[forum-prof] RESAZ: Estadão - É fácil entender como o material didático de combate à discriminação (sexual?) tem sido rejeitado
Abraham Zakon
azakon2 at globo.com
Sun May 29 15:24:19 BRT 2011
Prezados.
1o - Todos os avanços sociais foram conquistados após milênios ou séculos de
convivência humana, antecedidos por violências e tragédias diversas. Mesmo
assim, o "respeito" é o valor social mais difícil de ser aceito pelas
pessoas há mais de 2500 anos desde que foi evidenciado no Êxodo bíblico. Há
sociedades em que as pessoas se suicidam quando percebem que perderam
credibilidade ou respeito público ou que cometeram desrespeitos às leis.
Noutras, o suicídio é proibido porque a Vida Humana é considerada uma dádiva
divina. E há sociedades em que impera o desrespeito às mulheres e noutras a
escravidão é algo trivial
2o - As pessoas, geralmente, são muito conservadoras e a "família"
constituída por pai, mãe e filhos é algo sagrado em várias comunidades.
Tanto é que o conceito de "casal" baseado em homossexualidade não é
convincente, mas algumas pessoas insistem nessa aceitação. Por que insistir:
seria para confundir a cabeça das crianças indecisas?
3o - Toda essa polêmica brasileira sobre o homossexualismo foi precedida de
uma intensa e progressiva campanha midiática a favor da sexualidade precoce
ou escancarada, como se mais nada existisse para as pessoas fazerem.
Antigamente, havia filmes proibidos para diversas idades, porque certos
temas envolvendo violência e sexualidade confundem crianças e jovens
despreparados ou imaturos. Infelizmente é o que mais a mídia transmite nos
horários diurnos e do anoitecer.
4o - Hoje, muitas crianças e adolescentes - perplexos ou confusos - querem
saber o que é "promiscuidade", porque não possuem, ainda, a menor noção ou a
capacidade de discernimento, e são induzidas a pensar que sexo seguro
consiste em apenas usar camisinha. E a população cresce sem controle-
incentivada por campanhas do governo para o uso da camisinha - associado ao
incrível crescimento do número de mães adolescentes!
5o - A obsessão pelo sexo - em qualquer tipo de envolvimento animal,
intensidade ou nível de expressão pública - pode ser associada com pessoas
mal resolvidas ou mesmo doentes - independentemente de sua opção sexual.
6o - Há heterossexuais e homossexuais muito dignos- que vivem sua vida
pessoal sem alarde e que não fazem propaganda nem pregam sua opção sexual de
forma ostensiva.
7o - Aliás, no rastro dessa barulhenta e espalhafatosa campanha pública de
aceitação dos gays, já surgiu um movimento juvenil discreto e silencioso de
"orgulho hetero", inclusive na UFRJ.
8o - Existem várias formas pacíficas para as pessoas expressarem sua
aceitação ou rejeição por fatos. O que deve ser rejeitado são os atos
violentos. E isso vem ocorrendo, pois a polícia, geralmente, enfrenta e
prende pessoas violentas que são preconceituosas simultaneamente contra
pessoas que consideram "inferiores" com "gays, lésbicas, negros,
nordestinos, judeus, islâmicos, etc".
9o - Homofobia tem sido descrito como crime. Preconceito de cor ou religioso
(em especial para a raça negra) também é. Mas, se alguém apresentar um gesto
ou sentimento de rejeição por pessoas que incomodam outras, está sujeito a
ser considerado "criminoso" porque os ofendidos reagem escandalosamente. E
quando as pessoas ofendem-se com facilidade por qualquer pretexto ou motivo,
as coisas ficam muito mais difíceis de resolver.
10o - A rápida profusão de leis inovadoras precisa de tempo para ser
absorvida por milhões de pessoas, muitas delas analfabetas, outras
desinformadas e outras que não estão nem aí...
