[forum-prof] Chico de Oliveira no Valor Economico (27/maio/2009)
JOSE RIBAS VIEIRA
jribas at puc-rio.br
Thu May 28 11:32:09 BRT 2009
> Está excelente já botei em todos os blogs já mandei os monitores de
direito lerem. Está imperdível Ribas
>
>
> <http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?dtmateria=27-5-2009&codmateria=5587189&codcategoria=195&tp=12&searchTerm=francisco_de_oliveira>"Consenso
> despolitiza sociedade e coloca Lula à direita de FHC"
>
>
> Qual a avaliação que o senhor faz do governo Lula, já em seu
> penúltimo ano? O senhor rompeu publicamente com o PT em 2003, mas
> depois declarou voto pela reeleição de Lula em 2006...
> A minha declaração de voto em 2006 foi uma atitude política. Lula
> estava sob ataque de forças opositoras naquele momento e havia a
> esperança, uma palavra que nem gosto de usar, de que um segundo
> mandato fosse promotor de mudanças, mas hoje podemos ver que não
> houve nenhuma mudança e essa chance passou. O governo de Lula,
> concretamente, não demonstrou nenhum avanço social no plano dos
> direitos. Do ponto de vista da condução econômica é uma administração
> medíocre, que pensou que se salvaria da crise global e percebe-se que
> não tem nenhum domínio da situação. Economicamente o governo Lula é
> um barco à deriva, que se as ondas forem boas chega a um bom porto, e
> caso contrário, não.
>
> Que comparação pode-se fazer com o governo FHC?
> Lula está à direita de Fernando Henrique [Cardoso] ao não recompor as
> estruturas do Estado e não avançar na ampliação de direitos. O
> presidente tenta se legitimar promovendo consensos que passam pela
> cooptação dos mais pobres. O Bolsa Família não é um direito, mas uma
> dádiva. Neste sentido, vivemos na gestão dele uma regressão política,
> porque no governo Lula houve uma diminuição do grau de participação
> popular na esfera pública. E quando se projeta o cenário de 2010
> percebe-se como Lula resulta regressivo. Com a força perdida pelo PT
> e a ausência de alternativas de Lula, uma vez que a doença de sua
> candidata mostra sinais de gravidade, aparece o terceiro mandato.
>
> O senhor acha que o governo está criando um caldo de cultura para o
> terceiro mandato?
> Sim, porque Lula aparece, para os olhos de determinados segmentos do
> meio político e popular, como o homem providencial. E neste sentido a
> possibilidade de um terceiro mandato é perigosa. Getúlio [Vargas]
> ensaiou isso com o queremismo, em 1945. Agora, pode muito bem surgir
> um queremismo lulista: o povo ir às ruas para pedir a continuidade do
> governo.
>
> E o senhor acha que o povo irá às ruas?
> Não digo o povo, uma categoria imprecisa, mas o PT e a CUT ainda têm
> capacidade para promover barulho, e barulho é o que é decisivo em uma
> questão como essa.
>
> Porque no campo da esquerda nem o P-SOL, nem outras siglas
> conseguiram se firmar como alternativas a Lula?
> Nada surgiu porque, ao tornar-se um mito popular, Lula tornou-se
> infuso à política. Ele produz um consenso de forças sociais, que
> estão todas muito contentes com o governo, e assim torna impossível
> ao eleitorado fazer escolhas reais. Isto explica porque Heloísa
> Helena, apesar do apelo popular que teve e tem, não se tornar uma
> alternativa. Vivemos um consenso conservador, no sentido de não se
> transformar nada, mesmo com a presença das massas populares neste
> consenso.
>
> Ao romper com o PT, o senhor disse que o partido poderia ter o mesmo
> destino do peronismo, tornando-se uma força política que não consegue
> ter referências ideológicas e prende-se ao espólio de uma liderança...
> Se fiz esta aproximação, foi um equívoco meu. A mídia brasileira por
> vezes passa uma ideia equivocada do que foi [Juan Domingo] Perón na
> Argentina. O Perón não despolitizou o país. Sob o vezo do
> autoritarismo, em seu período se produziu uma ampliação de direitos
> tal que a tradicional oligarquia argentina jamais se recuperou. No
> caso de Lula, está ocorrendo exatamente o contrário, a diminuição do
> espaço da política na sociedade.
>
> O governo Lula não investiu na inclusão de minorias nos espaços de
> poder, por meio de políticas de ação afirmativas para negros e mulheres?
