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lilia at ov.ufrj.br lilia at ov.ufrj.br
Sat Jul 10 18:48:04 BRT 2004


Felipe e todos 

acho essa questao ainda mais complicada. O fato de questionar o ensino 
fundamental, que deve ter amplitude, não significa a meu ver que saibamos 
claramente (a ponto de fazer uma prova) o que aprendemos ao longo da vida. 
Creio que a maior vantagem de um aprendizado amplo e'a de termos opcoes sobre 
interesses reais (os de cada um - os quais poderao ser aprofundados sem perder 
de vista as efemeras conexoes com algo maior) e adquirirmos "roteiros" de busca 
para novos conhecimento bem como aqueles perdidos no tempo.
(so' como curiosidade, e sem pretender misturar decoreba com a profundidade do 
que se esta discutindo, uma vez me dei ao trabalho de decorar mais do q 250 
acidentes geograficos do litoral brasileiro - achei divertido, mas alem de 
tirar 10 acho que so' lembro da baia da Guanabara :). 

Esse mesmo questionamento pode se aplicar a provas de Olimpiadas de quimica, 
fisica, astronomia (as internacionais entao são um horror :) onde concorrentes 
são criancas. E guardadas as proporcoes, provas de ingresso em mestrado, 
doutorado ou concursos com amplo leque de conhecimentos para os quais os 
candidatos esfolam os neuronios estudando e montando resumos (onde 
necessariamente os conhecimentos exigido não podem ser muito especializados). 
Se todos nos estivessemos preparados para qq prova, creio que não precisariamos 
preparar aulas para termos claro, conhecimentos, conceitos e tecnicas quando 
estas não fazem parte das nossas pesquisas. 

A meu ver a coisa mais importante a questionar e' COMO transmitir conhecimento 
amplo, COMO avaliar o conhecimento adquirido e COMO avaliar a excepcionalidade 
para alem dos manuais. Da minha parca experiencia constato que alunos não 
conseguem lidar nem ter proveito adequado (provavelmente devido a uma cadeia 
hierarquica de eventos desde a alfabetizacao, e quiçá a algum defeito genetico 
do homo sapiens : ) sem as provas, exercicios e avaliacao canonica (ocasioes em 
que tentei outra coisa eles pediram prova). Por outro lado já dei como 
"correta" resposta "errada" devido aa "brilhancia" da mesma, justificando a 
avaliacao. Mas isso so' e' possivel em atividade prodessor-aluno 
"personalizada" e não em vestibular ou em grandes turmas. As vezes eu vejo os 
especialistas de pesquisa em ensino dando voltas em teorias repletas de 
conceitos sofisticados para concluir o que nos fazemos no dia a dia (claro, os 
maus especialistas) e as vezes eu vejo os "curiosos" de outras áreas 
desenvolvendo tecnicas interessantes de aplicacao imediata (os curiosos 
competentes) que não encontram respaldo junto aos especialistas competentes 
(nem junto aos seus pares). Que falta que faz eles não se entenderem sobre o 
conceito de "pesquisa em ensino"! Que falta que faz não trazerem resultados 
praticos e amplamente divulgados sobre o "COMO", de modo que nos, ignorantes no 
assunto, não precisassemos desse tatibitati vestibulando. 

Esta' faltando a Universidade se voltar para o rombo na educacao desse pais. E' 
 preciso um pouquinho mais de doaçao e menos ego(?). Se cada especialista 
doasse um dia de seu ano aa educacao fundamental (palestra em escola da 
periferia, revisao de livro didatico, respoder uma pergunta  de um estudante 
curioso q mora la onde o vento faz a curva, receber um estudante carente na 
universidade e explicar o que faz, etc. - tendo alguem que coordenasse, como no 
ex. do Caruso do sbpc vai aa escola), qual seria a doacao contabilizada?

