[forum-prof] percalços da carreira e a irresponsabilidade social da UFRJ: o caso do chinês e das línguas de pobre
coelho at if.ufrj.br
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Fri Jan 5 23:13:56 BRST 2007
Prezados Luis, Ismael e demais colegas
Duas coisas me deixaram um pouco preocupado nos últimos mails: (a) a discussão
sobre a relevância relativa de capítulos de livros versus artigos em revista
com parecerista e (b) a dicotomia de professor de graduação e de professor de
pesquisa e pós.
No primeiro ponto vejo que há capítulos e capítulos, assim como há livros e
livros, há uma imensa diversidade de qualidade e não há como medí-la
objetivamente de forma rápida. No caso de artigos em periódicos há também
essa diversidade mas há critérios para medí-la, assim como há também uma
enorme discussão sobre esses critérios.
Vejo dois casos em relação a livros e capítulos de livro. Se são de
conhecimento mais avançado são correlacionados a artigos já publicados por
seu autor, então isso já está medido, igualzinho a trabalhos apresentados em
congresso. Se os livros são de divulgação ou de ensino básico, escritos por
esse mesmo pesquisador, eles devem ser avaliado subjetivamente. Nossa colega
Lilia, por exemplo, escreveu um livro excelente de divulgação sobre as
estrelas, para leigos. Só que essa avaliação subjetiva toma tempo e a
implementação dessa lei atropelou o calendário, não havia tempo para
examinar detalhadamente essas centenas de pedidos. Essa mudança na carreira
teve méritos mas teve e terá diversos problemas.
No segundo ponto, a questão é que o professor ideal deve estar na trilogia
ensino-pesquisa-extensão, com atividades de administração. Um professor que
fique só em uma ou duas dessas quatro áreas certamente não é o ideal, embora
tenha que haver uma análise caso a caso e de forma o mais tranquila possível,
para evitar jogar grupos de professores contra outros, o que é muito ruim. No
IF, por exemplo, se um professor não faz pesquisa (há poucos assim, mas há)
ele
normalmente compensa tendo carga maior de ensino, de administração ou de
extensão. Esse professor pode ser utilíssimo para o IF e para a sociedade!
Normalmente temos na UFRJ a trilogia ensino-pesquisa-administração, só alguns
poucos fazem extensão, como no Projeto Sucesso Escolar, da Decania do CCMN, ou
nos cursos para professores de ensino médio que diversas unidades dão. E
ensino quer dizer também ser orientador acadêmico, concordo com você Ismael,
orientação é muito importante. No IF todos os professores são orientadores,
porque em outras unidades isso não é assim e sobrecarrega algumas poucas
pessoas, ou talvez zero pessoas?
Mas na maioria dos cursos simplesmente o coordenador dá OK para todos os
pedidos de inscrição de alunos, e às vezes são muitos milhares! Porque essa
tarefa não é compartilhada por todos os professores é um mistério para mim.
Se todos os alunos fazem pedidos perfeitos, totalmente compatíveis com sua
capacidade e interesse, porque há tanta evasão, reprovação e transferência
de curso? Juntasse a isso que a PR1 não cumpre a resolução do CEG que diz que
a DRE vai enviar semestralmente às COAA's a lista de alunos com problemas
sérios, para que estas possam acompanhar estes alunos e ajudá-los se
possível.
Saindo dessas questões internas da UFRJ, da nossa desorganização do dia a
dia, acabei de ler no Globo que a PUC vai fazer um curso de chinês. Uma
professora chinesa que não é da Letras vai coordenar esse curso, me parceu
ser a única que fala chinês, os outros devem ser horistas. Nós certamente
temos professores chineses, no IF tínhamos um professor casado com uma
bibliotecária, ambos chineses. Agora estão aposentados mas trabalharam quase
trinta anos na UFRJ. Porque nunca fizemos o mesmo que a PUC e procuramos
identificar esses e outros professores falantes nativos de chinês?
É uma vergonha para a nossa instituição ensinar uma dezena de línguas - uma
delas, o hebraico moderno, falado só por cerca de 4 milhões de israelenses -
e não ensinar mandarim, falado por mais de um bilhão de pessoas. Tudo bem que
a imigração judaica deu uma enorme contribuição ao Brasil e ao Rio em
especial, mas esses imigrantes falavam iídishe ou sefardita, não hebraico. E
se é para a UFRJ ensinar as línguas dos diversos componentes do povo
brasileiro - alemães, italianos, japoneses, árabes, judeus, espanhóis - e as
línguas dos povos das potências - o inglês, o francês e o russo - que tal
ensinar (ou ter núcleos de pesquisa) em alguma língua africana, como o
yoruba, e alguma língua indígena, como o tupi? Ou será que negros e índios
não tem importância na formação do Brasil?
