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Luis Paulo Vieira Braga
lpbraga at im.ufrj.br
Mon Jan 31 10:09:53 BRST 2005
Universidade s/a
As universidades corporativas (profit universities) são a coqueluche no
mercado acionário norte-americano, embora tema-se a repetição da desastrosa
espiral especulatória ocorrida com as empresas virtuais. Respondem atualmente
por cerca de 8% das matrículas no ensino superior, com taxas de crescimento
superiores às das instituições tradicionais. O fenômeno tem história e
explicação, em 1976 foi fundado o Apollo Group que hoje tem 200.000 alunos
distribuídos em cursos regulares e à distância, o grupo é o dono da
Universidade de Phoenix. Outros grupos são o Corinthian College, a Career
Education Corp., a De Vry e a ITT Educational Services. Diferentemente das
universidades privadas que dependem de dinheiro público, doações e
anuidades , as universidades corporativas buscam seus recursos no mercado de
ações e anuidades. Por outro lado não oferecem a infraestrutura usual que
caracteriza as tradicionais universidades americanas bibliotecas, estádios
de esporte, alojamentos, etc..., funcionam em prédios nos centros das
cidades. Nem o corpo docente atende aos mesmos requisitos das universidades
tradicionais. Sua clientela também é diferente - adultos que buscam melhor
qualificação para o mercado de trabalho.
O capitalismo norte-americano deve sua dinâmica ao conceito de sociedade por
ações ou corporação. As milhares de corporações que movimentam centenas de
bilhões de dólares, atuam no mercado de ações aonde conseguem recursos para
expansões, fusões, vendas, etc... A garantia constitucional de que uma
corporação tem os mesmos direitos da pessoa humana deu a este tipo de empresa
uma margem de ação muito grande inibindo ações fiscalizatórias ou
regulatórias. Outra conseqüência desta forma de propriedade é o anonimato
relativo dos proprietários das corporações, muitas vezes outras sociedades
por ações. O eventual presidente de uma corporação tem um poder relativo, que
pode se evaporar, se os resultados de sua administração não gerarem lucros
para os acionistas. Muitos empreendedores norte-americanos não gostam desta
forma de propriedade por considerar que a pressão dos acionistas por lucros
imediatos tende a banalizar a gestão da empresa. Na sociedade civil e em
instâncias do poder público as corporações são questionadas em diversas
esferas ambiental, fiscal, trabalhista, etc... IBM, Monsanto, Fox, Nike,
entre outras, já foram acusadas, respectivamente, de colaborar com o regime
nazista na Alemanha, contaminar com hormônios os adolescentes, demitir
jornalistas por motivos políticos e utilizar trabalho escravo. Porém a
legislação liberal é insuficiente para inibir os abusos, e está se falando de
EUA !
As condições do mercado americano não são obviamente encontradas em outros
países disponibilidade de capital e facilidades burocráticas levando
muitas filiais de s/a norte americanas a se tornarem sociedades limitadas.
IBM do Brasil, Microsoft do Brasil, e tantas outras não participam do mercado
acionário brasileiro, por exemplo. O mercado de ações no Brasil , como se
sabe, ainda é muito restrito, sendo dominado pelos títulos públicos. A busca
de recursos nas bolsas é mais a exceção do que a regra, sendo notória a
especulação financeira e a desconfiança dos investidores. Portanto, a
iniciativa da Estácio de Sá, que disputa com a UNIP a posição de liderança de
matrículas no país, de abrir parte de seu capital, envolve informações não
acessíveis ao público e que só se tornarão conhecidas mais adiante. É também
inédita no Brasil, sinalizando o avanço da assimilação da sociedade pelo
mercado. Cursos seqüenciais, não presenciais, aos fins de semana, em
shoppings ou prédios comerciais, nada disso se parece com a experiência
universitária sonhada por Anisio Teixeira ou Darci Ribeiro, mas apenas a
administração de um negócio seguro vender diploma a quem precisa.
Prof. Luis Paulo
DME
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