11o - Não se pode dizer genericamente que "homofobia é um crime contra a
igualdade sexual". Se existe diversidade sexual, como tratar tudo como
"igual"? Aliás, "igualdade sexual" significar satisfazer seus instintos
pessoais com homens e mulheres e animais?
12o - Houaiss (junho de 2009) destaca que "fobia" significa, também,
"aversão", "falta de tolerância", que nem sempre estão associadas com a
violência. A pressa na aprovação da lei baseia-se, provavelmente, num "medo
exagerado", "estado de angústia, impossível de ser dominado, que se traduz
por violenta reação de evitamento e que sobrevém de modo relativamente
persistente, quando certos objetos, tipos de objeto ou situações se fazem
presentes, imaginados ou mencionados. E ainda: "as fobias são classificadas
entre as neuroses de angústia, na teoria clássica das neuroses".
13o - O risco que se corre é o de submeter as pessoas comuns a sofrerem
constrangimentos gerados por novas leis que criminalizam sentimentos de
aversão (inevitáveis ou, pelo menos, frequentes) e que turvam a visão das
pessoas sobre crimes de segurança pública e econômica muito graves e que
infelicitam o povo em geral e permanecem impunes.
14o - O ditado popular ensina que "o apressado come crú" e pode sofrer uma
forte decepção. Outro ditado popular ensina que "o bom cabrito não berra". E
ainda um terceiro ditado popular ensina que "devagar se vai longe".
15o - O que se afigura como imperioso é a importância de valorizar o
"respeito entre as pessoas" e destas com as leis vigentes. Se aumentarmos o
nosso nível de respeito ao próximo e às leis, será desnecessário fazer tanto
escarcéu em favor dos direitos dos oprimidos (porque qualquer um pode sofrer
opressão a qualquer instante).
16o - Diante disso tudo que afeta a todos os brasileiros, de modo consciente
ou não, o assunto "educação contra a homofobia" foi tratado como objeto de
barganha política. Feliz ou infelizmente, Aristóteles ensinou que o "homem é
um animal político" e ele usou o termo "homem" numa época diferente da
nossa, em que usamos a palavra "pessoa". Hoje, são tantas as mulheres
exercendo cargos políticos, que se pode dizer que "elas também são animais
políticos".
Prof. Abraham Zakon
Escola de Química, Centro de Tecnologia, UFRJ
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-----Mensagem original-----
De: forum-prof-bounces at if.ufrj.br [mailto:forum-prof-bounces at if.ufrj.br] Em
nome de lilia at astro.ufrj.br
Enviada em: domingo, 29 de maio de 2011 13:34
Para: forum-prof
Assunto: [forum-prof] Estadão - O difícil de entender é como o material
didático de combate à discriminação se viu reduzido à propaganda de opções
sexuais.
Jornal O Estado de S. Paulo Caderno Aliás - Domingo, 29 de maio de 2011,
J3
CONTEÚDO INADEQUADO
A presidente Dilma Roussef manda suspender o kit anti-homofobia do MEC para
distribuição nas escolas, que qualificou como inadequado. A ordem foi dada
após parlamentares evangélicos ameaçarem endossar uma CPI para investigar o
chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.