Uma prova "simples" e inteligente e abrangendo amplo conhecimento, a meu ver, 
so' pode ser confeccionada por pessoas experientes em cada area. Alias esse e' 
o grande problema dos erros dos livros didaticos com um autor, p. ex., biologo 
falando de fisica e astronomia.  Entao, o fato de um reitor eventualmente não 
ser capaz de fazer uma prova (não tendo estudado para faze-la) para mim não 
significa nada e esse tipo de pegadinha do Cláudio de Moura Castro so' mostra 
sua sistematica na defesa de interesses para mim inevitavelmente suspeitos.

Agora, esse seu exemplo da "gloriosa" e' realmente um caso ridiculo e 
tendencioso, mas talvez justamente pelo fato da ausencia de seniors 
interessados na divulgacao da ciencia e na pequena doacao possivel para a 
melhoria do ensino fundamental no pais.

Abraco Lilia 

+++++++++++++++++++++++
10 Jul 2004 De: Felipe coelho at if.ufrj.br> Para: uniaberta at listas.if.ufrj.br
Prezados colegas
> 
> As colocações do Marcio sobre o Vestibular (repasso-as abaixo) são 
> perfeitas. As questões discursivas e as de múltipla escolha não são 
> ideologicamente neutras, quer na forma quer no conteúdo, uma avaliação 
> teria que usar as duas. A UFF faz uma pré-prova, com questões de multipla 
> escolha fáceis sobre todas as áreas de conhecimento, e depois faz provas 
> específicas discursivas. Porque não podemos ter algo similar?
> 
> Concordo com ele que os reitores talvez não passassem no vestibular dado 
> pelas suas instituições (uma idéia do Cláudio de Moura Castro)  mas nem as 
> próprias bancas passariam! Eu sugeri ao coordenador do Vestibular (sugerira 
> antes à decana do CCMN) que as provas antes de serem aplicada aos 
> candidatos fossem aplicadas aos membros da banca. Se um conhecimento numa 
> área é tão importante que qualquer egresso do segundo grau deve saber, 
> mesmo que ele não seja específico dessa área, então os professores que 
> preparam as provas tem que saber respondê-las. A resposta dada é que eles 
> não aceitariam fazê-lo. A resposta real é que não conseguiriam fazê-lo. E 
> uma prova que nem a sua equipe consegue resolver é um delírio.
> 
> Só um exemplo da loucura, que vi quando meu filho fez prova para a 
> Informática na UFRJ (foi no ano dos 40% de zeros em Física...). O problema 
> não era só a Física. Nesse ano na UFRJ a prova não-específica de História 
> tinha dez questões, uma delas "Fale sobre a Revolução Gloriosa." Isso é um 
> detalhe da história inglesa, com alguma importância para eles, mas que é 
> irrelevante para qualquer brasileiro egresso do segundo grau saber. Eu até 
> sabia porque morei 5 anos na Inglaterra mas perguntei a diversos colegas 
> meus que não sabiam. Será que o cara que fez Segundo Grau num ginásio 
> estadual numa favela tem alguma idéia disso? Será que tem alguma 
> importância ele não saber? É muito pior que perguntar no exame de fim do 
> segundo grau da Inglaterra "Fale sobre a Inconfidência Mineira".
> 
> Há um paralelismo no entanto. Nos dois casos procura-se dar uma face 
> aceitável ao passado: no caso inglês é o de esquecer a revolução de 
> Cromwell e seus banhos de sangue, na Irlanda e na Inglaterra, e a execução 
> do rei James I. O objetivo é insinuar que a conquista do poder pelo 
> Parlamento inglês aconteceu de forma pacífica quando James II (o filho do 
> rei morto) foi deposto e o Parlamento passou o poder para a casa de Orange. 
> No caso brasileiro o objetivo é o de escolher a rebelião mais aceitável 
> contra o poder colonial, a das elites e dos poetas, esquecendo coisas como 
> o Quilombo dos Palmares, a Conjuração Baiana (onde  muitos foram 
> executados), a enorme resistência dos índios contra a escravização pelos 
> bandeirantes e as rebeliões coloniais em defesa do direito de escravizar 
> índios. Nos dois casos - o inglês e o brasileiro - é a lenda da "índole 
> cordial"... Essa questão então, além de ser um detalhe, embute uma visão 
> reacionária da História.
> 
> Abraços, Felipe







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