquecer a revolução de
> > Cromwell e seus banhos de sangue, na Irlanda e na Inglaterra, e a
execução
> > do rei James I. O objetivo é insinuar que a conquista do poder pelo
> > Parlamento inglês aconteceu de forma pacífica quando James II (o filho
do
> > rei morto) foi deposto e o Parlamento passou o poder para a casa de
Orange.
> > No caso brasileiro o objetivo é o de escolher a rebelião mais aceitável
> > contra o poder colonial, a das elites e dos poetas, esquecendo coisas
como
> > o Quilombo dos Palmares, a Conjuração Baiana (onde  muitos foram
> > executados), a enorme resistência dos índios contra a escravização pelos
> > bandeirantes e as rebeliões coloniais em defesa do direito de escravizar
> > índios. Nos dois casos - o inglês e o brasileiro - é a lenda da "índole
> > cordial"... Essa questão então, além de ser um detalhe, embute uma visão
> > reacionária da História.
> >
> > Abraços, Felipe
>
>
>
>
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