> Ele tomou os vestígios de um discurso sociológico fajuto para negar o
> conflito de classes. Veja, com a análise da questão das classes se
> mata as charadas no Brasil. Quando a gente pensa a sociedade por meio
> destas clivagens de gênero e raça, não se mata charada nenhuma. O
> problema do Brasil é de uma grande maioria, virtual totalidade
> mulata, e não pode ser resolvido por políticas afirmativas étnicas,
> diferentemente do que ocorre na Bolívia e na Venezuela, onde a chave
> étnica é decisiva. Para resolver os problemas de exclusão social no
> Brasil, é preciso enfrentar problemas de classe. A política de cotas
> só faz reafirmar a exclusão. Qual as chances concretas que um negro
> com grau universitário obtido graças às cotas ampliação de direitos
> combatem a discriminação.
>
> O senhor analisa o governo Lula como o autor de uma guinada
> conservadora, mas, com instrumentos como a Carta ao Povo Brasileiro,
> Lula já não se elegeu sob este signo?
> Pelo contrário, Lula foi eleito em um processo de força popular
> crescente de um movimento político, que acumulou energia de eleição
> em eleição desde os anos 80. Não foi um episódio que se resume à
> crônica de 2002, foi um processo longo. Lula foi eleito com uma base
> progressista. Não houve nenhuma chancela do eleitorado para o que ele
> faria a seguir.
>
> Além de sua gestão econômica até certo ponto surpreendente, o
> primeiro mandato de Lula foi marcado pelos escândalos na área ética,
> dos quais o do mensalão foi o mais emblemático. Por que a ressonância
> popular destes problemas foi zero?
> Há uma tendência popular de nivelar a todos. Historicamente, a
> questão ética só estigmatiza políticos de estatura menor, como os
> exemplos recentes de [Paulo] Maluf e [Orestes] Quércia. Gostaria que
> tivesse sido diferente, mas este fator jamais foi decisivo em
> eleições brasileiras e não será na próxima.
>
> Qual o balanço que o senhor faz da oposição brasileira nestes últimos
> sete anos?
> Que crítica a oposição pode fazer ao governo Lula? Objetivamente
> nenhuma. Os governadores José Serra e Aécio Neves estão do mesmo
> lado. Em termos concretos, já há tempos a oposição deixou de existir.
> Isto porque a política no Brasil perdeu a capacidade decisória.
>
> Que diferenças o senhor identifica entre Serra e Aécio?
> Rejeito ambos por motivos diferentes. Aécio parece mais um político
> superficial que se faz sob a herança política familiar. Nunca vi uma
> opinião dele que impressionasse. Serra é uma surpresa. Faz um governo
> gerencial e até reacionário, ao lidar com o funcionalismo e com a
> universidade pública. É um político que gradualmente se converteu,
> quando vemos o passado dele e o local onde atua agora. É o grande
> líder conservador.
>
> Sob que signo será disputada a eleição presidencial do próximo ano?
> A eleição de 2010 será despolitizada e regionalista. Vejo agora a
> articulação entre São Paulo e Minas. Antes era o café com leite, hoje
> talvez seja o café com leite de um lado, a cana e a indústria do
> outro... a eleição caminha para ser uma disputa entre a confluência
> de São Paulo com Minas em contraposição à confluência do Nordeste e
> do Norte. É uma disputa que se dá em termos regionais, sem nenhum
> ponto político, nenhuma discussão de concepção propriamente política.
> Ao criar um consenso, Lula foi fortemente despolitizador. É uma
> dinâmica diferente do tempo de Fernando Henrique. Fernando Henrique
> buscou subjugar as forças contrárias, Lula as desmobiliza.
>
> E que papel jogam atualmente os movimentos sociais?
> Os movimentos sociais estão apagados, porque tratam-se em sua maioria
> de articulações em torno de objetivos pontuais, o que tornam
> limitadas as possibilidades de crescimento. O mais importante deles,
> que é o MST, busca saídas para a sobrevivência.
>
> Esta desmobilização política não é um fenômeno global?
> Ela é um fenômeno mundial. A França elegeu [Nicolas] Sarkozy, um
> direitista que se disfarça. Nos Estados Unidos, temos [Barack] Obama,
> que está recuando de suas posições iniciais. Na Alemanha, Ângela
> Merkel faz uma conciliação que junta sociais democratas e
> conservadores. E na Rússia, há um florescer do autocratismo. Todo
> mundo está convergindo para um ponto médio, que é uma espécie de
> anulação das posições. Mas no Brasil é mais grave, porque aqui a
> desigualdade é muito maior.
>
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