UFRJ à deriva (e não são os prédios)

LuizEduardo luizeduardo.email at yahoo.com.br
Thu Jun 23 04:45:08 BRT 2011


O caos no campus, a transformação da universidade em um negócio de 
inquilinato,  é apenas um sintoma mais visível e perturbador do 
cotidiano. As questões mais profundas e complexas sequer estão sendo 
consideradas.
L.E.


http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-ciencia-a-deriva


A ciência à deriva

Thomaz Wood Jr. 30 de maio de 2011 às 16:19h

Investir (bem) em Pesquisa e Desenvolvimento é essencial para 
qualquer país que aspire ter um lugar ao sol. Investir (bem) em 
Pesquisa e Desenvolvimento em Administração de Empresas é essencial 
para qualquer país que pretenda gerir adequadamente seus recursos e 
ajudar suas organizações a prestarem bons serviços e suas empresas a 
serem competitivas.

O Brasil vem crescendo de forma gradual em termos de número de 
publicações científicas e de seu impacto, medido pelas citações de 
trabalhos de brasileiros por outros pesquisadores. Dados da 
newsletter Science Watch, da Thomson Reuters, mostram que, entre 1989 
e 2007, o número de artigos científicos com ao menos um autor 
residente no Brasil aumentou seis vezes, passando de 3.176 para mais 
de 19 mil. Com isso, a participação brasileira na literatura 
científica mundial passou de 0,56% para 2,02%.

Em editorial publicado em número recente da RAE-revista de 
administração de empresas, uma publicação acadêmica da FGV-Eaesp, 
Eduardo Henrique Diniz chama a atenção para esse avanço apreciável e 
necessário. No entanto, observa o editor, a evolução foi heterogênea. 
Algumas áreas comandaram o movimento, tais como as Ciências Agrárias, 
a Microbiologia e as Ciências do Ambiente. Enquanto seus 
pesquisadores contribuíram significativamente para o avanço do 
conhecimento em seus respectivos campos, os colegas da Psicologia, da 
Ciência da Computação e da Economia e Negócios puxaram os números para baixo.

Tratando especificamente do campo da Administração de Empresas 
(Negócios), Diniz lembra que o aumento quantitativo da produção 
científica no campo não tem sido acompanhado por um aumento 
qualitativo. Há anos, crescem vigorosamente no Brasil os grupos de 
pesquisa, os congressos e as revistas científicas. Para o observador 
casual, temos pesquisadores e temos pesquisa. Porém, quando se 
verifica a qualidade ou utilidade do que é pesquisado e publicado, 
conclui-se que os resultados são pífios. Levantamentos e análises 
sobre o impacto da produção científica local são desanimadores. 
Aparentemente, nem nossos próprios pesquisadores utilizam o que eles 
mesmos pesquisam, escrevem e publicam. Além disso, achar um 
pesquisador brasileiro em um periódico científico internacional de 
renome é como encontrar Wally nas intrincadas ilustrações do 
britânico Martin Handford.

A Administração de Empresas é uma ciência aplicada. Seus cientistas 
deveriam se orientar para a solução de problemas reais. E estes 
existem em abundância. Em um país com consideráveis deficiências de 
gestão, como o Brasil, a contribuição desses pesquisadores poderia 
ser notável. Infelizmente, isso não é o que ocorre.

O leitor mais atento haverá de questionar: por que, então, as 
universidades públicas e privadas gastam recursos preciosos e 
escassos com pesquisa de utilidade duvidosa? Por que as agências 
governamentais de fomento continuam- custeando viagens e 
participações em congressos (que -geralmente acontecem em hotéis 
cheios de estrelas)?

Os vícios são muitos e as respostas são variadas, mas há um vilão: a 
construção de um sistema fechado e corporativista voltado para 
interesses próprios, disputando honrarias de valor questionável e 
buscando prestígio e legitimidade diante de entidades avaliadoras.

Nossos acadêmicos frequentemente se comportam como povos das 
montanhas, arredios, isolando-se em suas cavernas, governadas por 
suas próprias sombras. Por outro lado, nossos executivos, seus 
supostos interlocutores, comportam-se como povos litorâneos, sempre a 
mirar o oceano, à espreita de novidades. Eles são impulsivos e surfam 
desajeitadamente cada onda que surge no horizonte. Os montanheses 
veem os litorâneos como seres superficiais, cujo culto de gurus 
norte-americanos e indianos revela uma insustentável leveza 
intelectual. Os litorâneos veem os montanheses como refugo do 
mercado, seres de pouca inclinação para o trabalho, relegados pela 
ausência de qualificações às salas de aula e às teses.

Por que o sistema não muda? Grande inércia e pequena política têm se 
mostrado eficazes para evitar rupturas. Assim, avançamos com pompa e 
circunstância rumo aos píncaros da inutilidade acadêmica.

Seria cabível considerar o sucateamento do sistema atual de 
avaliação, mantido pela Capes? Desejável, sim, suficiente, não. 
Igualmente importante seria orientar os recursos para temas 
relevantes, de interesse do País e de suas- organizações. Além, é 
claro, de realizar esforços para aproximar montanheses e litorâneos, 
tarefa para a qual é preciso ter vontade política e coragem para 
quebrar costumes arraigados. Infelizmente, essas são duas atitudes 
ainda raras no meio acadêmico.
[]


Thomaz Wood Jr.

Thomaz Wood Jr. escreve sobre gestão e o mundo da administração. 
thomaz.wood at fgv.br
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