[forum-prof] Novidades em Gaza e no Consuni

LuizEduardo2 luizeduardo2 at infolink.com.br
Thu Jan 8 09:24:45 BRST 2009





=======================================





Vos envio este artigo publicado ontem, na Folha de São Paulo, e 
confesso que não é visando contribuir para uma melhor compreensão da 
Guerra em Gaza.
Mas para que, por analogia, talvez possamos melhor compreender o que 
transcorre no Consuni, no Reuni, no Proifes...

L.E.



[]


07 de janeiro de 2009


TENDÊNCIAS/DEBATES



Novidades da guerra em Gaza

JORGE ZAVERUCHA


Israel tem usado força proporcional à ameaça militar existente, 
visando, unicamente, acabar com a fonte da agressão


O ATAQUE israelense na faixa de Gaza contra o Hamas é uma ação 
"defensiva, e não ofensiva". Quem assim inovou foi o ministro das 
Relações Exteriores da República Checa, Karel Schwarzenberg, também 
presidente da União Europeia. Certamente sua memória sobre a ocupação 
soviética o torna menos tolerante com ditaduras laicas ou religiosas 
do que alguns de seus colegas europeus ocidentais.
Diplomaticamente, faz tempo que Israel não recebe tanto apoio da 
comunidade internacional. Há críticas verbais, mas estas são para 
efeito externo. Na prática, foi dada permissão para Israel 
enfraquecer o Hamas, desde que a operação militar não dure muito 
tempo nem que Gaza seja ocupada indefinidamente. E é exatamente isso 
que Israel almeja.
Não interessa nem à maioria dos países ocidentais nem aos países 
árabes "moderados" (Egito, Jordânia e Arábia Saudita, por exemplo) o 
fortalecimento de uma filial do Irã na faixa de Gaza. Uma coisa é o 
eixo Irã-Hamas-Hizbollah; outra é a causa palestina sob os auspícios 
da Autoridade Nacional Palestina.
A Turquia surpreende pela sua virulência anti-Israel, logo ela que 
não aceita a independência curda em seu território. Já o Egito inovou 
ao criticar publicamente o Hamas por dar o pretexto para a operação 
militar por meio de indiscriminados ataques de foguetes contra civis 
israelenses, muito embora boa parte das armas contrabandeadas para 
Gaza sejam feitas a partir de território egípcio.
O revide israelense está dentro dos cânones da lei internacional. 
Israel tem usado força proporcional à ameaça militar existente, 
visando, unicamente, acabar com a fonte da agressão. Infelizmente, 
isso gera a morte de inocentes que são usados como escudos humanos pelo Hamas.
Como o bombardeio aéreo não foi suficiente para neutralizar o 
lançamento de foguetes, fez-se necessário a operação terrestre sob o 
ponto de vista israelense. E, lamentavelmente, mais civis morrerão.
Quanto ao Egito, seu temor não é de pouca monta. Mubarak nega-se a 
abrir a passagem de Rafah para o Hamas enquanto a Autoridade Nacional 
Palestina não voltar a dominar Gaza.
O atual presidente egípcio já tem, internamente, problemas demais com 
o radicalismo islâmico. Foi um grupo fundamentalista que assassinou o 
presidente Sadat. O hoje braço direito de Bin Laden, Ayman al 
Zawahiri, participou do complô que matou o presidente egípcio que fez 
a paz com Israel e ganhou a península do Sinai em troca.
A irritação com Mubarak chegou ao ponto de o líder do Hizbollah, 
Hassan Nasrallah, ter pedido que a população egípcia derrubasse o 
presidente egípcio pela ajuda que estaria dando a Israel na luta 
contra o Hamas.
O Hizbollah e o Hamas são novos atores políticos não estatais no 
conflito e disputam proeminência com tradicionais Estados árabes. 
Mais um fator de instabilidade na região.
Outra novidade é a fratura exposta da liderança palestina durante a 
guerra contra Israel.
O Hamas, embora democraticamente eleito pela população de Gaza, 
instaurou uma ditadura que, inclusive, matou e expulsou palestinos do 
grupo Fatah. Este é laico e, ao contrário do Hamas, reconhece o 
direito à existência do Estado de Israel.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, quer 
retomar o controle político sobre Gaza e sobre o processo de paz com 
Israel. Mas isso só será possível, paradoxalmente, caso Israel 
enfraqueça o fundamentalismo islâmico palestino.
É Israel, inclusive, que tem contribuído para que o Hamas não tome a 
Cisjordânia. Por cálculo político. O Fatah é esperança de retomada de 
negociações de paz, algo impossível com o Hamas. Afinal, Israel 
retirou-se unilateralmente de Gaza, em 2005, e o número de foguetes 
lançados pelo Hamas a território israelense cresceu em número e em abrangência.
O fortalecimento do Fatah vis-à-vis o Hamas poderá ser a novidade 
positiva do presente conflito. A depender do (in)sucesso militar de Israel.
O Hamas subestimou a reação israelense. Com um primeiro-ministro 
enfraquecido e às vésperas de eleição parlamentar, o Hamas achou que 
poderia conseguir uma vitória política como a que o Hizbollah 
conquistou, recentemente, contra Israel na Guerra do Líbano.
Só que Israel aprendeu com seus erros. Militarmente, a operação está 
sendo bem conduzida. E os políticos, até o momento, estão unidos em 
torno do interesse estratégico do país. A saber, reembaralhar as 
cartas de tal modo que o Hamas não possa voltar a se armar como antes.

JORGE ZAVERUCHA, 53, doutor em ciência política pela Universidade de 
Chicago (EUA), é coordenador do Núcleo de Estudos de Instituições 
Coercitivas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). É autor de 
"FHC, Forças Armadas e Polícia: entre o Autoritarismo e a 
Democracia", entre outras obras.

-------------- next part --------------
An HTML attachment was scrubbed...
URL: <http://listas.if.ufrj.br/pipermail/forum-prof/attachments/20090108/deecc07f/attachment.html>


More information about the Forum-Prof mailing list