[forum-prof] Publicionismo nefasto

Abraham Zakon azakon2 at globo.com
Fri Jan 15 12:21:45 BRST 2010 

Caríssimo colega Antonio Carlos.

O que Você declara complementa-se (e não conflita) com o que Leandro,
Respício, Luiz Eduardo e outros colegas escreveram.

O que é estarrecedor é a nossa vida acadêmica ser modulada ou governada por
critérios publicionistas emanados do ambiente da pós-graduação e pesquisa.

A pós-graduação passou a ser mais importante do que a graduação, e isso é
nefasto.

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Só tenho artigos publicados no Brasil, e hoje prefiro publicar pouco, mas
com qualidade aceitável pelo grande público.

Não sei quando irei publicar no exterior, mas isso pesa muito no curso de
pós-graduação no curso em que leciono regularmente, no qual fui descartado
do corpo permanente para o de colaboradores, onde a porodutividade é
crucial. 

Quando, por motivos particulares, deixei de conseguir bolsas para meus
alunos, perdi oportunidades de orientação. 

E esses números pesaram, além de depender de verbas de pesquisa.

Para concursos de professor titular e outros níveis abaixo, pesa o número de
publicações e de "pós-doc" e não interessa se o docente é antigo e
experiente.


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Desconheço se Você faz pesquisas experimentais ou teóricas (que são menos
onerosas, e, por vezes, dependem de bons computadores).

Há também o caso de revistas que só aceitam publicações se o autor - além de
ser aceito pelo conteúdo - pagar pelo serviço em dólares ou euros.

Entendo que publicar em revistas brasileiras, ou patentear, equivale a
publicar em nível internacional, porque somos muito capazes de inovar e
divulgar ótimas contribuições.

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Em dezembro de 2009, estudei alguns temas de pesquisa consultando patentes
da área de reciclagem e foi fácil perceber como certas "tecnologias"
aparentemente saneadoras, ainda são poluidoras ou assassinas. 

Mas, o marketing empresarial é capaz de blindar os perigos ambientais em
várias áreas tecnológicas. Mas, há docentes universitários que se preocupam
com educação ou com a responsabilidade dos seus trabalhos de pesquisa.

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Certas áreas de pesquisa favorecem o publicionismo e as dificuldades
enfrentadas pelos pesquisadores e educadores (nossa principal função
universitária).

Então, as distorções do estado de espírito derivado do "publicionismo" são
evidentes para alguns colegas, sem demérito para os verdadeiros heróis que
publicam em revistas internacionais e conseguem a nossa admiração, porque
aparentemente há uma bateria de "filtros intelectuais" com malha fina, onde
só passam os "nanoartigos" de qualidade indiscutível.
 
Abraços.
 
Abraham Zakon


-----Mensagem original-----
De: forum-prof-bounces at if.ufrj.br [ <mailto:forum-prof-bounces at if.ufrj.br>
mailto:forum-prof-bounces at if.ufrj.br] Em nome de A C Fernandes
Enviada em: sexta-feira, 15 de janeiro de 2010 11:29
Para: leandrofilho at uol.com.br
Cc: FORUM-prof at listas.if.ufrj.br
Assunto: Re: [forum-prof] Produtividade Neofascista

COLEGAS DO FORUM,

Assim não é possível. Inventaram agora o conceito publicionismo.

Publicar em nível internacional na minha opinião é retribuir a cooperação
que recebemos de inúmeros trabalhos internacionais que usamos
  diuturnamente para realizar pesquisas avançadas, sejam elas acadêmicas,
sejam elas aplicadas.

Para mim, trata-se de uma das grandes conquistas da humanidade poder trocar
esta experiência de alto nível. É claro que segredos absolutos demoram para
aparecer, não são publicados, mas a fundamentação esta aí para quem  tiver
competência e quiser aproveitar.

Quem tenta, sabe que não é fácil publicar em revistas técnicas conceituadas.
É muito mais difícil do que ficar inventando conceitos diversionistas. Ao
invés de chamar a pessoa que publica (no Brasil onde faltam recursos e
ambiente) de publicionista deveriam chamar de herói.

