[forum-prof] A discussão do controle externo das universidades públicas (o guizo no rabo do gato)
Luiz Felipe Coelho
coelho at if.ufrj.br
Thu Jan 13 11:44:20 BRST 2005
Colegas
Neste fim de ano aproveitei uma promoção da editora da UFRJ e comprei os 2
volumes do livro "Universidade do Brasil", da Maria de Lourdes Fávero. Ela
registra a evolução da discussão das universidades públicas (e
consequentemente de seu controle externo) entre 1920 e 1965. Me custou 15
reais, o preço voltou a ser 30, mesmo assim vale a pena para que a gente
veja como os discursos são cíclicos.
Em resumo nos anos 20 as congregações eram independentes, cada unidade
tinha orçamento próprio
(e a FND pelo que entendi tinha fontes próprias de recursos), os diretores
e alguns titulares formavam o Consuni e o governo escolhia um reitor que
não mandava nada (na lei nem explicam como era nomeado!). Na verdade cada
professor catedrático era em boa parte independente da Congregação, podia
brecar qualquer reforma curricular. Com a revolução de 30 as congregações
ficaram quase consultivas, elas escolhiam nomes para compor um colegiado
técnico-administrativo de cada unidade e do Consuni. O governo escolhia
quem ia fazer parte desses colegiados, além de decidir os reitores e os
diretores, tudo a partir de listas tríplices (a reforma autoritária do
Francisco Campos, desfeita em 46).
Oscilávamos entre esses dois extremos mas agora os governos da Nova
República cederam em toda a linha, após o autoritarismo dos governos
militares (mas que ainda era menor que o varguista dos anos 30). As
congregações elegem quem quizerem como diretor, pressionadas ou não por
sindicatos e por interesses pessoais e grupais. O Consuni junto com outros
colegiados superiores elege quem quizer como reitor, na verdade sendo
obrigado a avalizar consultas, que assim tornam-se eleições ilegais. As
congregações e os colegiados nem tem que se preocupar com o cumprimento da
LDB para a sua composição, nem com a existência de eleições limpas e
públicas para seus membros docentes, servidores técnico-administrativos e
discentes. Os corpos deliberativos viram há muito tempo assembléias de
professores, sem a representação discente de 20% que a lei garante em cada
colegiado. Os colegiados, segundo a LDB, não podem ter mais de 70% de
docentes mas isso é ignorado.
O governo atual e as reitorias lavam as mãos dessa zona, como os passados
lavaram, por que sempre há o discurso da "autonomia universitária" ou da
"autonomia de cada instância universitária". As recentes eleições do CPPD e
do CEG mostram isso, é do total arbítrio dos dirigentes de cada unidade e
centro, assim como da reitoria, de apoiá-las ou não. O atual governo piora
ainda mais o problema da administrabilidade das universidades públicas
porque resolve esgotar, agora oficialmente, nas universidades e em cada uma
de suas partes os processos de escolha de reitores, decanos e diretores. O
que fazer quando os dirigentes eleitos - como no caso recente da Faculdade
de Direito - admitem uma série imensa de irregularidades e de
descumprimento de normas universitárias? Aí, para fazer de conta que a
sociedade vai mandar um pouco na universidade, nos centros, nas unidades,
nos departamentos, nos programas de pós, nos cursos de extensão, nos grupos
de pesquisa e nos cursos de graduação, o governo federal inventa um
colegiado para fazer o controle externo. O que esse colegiado poderá fazer
vai ser apenas aumentar o nosso caos.
Quando se considera normal atitudes de desobediência a decisões de
colegiados superiores, levando o CEG a decidir investigações em unidades
(cada uma de nossas 7 instâncias se julga soberana...) ou quando as
próprias rotinas administrativas do ensino (calendário, entrega de grau,
etc) são desrespeitadas em algumas unidades, o que esse bendito colegiado
social poderá fazer? Mandar que o Consuni, o CEG ou o CEPG mandem os
colegiados inferiores fazerem algo? Se nem edital de vestibular ou a
lógica aritmética do número de alunos numa sala é respeitado! Se nem o
cumprimento do regime de trabalho é fiscalizado! Se nem a escolha de
reitores pela lista tríplice é aceita, virando "uma intervenção do governo
federal" como no caso da escolha do Vilhena, nomeado segundo a LDB!
É como aquela piada, a solução para os ratos oprimidos pelo gato é amarrar
um guizo no rabo do gato. Quem vai amarrar o guizo numa instituição de um
federalismo - em geral bem intencionado, mas de boas intenções o inferno
está cheio - que beira a anarquia?
Abraços, Felipe
--
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