[forum-prof] Texto de Naomar e comentários (vejam o texto de Naomar na FSP)

JOSE RIBAS VIEIRA jribas at puc-rio.br
Sun Jan 24 10:36:09 BRST 2010


>>Gostei de que Naomar resgasta as tradiçoes. É importante lembrar que maio
> de 68 na França significou acabar com uso de becas de professores em sala
> de aula. Entretanto, tempo depois, fui testemunho ainda de professores
> franceses usando pesadas becas, pelerine,etc em sala de aula. Imagino
> isto no Brasil com esse calor. Em Montpellier, o professor catedrático
> tem o privilégio de montar um cavalo branco para adentrar nas Igrejas. Na
> FND, os professores eram enterrados com becas. Um professor de Dip foi
> enterrado com a parte superior (pelerine?) que pertencia a um professor
> de Direito Processual Penal. No velório, só reclamava que sua pelerine
> (?) era de seda italiana.... Naomar fala da importância do "branco" da
> unidade que é usada pelos reitores brasileiros. Em 1937, Getúlio
> recepciona no Palácio Guanabara as turmas de Direito da FND de 37 e a de
> medicina. A de 37 tinha como integrante Alzira Vargas. A recepção no
> Guanabara era uma tradição. Nessa ocasião sempre, Getúlio sorteava um
> cargo de promotor!!! Era uma época que o Brasil estava dividido entre os
> vermelhos (comunistas) e os verdes (facistas). Getúlio começou falar
> "vejo que estou entre os vermelhos (rubi) e os verdes (esmeralda da
> medicina). O aluno de 37 de direito e depois poeta das normalistas J G de
> Aráujo Jorge atalhou: "Excelência, o Senhor é a pedra branca, é o
> diamante que nos une".
> Mas voltando para o Naomar, reitor da UFBA, não esqueçamos que ele é o
> responsável pelo Reuni - que desmantela as Federais. O importante talvez
> não sejam nem as becas. Pois hoje um professor tem pouco para sobreviver.
> A proletarização do magistério do ensino superior é uma realidade. O
> professor usa sandália para dar aula.... Professor do ensino superior em
> regra em certas áreas das humanidades não consegue comprar nem a revista
> Veja. Por fim, outro dia ao sair do campus da Praia Vermelha  da UFRJ
> estava uma faixa enorme: Concurso para elaboração do hino da UFRJ! Falar
> de becas e de hino tem um sentido de um profundo surrealismo diante,
> repito, proletarização do magistério superior
>
>
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>> TENDÊNCIAS/DEBATES
>>
>>
>> Becas, borlas e jabôsNAOMAR DE ALMEIDA FILHO
>>
>> Becas, borlas e jabôs não garantem a excelência que justifica nossa
>> existência. É preciso talento e produção acadêmica competente
>>
>> NO INTRIGANTE ensaio "A Invenção das Tradições", Eric Hobsbawm mostra
>> como
>> se inventam tradições a partir de raízes históricas fictícias. Irônico,
>> analisa rituais, brasões, corporações e até o saiote escocês.
>> Curiosamente, esquece a mais legitimada matriz contemporânea de símbolos
>> e
>> signos culturais: a universidade.
>> Tradições universitárias têm sido inventadas e cultivadas no correr de
>> quase dez séculos. Em se tratando de vestes rituais, são quatro
>> linhagens.
>> A universidade escolástica mantém-se viva nas tradições clericais das
>> universidades italianas e ibéricas. As vestes solenes das universidades
>> ibéricas são ainda hoje negras e soturnas, recriando trajes das cortes
>> mediterrâneas do século 17. Acompanham adornos indicadores de segmentos,
>> nunca da universidade como um todo. Assim são as samarras, capuzes
>> estilizados que não mais recobrem cabeças, que ostentam cores definidas
>> para cada uma das faculdades.
