<html>
<body>
<font size=3><br><br>
<br>
</font><div align="center"><h2><b>
<a href="http://veja.abril.com.br/blog/mainardi/na-revista/herbert-richers-vive/">
Herbert Richers vive</a></b></h2><font size=3><b>Diogo Mainardi<br>
</font></div>
<div align="right"><font size=2>VEJA<br>
9 de janeiro de 2010<br><br>
</font></div>
<div align="center"><font size=3>“Herbert Richers transformou nossa
linguagem. Ele revogou todas as regras que constrangiam nossa fala. Em
particular, ele nos libertou da estapafúrdia necessidade de expressar um
sentido”<br><br>
</b></div>
A morte de Herbert Richers foi o acontecimento mais marcante de 2009. O
mais marcante e, desoladoramente, o mais negligenciado. Herbert Richers
montou seu estúdio de dublagem em 1950. Em seis décadas de trabalho,
adaptando filmes, seriados de TV e desenhos animados, ele contribuiu de
maneira decisiva para moldar e disseminar o dialeto tapuio com o qual
passamos a nos comunicar.<br><br>
Se a língua portuguesa teve Camões – com seus latinismos, com seus
volteios eruditos, com sua sonoridade épica –, o patoá nacional teve
Herbert Richers – com seus estrangeirismos, com seus falsos cognatos, com
sua sonoridade de locutor de rádio. De dublagem em dublagem, Herbert
Richers transformou nossa linguagem. Violentando predicados, pervertendo
complementos, corrompendo particípios, ele revogou todas as regras que
constrangiam nossa fala. Em particular, ele nos libertou da estapafúrdia
necessidade de expressar um sentido. Mas ele foi mais longe do que isso.
Além de revolucionar nossa linguagem, Herbert Richers revolucionou também
nossa moral. Quando Jack Lemmon, numa comédia de Billy Wilder, tem a
mesma voz e, principalmente, os mesmos atributos estéticos de Salsicha,
num episódio do desenho animado Scooby-Doo (ambos – Jack Lemmon e
Salsicha – dublados por Mário Monjardim), o resultado só pode ser uma
sociedade como a nossa, em que todos os valores se equivalem e, portanto,
se anulam.<br><br>
No Brasil, atualmente, Dilma Rousseff é quem melhor encarna a reviravolta
moral e linguística realizada por Herbert Richers. Ela é o epígono ideal
de Carlos Campanile (dublador de Clint Eastwood, Al Pacino, Robert de
Niro e Thor dos Cavaleiros do Zodíaco), de Garcia Neto (dublador de
Gregory Peck e do Homem-Fera) e de Sumara Louise (dubladora do desenho
Gasparzinho e de Meryl Streep). Se alguém lhe pergunta por que as obras
do programa Minha Casa, Minha Vida continuam paradas, Dilma Rousseff
responde como um médico-legista, num filme estrelado por Bruce Willis
(ambos – Dilma Rousseff e Bruce Willis – dublados por Newton da Matta):
“Olha, não é isso que nós estamos vendo. Não é isso que a gente está
vendo e eu vou te falar a partir do que. Hoje, já tem mais de 400
projetos apresentados para a Caixa, dominantemente naquela distribuição
em que zero a três é o pessoal que faz a moradia para renda de zero a
três salários mínimos, é a grande maioria”.<br><br>
Sim, a morte de Herbert Richers, ocorrida dois meses atrás, foi o
acontecimento mais marcante de 2009. Mas ele estará sempre presente em
2010.<br><br>
Por Diogo Mainardi <br>
<div align="center">
<a href="http://www.abril.com.br/?utm_source=barra_abril&utm_medium=veja&utm_campaign=barra_abril_veja">
</a><br>
</font></div>
</body>
</html>