Kit-Polêmica
Debora Diniz
Professora da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis Instituto de
Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
A história ainda é nebulosa. Parece um daqueles eventos políticos em que os
fatos são piores que os rumores. O teatro público foi o
seguinte: o Ministério da Educação anunciou a distribuição de material
didático de combate à homofobia nas escolas de ensino médio; um grupo de
parlamentares evangélicos reagiu ao que foi descrito como kit gay e
pressionou o governo contra a iniciativa; a presidente anunciou o veto ao
material didático do MEC. As breves palavras da presidente sobre o ocorrido
se resumiram a não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer
propaganda de opções sexuais. Não arrisco dizer que essa foi a primeira
grande polêmica do governo Dilma, mas pressinto uma atualização da patrulha
moralista que a perseguiu durante a campanha presidencial. O primeiro
capítulo desse teatro parece ser o único a sobreviver como relato oficial da
história. O MEC produziu um material didático para a sensibilização e o
combate à homofobia nas escolas de ensino médio. O diagnóstico do MEC é
simples: a homofobia mata, persegue e violenta aqueles que estão fora da
norma heterossexista de classificação das sexualidades. Um adolescente gay
tem medo de ir à escola e ser discriminado. Há histórias de abandono escolar
e de suicídio. Uma das personagens do vídeo original do MEC se chama Bianca,
uma travesti que sai do armário ainda no período escolar. Seu primeiro ato
de rebeldia foi pintar as unhas de vermelho e ir à escola. A ousadia
rendeu-lhe um ano de silêncio familiar.
Ainda não entendo a controvérsia em torno desse material. O puritanismo que
crê ser possível falar de sexo e sexualidades sem exibir práticas e
performances foi respeitado pelo material do MEC.
Bianca é uma voz desencarnada em um vídeo sem movimento. Não vemos Bianca em
ação, conhecemos apenas o seu rosto. Só sabemos que Bianca existe, quer ir à
escola e sonha em ser professora. Ela insiste que para ser professora
precisa ir à escola. Mas ela depende da autorização dos homens homofóbicos
de sua sala de aula, que ameaçam agredi-la. Bianca agradece às suas
professoras e colegas que a reconhecem como uma estudante igual às outras.
Sozinha, a escola pode ser um espaço aterrorizante.
O segundo capítulo da história é mais difícil de acreditar. Grupos
evangélicos teriam substituído a história de Bianca por um vídeo vulgar, uma
fraude grotesca cometida por quem não suporta a igualdade sexual. Em
audiência com a presidente, teriam entregado o vídeo e, ao que se conta,
aproveitado a ocasião para conversar sobre a crise política que ronda o
ministro da Casa Civil, Antônio Palocci. Entre as peripécias de Palocci, as
travestis em ato sexual e o fantasma da homossexualidade, a reação da
presidente foi suspender o material didático do MEC. O surpreendente não
está no uso de mentiras para a criação de fatos políticos, mas na proeza de
os grupos evangélicos terem conseguido convencer a presidente de que sua
equipe de governo do MEC seria tão medíocre na seleção de material didático
para as escolas públicas.
Se a presidente assistiu aos vídeos reais ou aos fraudulentos, não importa.
O fato é que foi anunciado o veto ao material didático do MEC uma vitória
para os conservadores, que não sossegam desde que o Supremo Tribunal Federal
reconheceu a igualdade sexual em matéria de família. Mas há uma injustiça
covarde nessa decisão. O tema do material era a homofobia, algo diferente de
propaganda de opções sexuais. Na verdade, jamais assisti a um vídeo de
propaganda de algo tão íntimo e da esfera da privacidade quanto a opção ou o
desejo sexual consentido. Homofobia é um crime contra a igualdade, viola o
direito ao igual reconhecimento, impede o pleno desenvolvimento de um
adolescente. Homofobia é o que faz Bianca ter medo de ir à escola.
O verdadeiro material do MEC tem um objetivo claro: sensibilizar professoras
e estudantes para a mudança de mentalidades. Uma sociedade igualitária não
discrimina os fora da norma heterossexista e reconhece Bianca como uma
adolescente com direitos iguais aos de suas colegas.
Mas, diferentemente do fantasma conservador, a mudança de mentalidades não
prevê uma subversão da ordem sexual os adolescentes não serão seduzidos
por propagandas sexuais a abandonarem a heterossexualidade.
A verdade é que o material do MEC não revoluciona a soberania da moral
heterossexista, mas contesta a falsa presunção de que a homofobia é um
direito de livre expressão. Homofobia é um crime contra a igualdade sexual.
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