Naomar: Formação no Brasil ainda é vocaci onal
LuizEduardo
luizeduardo.email at yahoo.com.br
Thu May 19 18:38:10 BRT 2011
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><http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/materia/index.php?origem=2&matid=25520>http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/materia/index.php?origem=2&matid=25520
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>Formação no Brasil ainda é vocacional
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><mailto:informe at ensp.fiocruz.br>Filipe Leonel
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>Os modelos que orientaram a formação curricular universitária no
>Brasil, Europa e Estados Unidos foram apresentados, na quarta-feira
>(18/5), pelo pesquisador do Instituto de Saúde Coletiva da
>Universidade Federal da Bahia Naomar de Almeida Filho no Centro de
>Estudos da ENSP. O pesquisador, que foi reitor da UFBA durante oito
>anos, apresentou o modelo 'cabanista vocacional' que influenciou a
>formação universitária no Brasil, citou o desprezo em relação ao
>Modelo Flexneriano de matriz disciplinar e pedagógica baseado no
>regime de ciclos e afirmou que o país pode ser um dos únicos no
>mundo a manter o modelo de formação universitária baseado na
>Revolução Francesa.
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>Naomar iniciou sua palestra discorrendo sobre a formação das
>universidades no mundo. A primeira instituição reconhecida como tal,
>segundo ele, foi a de Bolonha, na Itália, no século XXI, seguida
>pela Universidade de Oxford e a de Paris - considerada central,
>junto com a Universidade de Coimbra, na história da universidade
>brasileira. Porém, do século XVI ao XVIII, as universidades passaram
>a enfrentar sérias crises, apesar de ser, paradoxalmente, um momento
>de explosão do conhecimento científico no mundo. "Esse período
>constitui, na formação das ideias no mundo, uma época em que a
>instituição chamada universidade resistia à ciência. Resistia porque
>os sujeitos que a constituíam estavam nas unidades orgânicas
>chamadas faculdades, as quais, nessa fase, já se atribuíam como
>entes da conservação e da referência pela tradição."
>
>O modelo Cabanis e a apologia das disciplinas
>
>No entanto, a Revolução Francesa se tornou uma resolução para essa
>crise ao extinguir as universidades francesas. A partir daquele
>momento, o médico Pierre-Jean-Georges Cabanis iniciou não apenas uma
>reforma universitária, mas implantou uma forma de organização
>baseada nas faculdades. "As faculdades superiores se autonomizaram
>nesse momento, pois a instituição que as justificavam deixou de ter
>um sentido político com a Revolução Francesa. A consequência disso
>no século XIX foi uma hegemonia da formação profissional, ou seja, o
>que era uma instituição de cultura e do conhecimento se tornou uma
>instituição promotora de formação técnica e profissional, quero
>dizer, vocacional. Cabanis faz uma apologia das disciplinas. Seu
>modelo fragmentou a formação. A reforma foi uma resposta à crise
>universitária, mas a tornou apenas um organismo coordenador de
>entidades independentes: as faculdades. E isso ainda é comum entre
>nós no Brasil."
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>Na sequência, Naomar se referiu ao educador Abraham Flexner. Citou a
>escola de cunho experimental fundada por ele, em que, durante quinze
>anos como mestre, desenvolveu métodos pedagógicos considerados de
>vanguarda em termos de modelo educacional. "A Flexner School foi uma
>instituição inovadora, centrada na motivação e no cultivo das
>vocações, sem provas, sem verificação de presença, sem normas
>punitivas. O sucesso de Flexner foi tão extraordinário que vários de
>seus alunos conseguiram aprovação nas universidades mais
>prestigiosas e concorridas dos Estados Unidos", destacou.
>
>"O que se fala ou se escreve sobre Flexner não corresponde ao que
>ele pensou, escreveu ou defendeu"
>
>O pesquisador da UFBA mencionou as várias inconsistências,
>contradições e omissões nos fragmentos referenciadores ao relatório
>proposto por Flexner. De acordo com ele, foi reproduzida uma cultura
>pedagógica anti-Flexner, na qual se identificaram diversos elementos
>ou defeitos centrados numa perspectiva exclusivamente biologicista
>de doença, com negação da determinação social da saúde; formação
>laboratorial no Ciclo Básico; formação clínica em hospitais;
>estímulo à disciplinaridade, numa abordagem reducionista do
>conhecimento. "Do ponto de vista pedagógico, o modelo de ensino
>preconizado por Flexner foi considerado massificador, passivo,
>hospitalocêntrico, individualista e tendente à superespecialização,
>com efeitos nocivos (e até perversos) sobre a formação profissional
>em saúde. Porém, tudo o que se fala ou se escreve sobre Flexner não
>corresponde ao que ele pensou, escreveu ou defendeu", justificou.
>
>Flexner fiananciou propostas de reforma curricular que levavam em
>consideração seu relatório, como a integração da Escola Médica na
>Universidade, o curso médico como Pós-Graduação e o college como
>requisito de ingresso nas formações universitárias. Além disso,
>conforme afirmou o expositor, sugeriu a dedicação exclusiva do corpo
>docente e o controle social da prática médica. "Ao ter sucesso em
>postular e tornar o college, inicialmente com pelo menos dois anos,
>e depois o curso pleno de quatro anos, como padrão de requerimento
>para entrada na escola médica, Flexner na prática definiu o modelo
>norte-americano de arquitetura curricular universitária. Portanto,
>seu projeto de estrutura de educação superior em ciclos foi de tal
>maneira absorvido por toda a rede de formação universitária nos
>Estados Unidos."
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>
>Brasil ainda segue modelo vocacional de formação
>
>Antes de se referir ao modelo de universidade brasileira, o
>pesquisador resumiu o que chamou de mapa histórico das
>universidades. "Do século XXI ao VX tivemos o modelo medieval. A
>partir do XVI e até o início do XXI tivemos o vocacional, cuja
>finalidade era formar sujeitos para compor profissões graças a
>reforma Cabanis. Esse foi chamado regime linear de formação, pois
>tinha base nas faculdades e na hegemionia da profissão, em que a
>pessoa não se forma na universidade, se forma na faculdade. Em
>compensação, com a implantação da universidade de pesquisa, a
>produção do conhecimento se tornou o principal produto das
>instituições e, em função de uma série de eventos no século XX, os
>países abandonaram o modelo de Cabanis, e as universidades se
>comprometem com o regime de ciclos."
>
>O palestrante revelou, ainda, que o Brasil teve uma experiência com
>o modelo de ciclos em 1935, com Anisio Teixeira, na criação da
>Universidade do Distrito Federal. Porém, a ditadura Vargas abortou e
>reprimiu o planejamento de implantação. Posteriormente, ainda de
>acordo com ele, Anísio foi convocado para o planejamento da UNB na
>criação de Brasillia pelo Presidente Juscelino, mas o golpe militar
>de 64 o destituiu do cargo de reitor, assim como na Federal de Minas
>Gerais. "Atualmente, a universidade brasileira possui um aspecto
>curioso, pois continua mantendo o modelo vocacional. Seguimos áquela
>universidade recuperada na Revolução Francesa e corremos o risco de
>sermos o 'último bastião' da reforma de Cabanis."
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