[forum-prof] artigo de Antonio Felício, ex-Presidente da CUT
Lilia Irmeli
lilia at astro.ufrj.br
Mon Sep 29 12:36:58 BRT 2008
www.proifes.org.br
*São Paulo, 24 de setembro de 2008*
**
*PROIFES é a resposta da base ao sectarismo estéril dos sem lutas*
* *
A recente criação do Sindicato Nacional dos Professores das Instituições
Federais de Ensino Superior (PROIFES) é uma firme iniciativa pela liberdade
de organização sindical e uma resposta da base das Associações de Docentes
contra o sectarismo estéril e atroz assumido pela direção da Associação
Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes). A decisão de fundar a nova
entidade é, pois, evidentemente, uma reação à inconseqüência e
irresponsabilidade do PSTU/PSOL que, ao partidarizarem a Andes e
subordinarem as reivindicações da categoria aos mesquinhos interesses de
correntes, a levaram ao gueto do descrédito e do isolamento.
É inegável que ao longo deste período, ocorreram inúmeras e vitoriosas
mobilizações comandadas pela CUT que colocaram no centro a melhoria das
condições de vida e trabalho dos servidores federais e, em particular, dos
professores universitários. Foram memoráveis as marchas, greves e
manifestações contra a reforma da Previdência, em defesa do seu caráter
público e da manutenção de direitos, combatendo concepções reacionárias que
alegavam um suposto déficit para propagandear a necessidade da sua
privatização. Demarcamos campo em defesa da realização de concursos
públicos, da necessidade de novas contratações, para que o Estado cumpra com
suas obrigações sociais, prestando um serviço de qualidade.
Ao lado da Condsef (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço
Público Federal), da Fasubra (Federação de Sindicatos de Trabalhadores das
Universidades Brasileiras), da CNTSS (Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Seguridade Social) e de muitas Associações de Docentes,
estivemos na linha de frente na disputa pelo papel do Estado e pela
valorização funcional. Na mais recente, realizada no começo de setembro, em
Brasília, entregamos mais de 500 mil assinaturas contra o projeto de
Fundação Estatal de Direito Privado. Enquanto presidente e secretário geral
da CUT, lembro claramente das audiências com ministros, dos embates duros
que envolveram o conjunto da nossa executiva nacional contra concepções que
faziam concessões à agenda de Estado mínimo derrotada nas últimas eleições
presidenciais.
No início do governo Lula, como presidente da CUT e depois como secretário
geral, participei junto com a direção da Andes de audiências com vários
ministros. Em nenhum momento - e a direção da Andes daquele período é
testemunha disso -, a nossa Central deixou de defender a pauta de
reivindicações apresentada pela entidade docente.
Temos compromisso e consciência do papel que desempenhamos ao longo do
último período para afirmar nossos princípios de liberdade e autonomia
sindical. Afinal, quem tem dirigido as greves de bancários do Banco do
Brasil e da Caixa? Quem tem mobilizado as unidades da Petrobrás contra os
leilões do petróleo e em defesa de um novo marco regulatório que preserve o
interesse nacional? Quem tem ocupado terras e questionado a política
agrária, lutado por mais investimentos na agricultura familiar e pelos
direitos dos trabalhadores do campo? Quem articulou, organizou e mobilizou a
militância para as Marchas do Salário Mínimo, para o reajuste da tabela do
Imposto de Renda, pela implementação das Convenções da OIT sobre a
negociação coletiva no serviço público (151) e a que coíbe a demissão
imotivada (158)? Quem tem atuado junto à Coordenadora das Centrais Sindicais
do Cone Sul em defesa de uma integração latino-americana efetivamente
solidária e soberania, contra os ataques do imperialismo à Bolívia, Cuba e
Venezuela? A resposta é conhecida e reconhecida pela classe operária e pela
sociedade: a CUT. Por mais que a ultra-esquerda infantil teime em negar a
realidade, felizmente para o dia-a-dia dos trabalhadores, ela não cede lugar
aos tolos devaneios.
