[forum-prof] Fw: Fwd: Um possível pesadelo geopolítico
Luis Paulo Vieira Braga
lpbraga at im.ufrj.br
Wed Sep 3 19:21:56 BRT 2008
Um possível pesadelo geopolítico
by Carlos Lessa:
...
"Toda profissão tem cacoetes lingüísticos. O geólogo brasileiro
denomina os campos submarinos de petróleo existentes abaixo de um
enorme e espesso lençol de sal de pré-sal. O geólogo ordena o mundo de
baixo para cima. O sal dificulta e encarece a extração, porém preserva
um óleo leve e de ótima qualidade.
Fortes evidências levam a crer que há 130 milhões de anos começou o
Desquite entre África e América do Sul. No meio, surgiu um lago que,
crescendo, dá origem ao Atlântico Sul. O material orgânico foi
sepultado debaixo do sal; posteriormente, outros elementos se
depositaram. A combinação de temperatura e pressão converteu a matéria
orgânica em petróleo. Movimentos tectônicos deslocaram o sal; parte do
petróleo migrou para cima das "janelas" de sal.
A Petrobras localizou campos submarinos nestas janelas: Namorado,
Marlin, Roncador e toda uma peixaria permitiram a auto-suficiência
deste combustível. O óleo dessas jazidas não é o melhor - é pesado -
porém é nosso; está em nossa fronteira marítima, pertence à Petrobras,
e o Brasil é líder em tecnologia e ambições em águas profundas. A
Petrobras foi em frente. Perfurou ao longo do mar, desde Espírito
Santo até a Bacia de Santos, em busca do pré-sal. Tudo leva a crer que
existam campos no mar em uma área de até 800 quilômetros de extensão
por 200 quilômetros de largura. As estimativas oscilam entre 30 e 50
bilhões de barris no pré-sal - não é um delírio nacional, esta é a
avaliação do Credit Suisse. Hoje temos 14 bilhões de barris provados.
Com Tupi, Carioca, Júpiter e seus "compadres", chegaríamos às reservas
atuais da Rússia e da Venezuela.
O óleo do pré-sal é leve. O Brasil pode confiar nos geólogos,
cientistas, engenheiros e tecnólogos que desenvolveremos a tecnologia
para estes campos muito profundos e com espessas camadas de sal. Ao
Eldorado Verde da Amazônia, descobrimos um Azul, no pré-sal; um novo
Eldorado pelo brasileiro e para o brasileiro. Este é o sonho. Pode-se
converter em um pesadelo.
Os EUA consomem 25% do petróleo do mundo. O grande poluidor bebe,
todos os anos, sete bilhões de barris. Tem reservas pequenas, apenas
para quatro anos. Por isto, tem tropas na Arábia Saudita (260 bilhões
de barris de reservas), e frotas navais no Oceano Índico; estimulou o
conflito latente entre sunitas e xiitas, promoveu Saddam Hussein e deu
fôlego a Bin Laden. Com o primeiro, alimentou o ódio ao Irã (100
bilhões de barris); com o segundo, sustentou a rebelião dos afegãos
contra a URSS. Após o 11 de setembro, destruiu os talibãs e, desde
então, acusou o Iraque (100 bilhões de barris) de dispor de armas
nucleares. Destruído Saddam, não se descobriu nenhum armamento não
convencional. Transferiu, imediatamente, para o Irã a acusação de
estar se nuclearizando. Os EUA mergulharam de ponta-cabeça no Oriente
Médio, pois têm sede de petróleo - aliás, a China e a Índia também.
Até o pré-sal brasileiro, o Novo Mundo não poderia saciar os EUA; o
México já foi depredado (tinha 52 bilhões de reservas e hoje está com
17). O Canadá tem muita areia betuminosa (custos extremamente elevados
de extração). A Venezuela tem reservas insuficientes para a sede
norte-americana. Alguns países ficaram sem petróleo: a Indonésia
exportou, participou da Opep e vendeu seu óleo a US$ 3 o barril, hoje
importa a US$100 o barril. O Reino Unido não é mais exportador de
petróleo no Mar do Norte; bebeu e vendeu demais. Este é o pano de
fundo de um possível pesadelo geopolítico. Não interessa ao Brasil que
o Atlântico Sul se converta num Oriente Médio. A primeira pergunta que
ocorre é: o petróleo do pré-sal é nosso? Logo depois: até quando? O
neoliberalismo já promoveu nove rodadas de leilões. Com clarividência,
o presidente Lula suspendeu a rodada e solicitou à ministra Chefe da
Casa Civil que estudasse uma nova legislação de regulamentação da
economia do petróleo.
Creio que Lula anteviu um possível "Iraque" em nosso território. O
presidente sabe que a Petrobras pode, técnica e financeiramente,
desenvolver Tupi e outros campos do pré-sal. Sabe que não se brinca
com soberania na "Amazônia azul". Nossa Marinha de Guerra precisa do
submarino nuclear; nossa Aeronáutica precisa de mísseis e da Base de
Alcântara, porém quem garante que não seremos acusados de belicismo?
Conheço a ministra Dilma desde os tempos da Unicamp. Sei que é
nacionalista e bem preparada; ela sabe que o preço do barril irá subir
tendencialmente. É uma boa "aplicação financeira" manter petróleo
conhecido e cubado como uma reserva estratégica; rende mais que os
Títulos de Dívida Pública norte-americanos. Um fundo soberano,
alimentado com uma parcela das reservas cambiais de nosso Banco
Central, poderia subscrever ações e financiar a Petrobras. É mais
estratégica esta "aplicação" do que apoiar o Tesouro dos EUA. Dilma
sabe que a China fura poços e os mantém lacrados, preferindo beber
petróleo importado em troca de suas exportações. Certamente, a
regulamentação não será elevar royalties e contribuições especiais
sobre o petróleo extraído do pré-sal por companhias estrangeiras.
A premissa maior é reassumir a Petrobras como empresa estratégica para
o futuro desenvolvimento brasileiro e escudo protetor de uma
geopolítica potencialmente ameaçadora. Para tal, é necessário retirar
da companhia sua medíocre missão atual: "honrar seus acionistas".
Aliás, o Dr. Meirelles, com o desejado fundo soberano, poderia
converter o Banco Central em "acionista", recomprando as ações que os
governos liberalizantes venderam para estrangeiros. A diretoria da
Petrobras, em vez de saber a cotação da ação em Wall Street , deveria
estar articulada com o presidente da República, expondo ao Brasil o
modo de manter o Eldorado em nossas mãos.
Carlos Lessa é professor-titular de economia brasileira da UFRJ. "
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