[forum-prof] Colegião e Fim do Mestrado (FSP)

LuizEduardo2 luizeduardo2 at infolink.com.br
Thu Jan 29 01:37:13 BRST 2009





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27 de janeiro de 2009

MARCOS NOBRE

Duas ideias ruins

APRENDER é uma experiência bem-sucedida quando forma uma pessoa 
autônoma, que aprende pouco a pouco como aprender por si mesma. Isso 
não quer dizer que pessoas autônomas aprendam sozinhas. Significa que 
aprendem a receber o que é ensinado como material para formar uma 
opinião própria e bem fundamentada.
Não há maior frustração do que ver estudantes universitários sendo 
tratados e se comportando como crianças. Há certamente muitas causas 
bastante difusas para isso, desde o nível precário dos outros níveis 
de ensino até a expansão descontrolada do ensino superior ou mesmo o 
prolongamento sem fim da adolescência.
Mas pelo menos uma dessas causas é bem determinada e fácil de ser 
removida. Por razões bastante difíceis de compreender, há quem pense 
que quanto mais horas passa dentro de uma sala de aula, mais uma 
pessoa aprende. Vem daí a exigência de 200 dias letivos anuais para o 
ensino superior.
Esse tipo de exigência acaba gerando o efeito contrário: colabora em 
muito para transformar a universidade em um colegião. Estudantes 
quando muito repetem nas provas e nos trabalhos aquilo que 
professores dizem em sala de aula.
É um círculo perverso: estudantes não têm tempo para estudar, no 
sentido mais amplo da sua formação como pessoas autônomas. Porque 
passam tempo demais dentro de uma sala de aula.


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Desde os anos 1990 circula a ideia de suprimir o mestrado do ensino 
de pós-graduação. Argumenta-se que é necessário concentrar recursos 
humanos e financeiros no mais importante, que é o doutorado.
É estranho ter que lembrar que o Brasil não é os EUA nem a Alemanha. 
Na origem da bem-sucedida implantação da pós-graduação estava a ideia 
de que a valorização do mestrado produziria os padrões acadêmicos 
necessários para criar cursos de doutorado sólidos, o que de fato aconteceu.
O papel do mestrado hoje é bem diferente. Com a transformação da 
graduação em um colegião, a eliminação do mestrado tornaria o curso 
de doutorado acessível a recém-formados somente se perdesse muito em 
qualidade. Ou se passasse a formar um número muito menor de doutores 
do que hoje. Além disso, os programas de doutorado mais concorridos 
seriam dificilmente acessíveis a candidatos provenientes de cursos de 
graduação menos bem avaliados.
Eliminar o mestrado só vai rebaixar o nível do doutorado ou torná-lo 
privilégio de um grupo ainda mais restrito. E criar mais uma 
injustiça: tornar a melhor pós-graduação inacessível a quem não vier 
já dos cursos mais fortes do país.


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna
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