Ahhh, não precisa, a Candido Mendes, que é particular já tem faz muitos anos
um Centro de Estudos Afro-Asiáticos, nós que somos uma universidade pública
podemos nos dedicar às línguas dos países desenvolvidos. Índio e negro é
coisa de pobre. Talvez eu me preocupe com o chinês à toa, daqui a pouco a
UFRJ vai se preocupar com ter um núcleo de chinês, afinal os chineses estão
ficando ricos.
Abraços, Felipe
-------------
Prezado Luis Paulo - 04.janeiro.2007
1. Como sempre admiro seus emails. A criação do nível de associado não
valorizou o professor de graduação, então podemos dizer que foi criado o
nível de pesquisador-associado e não de professor-associado. Cada vez mais
fico desiludido com as decisões de cima para baixo.
2. De que vale elaborar livros para nossos alunos de graduação, se podemos
fazer "papers" que darão origem a patentes por outros países.
3. A razão de ser das universidades nasceu do ensino de graduação, são
moças e rapazes que nos chegam ainda adolescentes e fazemos o máximo para
torná-los profissionais que transformarão o Brasil num país mais justo.
4. Enquanto conselheiro do CEG, durante 6 anos, defendi entre outros pontos
a valorização de ( i ) orientação acadêmica e ( ii ) patentes, mas isso
não
vale muito para a progressão para "pesquisador-associado".
Um abraço amigo do amigo
Ismael
Ismael da Silva Soares - UFRJ/POLI/Depto.Eng.Industrial
On Thu, 4 Jan 2007 13:06:50 -0300, Luis Paulo Vieira Braga wrote
[Ocultar Texto Citado]
> Vida e morte de um recurso Severino
>
> Vale o chavão, o importante não é chegar, mas a caminhada. No
> afã da aprovação açodada das normas internas para progressão ao nível
> de associado, recorri contra a decisão do Conselho de Coordenação do
> CCMN de 18/09/2006, que não incluiu no perfil de atuação desejado do
> Grupo II Produção Intelectual o item livro. O recurso foi
> encaminhado no dia 25/09/2006 diretamente ao gabinete do Reitor
> porque o CCMN já havia aprovado as normas e as mesmas seriam
> ratificadas pelo CONSUNI. A Comissão de Legislação e Normas
> (CLN) do CONSUNI entendeu que o Conselho de Coordenação do CCMN
> deveria se manifestar a respeito e no dia 28/09/2006 encaminhou o
> processo para o Centro. Essencialmente a manifestação do Centro, em
> 25/10/2006,
> consistiu em descrever que os procedimentos adotados respeitaram as
> decisões das Congregações de Unidades e que o item livro por estar
> elencado no perfil adicional poderia até valer mais que um artigo
internacional.
[Ocultar Texto Citado]
> A CLN do CONSUNI se declarou satisfeita com as explicações
> dadas, ressaltando que foram decisões democraticamente tomadas e que
> não feriam a legislação pertinente. Ressaltou, entretanto, que dado
> que a pontuação do item livro hipoteticamente poderia ou não ser
> valorizada, recomendou que o item livro fosse avaliado positivamente
> nos moldes da manifestação expressa no parecer do Centro e que, no
> futuro, o Centro considerasse a possibilidade de inclui-lo no perfil
> desejado do Grupo II. O parecer data de 9/11/2006. Em 23/11/2006 o
> CONSUNI aprova o parecer da CLN excluindo as duas últimas
> recomendações. De lá para cá muita água rolou, um grupo de
> professores do CCMN, que se julgaram prejudicados pelas pontuações
> atribuídas pelas bancas, recorreram, e ganharam o direito à
> progressão. Um dos dirigentes de Unidade do Centro admitiu,
> publicamente, que os critérios estavam restritos demais. E, agora,
> de posse da pontuação da banca que avaliou os candidatos de meu
> departamento no IM, constato que um professor recebeu 63,33 pontos no
> item artigos internacionais ! Enquanto que no item livro nenhum dos
> candidatos recebeu mais do que 3,33 pontos. Exatamente a tendência
> que eu pressentia, e que foi hipoteticamente negada na manifestação
> do Centro, e cabalmente desmentida pelos fatos. Decisões,
> hipoteticamente, tomadas, democraticamente, não estão isentas de
> tendenciosidade, inconsistência ou erro. Senão não haveria
> necessidade da lógica, nem do experimento, o que parece ter faltado
> no caso. Finalmente, mas não menos importante, é a crítica ao
> corporativismo de quarteirão que se pratica na UFRJ, que relega a
> segundo plano princípios e estratégias. Este pensamento pequeno está
> reduzindo o país e suas instituições maiores a uma feira de Caruarú.
>
> Prof. Luis Paulo
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> C.P. 68530
> 21945-970 Rio de Janeiro, RJ
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