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Luiz Felipe de Souza Coelho coelho at if.ufrj.br
Sun Jul 4 16:12:30 BRT 2004


Prezados colegas

A situação piorou nos últimos 20 anos?

Estou há mais de 20 anos no Fundão e, como é normal na Física, já dei aula para 
alunos de diversos cursos da UFRJ: Física, Engenharia, Biologia, Geologia, 
Meteorologia, Farmácia, Engenharia Química, Desenho Industrial e Informática. A 
minha avaliação é de que hoje o ensino e a pesquisa na área de ciências exatas 
e biológicas (CT, CCMN e CCS) é muito melhor do que 20 anos atrás. Pelo 
testemunho de nossos colegas de Direito isto claramente não é o caso nessa área.
Seria interessante ouvir testemunhos de diversas áreas, pois qualquer 
generalização na Universidade é perigosa. 

Nesses três centros acima há mais laboratórios, mais computadores, grades 
curriculares mais realistas e um corpo docente mais qualificado e mais 
experiente. Há também novos cursos diurnos na Física, na Engenharia, na 
Matemática, na Engenharia Química, na Biofísica e na Ciências Biomédicas e 
criaram-se licenciaturas à noite nas áreas de Biologia, Física, Química, 
Matemática e Geografia. Há problemas, claro - faltas de luz, faltas de recursos 
rotineiros, infraestrutura administrativa precária, bibliotecas sem assinar 
revistas há 2 anos, etc - mas dificilmente esse é um quadro de piora.

Por exemplo, em 1981, quando comecei a trabalhar na UFRJ, só 1/4 dos 
professores do IF tinha doutorado e o corpo docente em geral era muito novo. 
Hoje temos um corpo docente no IF que na média deve ter 20 anos de prática e no 
qual quase todos tem doutorado. A infraestrutura de computadores e de 
biblioteca também melhorou e há salas de estudo para alunos. A produção 
científica aumentou, apesar do pesadelo que foi o desaparecimento do FNDCT como 
financiador da pesquisa básica e tecnológica (tem um artigo recente do Leopold 
de Meiss, da Bioquímica, que apresenta dados de um enorme aumento do "stress" 
dos pesquisadores). Vejo quadros muito similares a esse em outras unidades das 
áreas I e II do Vestibular (CT+CCMN+CCS): mais pesquisa, mais ensino, mais 
extensão e mais "stress".

Está havendo partidarização do movimento docente?

O Luciano coloca um ponto importante de ética individual. Como não sou um 
eleitor do PT me sinto à vontade para responder...

A eleição do governo do PT coloca um desafio ético e político para os 
militantes deste partido (e de outros partidos de esquerda, aliados ou 
adversários) e de movimentos sindicais de funcionários públicos: apresentar 
propostas que viabilizem a construção de um Estado Nacional Democrático mas que 
defendam os interesses legítimos de suas categorias. Questões como impedir a 
erosão inflacionária de nossos salários, diminuir as distorções da carreira 
docente ou aumentar a oferta e a qualidade dos serviços públicos tem que ser 
prioritárias. Já questões como a isonomia entre a nossa carreira e outras 
(ensino fundamental em instituições federais) ou a defesa de um regime 
previdenciário distinto do resto da população não me parecem legítimas. 

No ano passado o movimento docente resolveu priorizar a luta contra a reforma 
da previdência (era uma questão ideológica da luta contra o "neoliberalismo"), 
quando recebíamos uma proposta ofensiva de reajuste salarial. Neste ano houve 
uma proposta mais decente de reajuste mas novamente o movimento docente 
resolveu priorizar a luta contra a GED (outra questão ideológica da luta contra 
o "neoliberalismo do FMI e do BM). É difícil aceitar uma liderança de movimento 
docente que não prioriza aumentos sálariais para seus membros. É verdade que há 
injustiças clamorosas, mas a dos 60% da GED para aposentados mais antigos é só 
uma delas e não a mais clara. Quando se fala em diminuir as diferenças (por 
exemplo a incorporação da GAE) isso na verdade aumenta a diferença salarial 
entre professores velhos e novos. A impressão que fica é que é difícil de lidar 
com essas injustiças pois elas foram sendo construídas aos poucos por diversos 
governos e por diversas lideranças da ANDES. No entanto se o SN-ANDES não as 
atacar será muito difícil que nós nos unifiquemos numa campanha salarial. 

Essa autocrítica é essencial, e deve ser feitas pelos participantes do 
movimento docente, qualquer que seja sua posição política (ou a ausência de). O 
assado queimou (não temos carreira ou sistemática de reajustes salariais, temos 
isonomia onde não deve e não temos onde deve e temos ADs esvaziadíssimas, onde 
a 2 em 10 unidades tem representantes no Conselho da ADUFRJ). Teve muitos 
cozinheiros e ajudantes envolvidos mas agora temos que limpar a confusão, e 
diminuir o "blame game"...

Abraços, Felipe



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