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<blockquote type=cite class=cite cite=""><font size=3><br><br>
</font><div align="right"><font size=1>
<a href="http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/materia/index.php?origem=2&matid=25520">
http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/materia/index.php?origem=2&matid=25520</a>
</font><font size=3><br>
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</font><div align="center"><h1><b>Formação no Brasil ainda é
vocacional</b></h1><font size=3><br>
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<div align="right"><i><a href="mailto:informe@ensp.fiocruz.br">Filipe
Leonel</a></i> <br>
</div>
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Os modelos que orientaram a formação curricular universitária no Brasil,
Europa e Estados Unidos foram apresentados, na quarta-feira (18/5), pelo
pesquisador do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da
Bahia Naomar de Almeida Filho no Centro de Estudos da ENSP. O
pesquisador, que foi reitor da UFBA durante oito anos, apresentou o
modelo 'cabanista vocacional' que influenciou a formação universitária no
Brasil, citou o desprezo em relação ao Modelo Flexneriano de matriz
disciplinar e pedagógica baseado no regime de ciclos e afirmou que o país
pode ser um dos únicos no mundo a manter o modelo de formação
universitária baseado na Revolução Francesa. <br><br>
<img src="http://www.ensp.fiocruz.br/informe-images/ceensp_naomar_margareth.jpg" width=340 height=237 alt="[]">
<br>
Naomar iniciou sua palestra discorrendo sobre a formação das
universidades no mundo. A primeira instituição reconhecida como tal,
segundo ele, foi a de Bolonha, na Itália,
</font><font size=3 color="#FE424E"><b>no século
XXI,</b></font><font size=3> seguida pela Universidade de Oxford e a de
Paris - considerada central, junto com a Universidade de Coimbra, na
história da universidade brasileira. Porém, do século XVI ao XVIII, as
universidades passaram a enfrentar sérias crises, apesar de ser,
paradoxalmente, um momento de explosão do conhecimento científico no
mundo. "Esse período constitui, na formação das ideias no mundo, uma
época em que a instituição chamada universidade resistia à ciência.
Resistia porque os sujeitos que a constituíam estavam nas unidades
orgânicas chamadas faculdades, as quais, nessa fase, já se atribuíam como
entes da conservação e da referência pela tradição." <br><br>
<b>O modelo Cabanis e a apologia das disciplinas</b> <br><br>
No entanto, a Revolução Francesa se tornou uma resolução para essa crise
ao extinguir as universidades francesas. A partir daquele momento, o
médico Pierre-Jean-Georges Cabanis iniciou não apenas uma reforma
universitária, mas implantou uma forma de organização baseada nas
faculdades. "As faculdades superiores se autonomizaram nesse
momento, pois a instituição que as justificavam deixou de ter um sentido
político com a Revolução Francesa. A consequência disso no século XIX foi
uma hegemonia da formação profissional, ou seja, o que era uma
instituição de cultura e do conhecimento se tornou uma instituição
promotora de formação técnica e profissional, quero dizer, vocacional.