Abrç
ANTONIO CARLOS





leandrofilho at uol.com.br escreveu:
> Prezados,
>
> O relato abaixo na mensagem do Respício, é simplesmente valioso,
> justamente por retratar uma situação inaceitável do ponto de vista
> acadêmico.
>
> Confesso que apesar das minhas críticas ao modelo atualmente
> consagrado de produtivismo acadêmico, eu não imaginava que uma
> aberração dessa estatura fosse perpetrada em uma universidade pública.
>
> É o predomínio ou a absolutização da burocracia publicacionista sobre
> o legítimo e notório saber.
>
> Guardadas as devidas proporções sócio-históricas, isso significa que
> Faraday estaria frito se precisasse de algum assento acadêmico na COPPE.
>
> 
>
> Leandro
>
>
> Em 13/01/2010 16:00, *Luiz Eduardo email <
> luizeduardo.email at yahoo.com.br >* escreveu:
>
>
>     At 12:00 13/1/2010 -0200, you wrote:
>
>         *Luiz Eduardo,
>
>         Ha' uns 3 ou 4 anos, nao me recordo bem, o "CEPGuinho" da COPPE
>         negou a participacao de um professor da COPPEAD numa banca de
>         Doutorado porque ele nao havia publicado em "revistas
>         internacionais indexadas de alta pontuacao" (os tais famosos
>         artigos "P1" na linguagem da COPPE) nos ultimos anos.
>         Entretanto, o tal professor havia escrito nada mais nada menos
>         que 4 livros, outros muitos capitulos de livros, orientado
>         nao-sei-quantas dissertacoes e teses, publicado/apresentado
>         artigos em dezenas de congressos no Brasil e no exterior, atuado
>         como professor-palestrante da ESG, na Escola de Guerra Naval,
>         etc., sendo considerado um dos mais renomados na area em
>         questao, inclusive internacionalmente.  E a COPPE negou ate' o
>         fim a participacao dele... porque o homem nao havia publicado
>         nehum "P1" recente!!!
>
>         Concordo em genero, numero e grau c/ o que vc, o Leandro e
>         outros têm escrito aqui sobre essa tirania demente de se
>         privilegiar e enaltecer apenas os que publicam os tais "P1".
>
>         Todo um contexto precisa ser analisado, assim como a area do
>         individuo, pois existem areas que podem "publicar" muito mais
>         (em numero, nao necessariamente em qualidade!!!) do que outras!!
>
>         Abracos,
>         Respicio
>         -------------*
>
>
>
>
>
>
>     Pois é, Respício...
>
>     tem muita gente, muitas nações, muitos povos, que exigem ser
DIFERENTES.
>
>     E depois, quando são tratados diferentemente, gritam, gemem e jogam
>     bombas.
>
>     Não estamos aqui reprimindo quem opta por se dedicar a produzir
>     artigos P1.
>     Palmas para eles.
>
>     Mas palmas igualmente para quem se sacrifica na coordenação dos
>     cursos de graduação
>     (jamais me pegarão pra isso... e também por isso aplaudirei de pé
>     que faz).
>
>     Esse é o ponto.
>     Não estamos criticando que publiquem.
>     Ou que desperdicem o escasso dinheiro com ciclovias.
>
>     O problema não é a burrice.
>     O problema é o totalitarismo.
>
>     O problema é que eles querem que todos sejam iguais a eles...
>
>     o que também é mentira...
>     porque se todos fossem iguais a eles...
>     então eles não conseguiri am as bolsas diferenciadas do CNPq.
>
>
>     Mas lógica... de totalitários ... quem há de conseguir ?
>
>
>     NÃO ESTAMOS FALANDO DE CIENCIA.
>     ESTAMOS TRATANDO DE PODER E DE POLÍTICA.
>     Estamos tratando de liberdades.
>     E de justiça.
>
>     o tempo todo.
>
>
>     L.E.
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