[forum-prof] formação universitária

Luiz Felipe Coelho coelho at if.ufrj.br
Wed May 6 19:13:06 BRT 2009


Oi Lilia e demais colegas

Dei uma lida no artigo da formação de astrônomos 
que você recomendou. Me parece que a questão 
central é que formamos pessoas nas universidades 
- em especial no Brasil onde a tradição das 
profissões liberais é forte - para profissões 
definidas séculos atrás e através de currículos 
definidos por pessoas que se formaram 30 ou mais 
anos atrás. Em áreas muito dinâmicas isso pode 
significar que até a sociologia do trabalho muda. 
Exemplos extremos disso na área acadêmica são o 
CERN, os grandes observatórios astronômicos e o 
Fermilab. Ao invés do trabalho ser feito num 
escritório ou num grupo de pesquisa por duas ou 
três pessoas com a mesma formação acadêmica, 
falantes da mesma língua, passa a ser feita por 
duas ou três centenas de pessoas, com formações 
diversas e línguas diferentes, trabalhando em uma 
dúzia de países, se comunicando via computador e 
eventualmente se reunindo algumas vezes ao ano.

Os formandos em todos os cursos precisam conhecer 
cada vez mais as áreas vizinhas, ter uma 
alfabetização nas outras, conhecer computação e 
inglês, mas tendo ao mesmo tempo uma formação 
sólida em seus cursos. O unico jeito de conseguir 
isso é um grande aumento da qualidade do ensino 
fundamental e médio e da quantidade de horas de 
aula nesses níveis, junto com o aumento do hábito 
de estudo independente. Assim, quando chegar na 
universidade, poderemos colocar mais tópicos, sem 
a carga improducente e exaustiva de 20 a 40 horas de aula/estágio por semana.

Acabo de ler que no país basco (região da 
Espanha) havia três currículos: um só em basco, 
um só em espanhol e  um em espanhol e em basco. 
Agora o governo regional mudou dos nacionalistas 
para os socialistas (aliados aos conservadores) e 
o novo governo quer implantar uma quarta opção, 
um currículo trilíngue: em basco, em espanhol e 
em inglês. Li faz pouco que o Chile quer que 
todos os seus alunos ao saíreem do ensino médio 
sejam fluentes em espanhol e em inglês, 
acompanhando movimento similar na União Européia.

Enquanto isso aqui os alunos que terminam o 
ensino médio mal dominam a compreensão e a 
escrita em português, quanto mais nas outras 
"línguas" básicas: matemática, computação e 
inglês (e em todas as outras áreas de 
conhecimento). Aqui um governante se elege 
construindo escolas - vide o Brizola com os CIEPs 
e agora o Lula falando de apoiar os estados a 
construirem escolas técnicas - não pagando 
decentemente os professores. E ter profissionais 
de nível superior no Ensino Básico  (infantil, 
fundamental e médio), motivados para continuar 
aprendendo e para transmitir esse entusiasmo aos 
alunos, professores fluentes nessas diversas 
"línguas" e nos diversos saberes, é inviável se 
os salários forem da ordem de mil reais/mês, como 
em nosso município, com as excessões individuais.

Aí estoura na Universidade que recebe esses 
egressos e tem que lhes ensinar cada vez mais 
coisas, quando muitos ainda tem dificuldade em 
ler um livro-texto. Já estamos no século XXI em 
alguns setores do ensino mas ainda temos desafios 
do século XVIII: uma alfabetização de qualidade, 
o ensino de matemática básica e uma formação 
cultural e científica sólida ainda são 
privilégios, apesar dos 12 anos de educação 
básica (infantil, fundamental e médio). E como a 
universidade não é onipotente, mesmo com 5 anos 
de graduação e 5 de pós, às vezes forma 
especialistas de ótima qualidade mas que 
continuam com lacunas sérias, inclusiva na 
redação de teses, monografias e dissertações, às 
vezes quase ilegíveis por essa deficiência de 
escrita. E isto para não falar na tão sonhada multidiciplinaridade...

Abraços, Felipe

At 19:36 4/5/2009, Lilia Irmeli wrote:
>problemas no envio do artigo que tinha ido anexo.
>O endereco do abstract é
>
>http://arxiv.org/abs/0904.2571v1
>
>de la pode-se obter o artigo
>
>---------- Forwarded message ----------
>From: Lilia Irmeli <lilia at astro.ufrj.br>
>Date: 2009/5/4
>Subject: formação
>To: forum-prof <FORUM-prof at listas.if.ufrj.br>
>
>
>o artigo, apesar de se referir a astronomos tem, 
>a meu ver ampla aplicação em várias de
>suas abordagem, para a formação academica em geral, das novas geraçoes ...





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