Cabanis faz uma apologia das disciplinas. Seu modelo fragmentou a
formação. A reforma foi uma resposta à crise universitária, mas a tornou
apenas um organismo coordenador de entidades independentes: as
faculdades. E isso ainda é comum entre nós no Brasil." <br><br>
<img src="http://www.ensp.fiocruz.br/informe-images/ceensp_naomar.jpg" width=128 height=85 alt="[]">
Na sequência, Naomar se referiu ao educador Abraham Flexner. Citou a
escola de cunho experimental fundada por ele, em que, durante quinze anos
como mestre, desenvolveu métodos pedagógicos considerados de vanguarda em
termos de modelo educacional. "A Flexner School foi uma instituição
inovadora, centrada na motivação e no cultivo das vocações, sem provas,
sem verificação de presença, sem normas punitivas. O sucesso de Flexner
foi tão extraordinário que vários de seus alunos conseguiram aprovação
nas universidades mais prestigiosas e concorridas dos Estados
Unidos", destacou. <br><br>
<b>"O que se fala ou se escreve sobre Flexner não corresponde ao que
ele pensou, escreveu ou defendeu"</b> <br><br>
O pesquisador da UFBA mencionou as várias inconsistências, contradições e
omissões nos fragmentos referenciadores ao relatório proposto por
Flexner. De acordo com ele, foi reproduzida uma cultura pedagógica
anti-Flexner, na qual se identificaram diversos elementos ou defeitos
centrados numa perspectiva exclusivamente biologicista de doença, com
negação da determinação social da saúde; formação laboratorial no Ciclo
Básico; formação clínica em hospitais; estímulo à disciplinaridade, numa
abordagem reducionista do conhecimento. "Do ponto de vista
pedagógico, o modelo de ensino preconizado por Flexner foi considerado
massificador, passivo, hospitalocêntrico, individualista e tendente à
superespecialização, com efeitos nocivos (e até perversos) sobre a
formação profissional em saúde. Porém, tudo o que se fala ou se escreve
sobre Flexner não corresponde ao que ele pensou, escreveu ou
defendeu", justificou. <br><br>
Flexner fiananciou propostas de reforma curricular que levavam em
consideração seu relatório, como a integração da Escola Médica na
Universidade, o curso médico como Pós-Graduação e o college como
requisito de ingresso nas formações universitárias. Além disso, conforme
afirmou o expositor, sugeriu a dedicação exclusiva do corpo docente e o
controle social da prática médica. "Ao ter sucesso em postular e
tornar o college, inicialmente com pelo menos dois anos, e depois o curso
pleno de quatro anos, como padrão de requerimento para entrada na escola
médica, Flexner na prática definiu o modelo norte-americano de
arquitetura curricular universitária. Portanto, seu projeto de estrutura
de educação superior em ciclos foi de tal maneira absorvido por toda a
rede de formação universitária nos Estados Unidos." <br><br>
<img src="http://www.ensp.fiocruz.br/informe-images/ceensp_naomar_plateia.jpg" width=340 height=227 alt="[]">
<br><br>
<b>Brasil ainda segue modelo vocacional de formação</b> <br><br>
Antes de se referir ao modelo de universidade brasileira, o pesquisador
resumiu o que chamou de mapa histórico das universidades.
"</font><font size=3 color="#FD292C"><b>Do século XXI ao VX
</b></font><font size=3>tivemos o modelo medieval. A partir do XVI e até
o início do XXI tivemos o vocacional, cuja finalidade era formar sujeitos
para compor profissões graças a reforma Cabanis. Esse foi chamado regime
linear de formação, pois tinha base nas faculdades e na hegemionia da
profissão, em que a pessoa não se forma na universidade, se forma na
faculdade. Em compensação, com a implantação da universidade de pesquisa,
a produção do conhecimento se tornou o principal produto das instituições
e, em função de uma série de eventos no século XX, os países abandonaram
o modelo de Cabanis, e as universidades se comprometem com o regime de
ciclos." <br><br>
O palestrante revelou, ainda, que o Brasil teve uma experiência com o
modelo de ciclos em 1935, com Anisio Teixeira, na criação da Universidade
do Distrito Federal. Porém, a ditadura Vargas abortou e reprimiu o
planejamento de implantação. Posteriormente, ainda de acordo com ele,
Anísio foi convocado para o planejamento da UNB na criação de Brasillia
pelo Presidente Juscelino, mas o golpe militar de 64 o destituiu do cargo
de reitor, assim como na Federal de Minas Gerais. "Atualmente, a
universidade brasileira possui um aspecto curioso, pois continua mantendo
o modelo vocacional. Seguimos áquela universidade recuperada na Revolução
Francesa e corremos o risco de sermos o 'último bastião' da reforma de
Cabanis."<br><br>
</font></blockquote></body>
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