[forum-prof] A Linguística do MEC
Luiz Eduardo email
luizeduardo.email at yahoo.com.br
Sun Jan 31 13:56:02 BRST 2010
<http://veja.abril.com.br/blog/mainardi/na-revista/herbert-richers-vive/>Herbert
Richers vive
Diogo Mainardi
VEJA
9 de janeiro de 2010
"Herbert Richers transformou nossa linguagem. Ele revogou todas as
regras que constrangiam nossa fala. Em particular, ele nos libertou
da estapafúrdia necessidade de expressar um sentido"
A morte de Herbert Richers foi o acontecimento mais marcante de 2009.
O mais marcante e, desoladoramente, o mais negligenciado. Herbert
Richers montou seu estúdio de dublagem em 1950. Em seis décadas de
trabalho, adaptando filmes, seriados de TV e desenhos animados, ele
contribuiu de maneira decisiva para moldar e disseminar o dialeto
tapuio com o qual passamos a nos comunicar.
Se a língua portuguesa teve Camões com seus latinismos, com seus
volteios eruditos, com sua sonoridade épica , o patoá nacional teve
Herbert Richers com seus estrangeirismos, com seus falsos cognatos,
com sua sonoridade de locutor de rádio. De dublagem em dublagem,
Herbert Richers transformou nossa linguagem. Violentando predicados,
pervertendo complementos, corrompendo particípios, ele revogou todas
as regras que constrangiam nossa fala. Em particular, ele nos
libertou da estapafúrdia necessidade de expressar um sentido. Mas ele
foi mais longe do que isso. Além de revolucionar nossa linguagem,
Herbert Richers revolucionou também nossa moral. Quando Jack Lemmon,
numa comédia de Billy Wilder, tem a mesma voz e, principalmente, os
mesmos atributos estéticos de Salsicha, num episódio do desenho
animado Scooby-Doo (ambos Jack Lemmon e Salsicha dublados por
Mário Monjardim), o resultado só pode ser uma sociedade como a nossa,
em que todos os valores se equivalem e, portanto, se anulam.
No Brasil, atualmente, Dilma Rousseff é quem melhor encarna a
reviravolta moral e linguística realizada por Herbert Richers. Ela é
o epígono ideal de Carlos Campanile (dublador de Clint Eastwood, Al
Pacino, Robert de Niro e Thor dos Cavaleiros do Zodíaco), de Garcia
Neto (dublador de Gregory Peck e do Homem-Fera) e de Sumara Louise
(dubladora do desenho Gasparzinho e de Meryl Streep). Se alguém lhe
pergunta por que as obras do programa Minha Casa, Minha Vida
continuam paradas, Dilma Rousseff responde como um médico-legista,
num filme estrelado por Bruce Willis (ambos Dilma Rousseff e Bruce
Willis dublados por Newton da Matta): "Olha, não é isso que nós
estamos vendo. Não é isso que a gente está vendo e eu vou te falar a
partir do que. Hoje, já tem mais de 400 projetos apresentados para a
Caixa, dominantemente naquela distribuição em que zero a três é o
pessoal que faz a moradia para renda de zero a três salários mínimos,
é a grande maioria".
Sim, a morte de Herbert Richers, ocorrida dois meses atrás, foi o
acontecimento mais marcante de 2009. Mas ele estará sempre presente em 2010.
Por Diogo Mainardi
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