>> A universidade britânica surgiu para a formação teológica da Igreja
>> Anglicana. Chapéus ornamentados, capuchos, túnicas e capas coloridas são
>> elementos identificadores de cada casa de ensino, mas não de escolas ou
>> faculdades. Uma procissão acadêmica numa universidade anglo-saxã revela
>> profusão de cores e formas, pois os docentes terão feito seu doutorado
>> em
>> diferentes instituições.
>> A universidade humboldtiana nasceu sob forte influência protestante, com
>> raízes luteranas ou metodistas, sub-rogada pelo disciplinarismo
>> prussiano.
>> Nos seus trajes rituais, variados por universidades, e não por
>> faculdades,
>> predomina a cor cinza ou marrom. Agregam-se signos remanescentes do
>> barroco alemão, introduzindo elementos como o arminho em semicapas que
>> evocam uniformes militares.
>> A tradição francesa pouco valoriza a instituição universitária. A
>> reforma
>> bonapartista da educação concedeu às "grandes écoles" hierarquia mais
>> elevada que à universidade. Por isso, na França, vestes talares levam ao
>> extremo o domínio simbólico das faculdades, sob a forma de faixas,
>> sobrepelizes, pelerines e adornos sobre uma beca negra, lisa ou
>> plissada.
>> O "jabeau", peitilho com rendas e brocados, encimado por gravatinha
>> borboleta branca, moda entre os gentis-homens da "belle époque",
>> completa
>> o vestuário de gala acadêmica.
>> No Brasil, quando faculdades e escolas politécnicas foram fundadas no
>> século 19, a influência francesa predominou como horizonte intelectual e
>> estético. As primeiras instituições promovidas ao regime de universidade
>> foram formadas pela unificação de faculdades.
>> Hoje, nas instituições universitárias brasileiras, a beca negra e lisa,
>> com um tipo padrão de casquete quadrado com borla e jabô de renda
>> bordada,
>> predomina como veste talar para graduações, simulacro da tradição
>> francesa.
>> Diferenciando os docentes, faixas, sobrepelizes e capinhas, estilizadas
>> dos capuzes doutorais lusitanos, seguem a gramática de cores do contexto
>> francês. Para distinguir o reitor, universidades brasileiras adotam uma
>> cópia exata da samarra das faculdades conimbricenses, reinventada na cor
>> branca. Com o branco, síntese de todas as cores, talvez se pretenda
>> simbolizar o poder maior da reitoria sobre as faculdades e suas cores.
>> Recentemente, no Salão de Atos de Coimbra, os reitores das universidades
>> brasileiras reuniram-se para fundar o Grupo Coimbra Brasil. Quase todos
>> em
>> suas becas pretas e samarras brancas, muitos com sobrepeliz de arminho,
>> jabô, faixa, capelo ou borla. Aí descobriram que os reitores da
>> Universidade de Coimbra, fonte de nossa tradição universitária, usam
>> somente um conjunto de calças e jaqueta, negras e justas, pois
>> despojam-se
>> dos signos de suas faculdades ao assumir o cargo maior da instituição.
>> Temos aqui uma questão de duplo sentido: político e antropológico. A
>> universidade brasileira continuará a se reconstruir como instituição de
>> conhecimento. Para tanto, reforçaremos vínculos com universidades de
>> outras linhagens que conosco compartilham os valores da civilização.
>> Mas isso não nos obriga a imitar suas tradições nem a criar, a partir
>> delas, simulacros. Os que escolhem fazê-lo precisam saber a que remontam
>> e
>> o significado de rituais e vestes, sobretudo por seu impacto no
>> imaginário
>> social.
>> Becas, borlas e jabôs são apenas roupas que, em eventos solenes,
>> representam pompa e tradição. Sozinhos, não garantem a excelência que
>> justifica, à sociedade, nossa existência. Isso se conquista com talento,
>> trabalho cotidiano e produção acadêmica competente.
>>
>> NAOMAR DE ALMEIDA FILHO, 57, doutor em epidemiologia, pesquisador 1-A do
>> CNPq, é reitor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor, com
>> Boaventura de Sousa Santos, de "A Universidade do Século XXI: Para uma
>> Universidade Nova" (Almedina, 2009).
>> _________________________________________________________________
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