[forum-prof] "A Prática co?==?ISO-8859-1?Q?mo critério d?=a Verdade" (c=?ISO-8859-1?Q?itação de Heg?==?ISO-8859-1?Q?el, dita na ú?==?ISO-8859-1?Q?ltima Assembléia)

Luiz Felipe de Souza Coelho coelho at if.ufrj.br
Sat Jul 3 00:12:38 BRT 2004


Prezados colegas
e em particular os colegas Lilia, Bluma e Luiz Eduardo

Para entender a veemência de algumas manifestações críticas a esta diretoria da 
ADUFRJ (e a diretorias passadas) há alguns pontos. Não posso falar sobre a 
situação de outras unidades, mas só da Física.

1) Faz mais de dez anos está evidente para a maioria dos docentes do IF que 
nossas greves prejudicam o que pretendemos defender, que é a universidade 
pública (a de qualidade, não um escolão). Em particular elas prejudicam os 
alunos de graduação. 

2) O movimento docente não conseguiu achar novas formas de defender 
reivindicações salariais e meteu os pés pelas mãos no combate às distorções 
salariais. Isto também não é de hoje e a culpa não é só das direções mas de 
todos nós.
A maior destas distorções é que não há isonomia entre um professor de tempo 
integral que trabalha 40 ou mais horas por semana e um outro de 40 horas que 
apenas trabalha algumas horas por semana dando aula. Não há mecanismos para 
premiar ou punir... Isto levou à GAE e à GED.
Outra é a lentidão da Justiça que levou a tribunais de instâncias inferiores 
darem a uns mais 26%, a outros mais 28% e dizem que Alagoas ganha mais 80%. No 
caso da UFRJ isto leva a que os professores novos ganhem menos 26% que os 
antigos. 
Uma terceira distorção é que, numa carreira de 30 ou 40 anos, um professor hoje 
atinge o topo da carreira seis anos após a nomeação. 
Uma quarta é que há diferenças entre os docentes que se aposentaram antes e 
depois da criação da GED. (Os que se aposentam hoje ganham a GED integral, mas 
os que se aposentaram no passado ganham só 60%.) 
Uma quinta é que durante algum tempo após a nossa passagem para o RJU as 
pessoas que se aposentavam ganhavam um aumento de 20%. 
Como se já não bastassem esses problemas (falta de isonomia entre ativos, entre 
inativos e entre ativos e inativos), alguns enfrentados e outros esquecidos 
pela ANDES, o movimento resolveu colocar como bandeira a isonomia entre 
profissionais de duas carreiras diversas: a dos professores do primeiro e 
segundo graus e a do terceiro grau. A meu ver faz muito mais sentido dar 
isonomia aos técnicos de nível superior (alguns com mestrado e doutorado) que 
apoiam as atividades do ensino de terceiro grau do que aumentar professores que 
já ganham muito mais que seus colegas das redes públicas estadual e municipal. 
Um bibliotecário, um analista de sistemas, um secretário formado em Letras ou 
um engenheiro, que participam ativamente no apoio ao ensino e à pesquisa, devem 
ganhar salários parecidos aos dos docentes de terceiro grau. 

3) Os mecanismos de discussão e decisão podem ser muito aperfeiçoados. As 
greves tem sido decididas em assembléias com algumas dezenas de pessoas. 
Poderíamos ter voto através da Internet (temos uma excelente rede de Internet 
nos conectando), poderíamos ter voto por Correio, poderíamos ter assembléias de 
unidade com poder decisório (seria preciso a maioria delas apontar numa 
direção), poderíamos ter uma revista eletrônica na ADUFRJ onde colocaríamos 
análises, poderíamos ter listas de discussões específicas organizadas pela 
ADUFRJ, etc. Há diversas possibilidades exploradas por diversas direções 
de "seções sindicais" (as antigas ADs) mas a maioria das ADs se aferrou aos 
procedimentos tradicionais, das "trade unions" do sec. XIX em Londres: decisão 
em Assembléia com voto em aberto, discussão em jornais e em falações na 
Assembléia. Nada contra mas há outras formas suplementares.

4) Nas últimas greves minha unidade, o IF, por amplíssima maioria não fez 
greve. Muitos de nós fomos a assembléias discutir questões de carreira, de 
campanha salarial e de universidade em geral. Lá ouvíamos ofensas aos "doutores 
elitistas". "Pesquisa", "Produtividade" e "Avaliação" eram palavras faladas com 
horror, associadas ao "Mal". Ouvíamos colegas nossos usarem seu tempo para 
falar de coisas fora da pauta, como suas vidas pessoais ou reflexões sobre a 
vida em geral, concluindo com defesas da greve que, na minha opinião ao menos, 
servia para destruir a universidade pública que tanto os ajudara! Esse 
enchimento de linguiça, as eventuais ofensas e os discursos inconsistentes eram 
bastante eficientes para esvaziar assembléias, mas não sofriam advertências da 
mesa, que pecava por omissão.

Enfim houve greves anuais, pautas com reivindicações errôneas, assembléias com 
1% dos membros da ADUFRJ e assembléias onde não havia a preocupação em ajustar 
as "falações" à pauta.

A última assembléia na Letras nâo foi das piores, mas mesmo assim os que eram a 
favor da proposta do governo (que é baixa, mas que é neutra em relação às 
distorções e dá aumentos acima da inflação de 2003) foram chamados de 
ruminantes ou de pesquisadores insensíveis à exclusão social. Tivemos que ouvir 
que pessoas ganhando 5 mil reais de aposentadoria eram miseráveis, que amanhã 
iriam implorar trocados em cruzamentos de rua. Houve boas citações de Hegel, 
Camões e Brecht. A do Hegel foi bem legal "A prática como critério da Verdade". 
Quando fui estudante participei de uma chapa que usou essa frase como slogan 
mas não sabia a origem dela. Acho que todos neste Forum concordam com ela.

Um abraço, Felipe
 



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