Nos defrontamos evidentemente com concepções do PSTU e do PSOL, que
representam hoje uma pretensa ultra-esquerda, que aposta no racha do
movimento sindical combativo para tentar crescer. A fórmula a cada partido
uma central é lesiva aos interesses imediatos e futuros da classe, pois
desconsidera algo elementar: quem representa a parte é o partido, cabendo ao
sindicalismo unir o conjunto, aglutinar forças para tornar inquebrantável o
feixe. Por isso continuamos defendendo a existência de uma única central do
campo da esquerda.
O fato é que um expressivo número de Associações de Docentes se recusou a
sair da CUT e a ceder à pressão mandonista e divorciada das bases, uma vez
que se identificam com nossos princípios, os incorporaram a seu DNA e às
suas lutas. Mais uma vez os adeptos dos "sem lutas" vociferam contra a
matemática mais elementar e multiplicam-se os "congressos" e "assembléias"
de universidades federais onde a desfiliação foi aprovada em reuniões a
portas fechadas com um número risível e irrisório de docentes. Na Federal do
Recife, como em tantas outras assembléias esvaziadas, compareceram 21 de um
universo de 1600 docentes. No próprio Congresso da Andes, em Curitiba,
membros da Executiva Nacional da CUT foram gentilmente "desconvidados" para
que não comparecessem aos debates, uma vez que a saída já havia sido
decidida "democraticamente" pela cúpula. Frente à sucessão de atropelos
ditatoriais da maioria por uma minoria, a única alternativa das ADs foi se
organizarem nacionalmente para garantir voz à categoria.
Quando a CUT foi fundada em 1983, surgiu levantando alto a bandeira da
liberdade e autonomia sindical, contra a unicidade e pela implantação da
Convenção 87 da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Assim, os
cutistas passaram a criar Confederações e Federações orgânicas, onde não
existiam entidades filiadas. Naquele momento, as correntes que neste momento
atacam a criação do PROIFES-Sindicato cerravam fileiras conosco, uma vez que
comungavam com essa concepção. Hoje, entorpecidas e deslumbradas com o
brilho de seus aparelhos burocráticos, tão sedutores quanto ocos, mergulham
fundo na inoperância, no sectarismo e na frouxidão, passando a priorizar o
conchavo e a conciliação com velhos inimigos, com quem vociferam juntos
contra nós, os que lutamos para mudar arcaicas estruturas. Por mais que
teimem em negar o óbvio, são nacionalmente inexpressivos. Quando são
maioria, esvaziam as entidades com seu destempero, levando-as à falência,
política e econômica. Quando são minoria, tentam de todas as formas e sob os
argumentos mais ridículos e oportunistas, a desfiliação da nossa Central,
combatendo selvagemente os princípios de liberdade e autonomia. Ou se
esquecem da tentativa de criar uma Federação de Sindicatos de Petroleiros
vinculada ao PSTU/PSOL contra a combativa e histórica FUP (Federação Única
dos Petroleiros), que é filiada à CUT?
No Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo
(Sindupes), se aproveitaram de uma maioria no Congresso e expulsaram os
cutistas da direção do Sindicato, dirigentes que haviam sido eleitos pelo
voto dos associados.
Por mais que esperneiem, não podem retirar o direito da CUT e de sua
diretoria de se manterem fiéis aos seus princípios históricos. Não fomos nós
que abandonamos a causa. A CUT não renega sua história, continuamos sendo o
que sempre fomos: uma central da esquerda, de massas, enraizada em todo o
território nacional, de combate ao neoliberalismo e ao imperialismo, de luta
por um Brasil livre, por uma América Latina integrada, pelo socialismo.
As alegações utilizadas contra a fundação do PROIFES-Sindicato, de que eram
maioria, mas não adentraram no recinto – a sede nacional da CUT - porque
foram impedidos, e outras asneiras do gênero, são de uma pobreza abissal, à
altura da sua inação. Tamanho absurdo não merece nada além do que o
desprezo, pela magnitude da tolice.
Mais poeticamente, poderíamos dizer que "a História é um carro alegre, cheia
de um povo contente, que atropela, indiferente, todo aquele que a negue".
*João Antonio Felício*
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