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Mon Jan 11 19:05:31 BRST 2010


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Como não fazer um artigo

8/1/2010

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Os fundamentos da redação científica tiveram
importantes transformações nos últimos anos, mas essas mudanças ainda
não foram integralmente assimiladas por grande parte dos
pesquisadores, que reproduzem – e muitas vezes ensinam – equívocos
teóricos e conceituais que podem até mesmo retardar o avanço da
ciência.

Essa é a opinião de Gilson Volpato, professor do Departamento de
Fisiologia do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), que em seu novo livro, Pérolas da redação
científica, analisa criticamente 101 equívocos comuns – ou “pérolas”.

Volpato vem apresentando pelo país cursos sobre redação científica e
publicou outros cinco livros sobre o assunto, sendo o mais recente
desses Bases teóricas da redação científica ... por que seu artigo foi
negado, lançado em 2007.

“Apresento quase um curso por semana sobre o tema, procurando ajudar
pesquisadores a conseguir publicações em revistas internacionais de
alto nível. Mas também há muitos que, de forma involuntária, têm feito
o serviço contrário. Desenvolveu-se, no Brasil, uma cultura de
publicação equivocada. Boa parte dos artigos nacionais, mesmo com
tradução correta, será recusada em revistas importantes, por terem
equívocos conceituais”, disse à Agência FAPESP.

Com a experiência acumulada nos cursos e em seu convívio com o meio
acadêmico, Volpato decidiu produzir um inventário dos principais
equívocos da redação cientifica. “A ideia foi abordar os erros mais
gritantes. O resultado foi essa coleção de ‘pérolas’ da cultura
nacional de publicação”, disse.

Na obra, o autor analisa os equívocos, faz conjecturas sobre suas
origens, discute suas consequências na prática e oferece correções com
base nos padrões internacionais de produção científica.

Segundo ele, os conceitos de comunicação no setor sofreram grande
mudança a partir da década de 1990, que se acentuou ainda mais nos
últimos dez anos, em parte por causa do advento da internet.

“Muitos pesquisadores cometem equívocos e alegam que estão apenas
seguindo os procedimentos adotados por seus orientadores há 30 anos.
Mas as coisas mudaram e a comunicação científica evoluiu. Os leitores
vão se surpreender, pois muitas das pérolas descritas no livro irão
corresponder exatamente ao que eles continuam ouvindo de seus
orientadores”, afirmou.

A internet, segundo Volpato, subverteu a lógica das revistas
científicas, causando impacto nas necessidades e objetivos dos
artigos. “Antes o veículo era o foco. O assinante recebia uma
determinada revista científica e ali entrava em contato com diversos
artigos. Hoje ocorre o inverso. A pessoa faz uma busca por
palavras-chave na internet e chega ao artigo diretamente.
Eventualmente, o cientista fica conhecendo a revista por meio do
artigo e não o contrário”, disse.

Se antes da internet o leitor precisava ir em busca dos autores, hoje
os autores procuram chegar aos leitores. “Antigamente o leitor
precisava ir heroicamente atrás dos poucos artigos disponíveis. Mas
agora ele precisa fazer uma triagem dos milhares de artigos a que tem
acesso. Com isso, a necessidade de se fazer uma comunicação eficiente
é muito mais importante – e esse fato está mudando a estrutura dos
artigos”, declarou.

Nessa nova lógica, os velhos hábitos de redação científica se
transformam em “pérolas” recorrentes, segundo Volpato. Um dos
equívocos, por exemplo, é acreditar que o número de referências
bibliográficas implica qualidade científica. Outro, consiste em achar
que todos os dados coletados no projeto devem fazer parte do texto.

“Vemos equívocos de todos os níveis. Um exemplo é achar que estudos
quantitativos são mais robustos que os qualitativos. Outro é acreditar
que a redação cientifica exige regras rígidas de estilo – ou que a voz
passiva é característica do inglês científico. Achar que o título deve
conter, necessariamente, o nome da espécie de estudo. Há também
pérolas que são fruto do conservadorismo, como sustentar que
introdução e justificativa são itens separados. Ou achar que revistas
eletrônicas têm menos prestígio que as impressas”, destacou.

Textos em inglês

Para Volpato, a globalização das revistas científicas de alcance
internacional está nivelando as publicações por cima. Essa
consequência positiva, entretanto, deverá forçar também para cima o
nível de exigência para aceitação dos artigos.

“A maioria das revistas brasileiras, mesmo as que estão na base ISI, é
citada apenas por brasileiros. Poucas são, de fato, internacionais e
temos que melhorar nosso nível. O primeiro passo, claro, é que a
publicação seja em inglês. Temos que compreender que o fato de uma
publicação ter alcance internacional tem uma consequência benéfica
para a ciência: a seleção dos artigos é feita por pessoas de várias
culturas e isso representa um crivo crítico de maior qualidade”,
afirmou.

O livro, de acordo com Volpato, é direcionado para a redação
científica em geral, incluindo todas as áreas das ciências biológicas,
ciências da vida, humanas e exatas.

“O foco está no que chamamos de ciência empírica – que é aquela
ciência que precisa de dados para ter conclusões. Portanto, não se
aplica muito bem à filosofia, por exemplo. Mas poderá ser utilizado
pela maior parte dos pesquisadores das outras áreas”, disse.




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