<p>Prezado Antonio Carlos,</p>
<p>De minha parte eu utilizo a expressão publicacionismo e não publicionismo, com um neologismo que visa criticar o absolutismo da avaliação do desempenho acadêmico fundado na publicação de artigos em nível internacional.</p>
<p>Que a publicação de artigos internacionais seja um dos critérios para a avaliação do desempenho acadêmico, tudo bem. E parabéns para o autor, com todo o luvor, sempre que se tratar de artigos com real fundamentação científica, sejam decorrentes de pesquisa básica ou aplicada.</p>
<p>Mas a avaliação do desempenho acadêmico é algo muito mais sério e abrangente, que deve envolver medições fidedignas também sobre a quantidade e a qualidade dos trabalhos, bem como das atuações referentes ao ensino (de graduação, inclusive), à extensão, à gestão acadêmica, a participação em comissões científicas, em conferências, nas consultorias às entidades públicas, na promoção de eventos acadêmicos, na elaboração de materiais didáticos e na publicação de livros, entre outros importantes requisitos.</p>
<p>Claro que nem todo acadêmico vai ser <em>top mark</em> em todos esses e demais requisitos.</p>
<p>É gualmente compreensível, que determinados acadêmicos sejam melhores publicadores e orientadores de pesquisa do que professores.</p>
<p>Mas Einstein por exemplo, quando publicou em 1905 na <em>Annalen der Physik</em>,  os cinco magníficos trabalhos que para muitos, constituem o <em>annus mirabilis</em> da Física moderna, era então aos 26 anos, apenas um funcionário do setor burocrático da Universidade de Berna, ansioso por se tornar professor universitário.</p>
<p>Anos depois e até o fim de sua vida, já em Princeton e após muitas conferências, consultorias, orientações, comissões científicas, artigos, livros e ativismo político, suas aulas continuavam entre as mais concorridas.</p>
<p>Por outro lado, Faraday, um dos maiores experimentalistas da ciência, cujos estudos influenciaram Edison, Siemens e também Einstein, não tinha formação em Quiímica ou Física, foi publicador bissexto e recusou convites para ser professor da Universidade de Londres e presidente da Royal Society.</p>
<p>Ele topou a Cátedra de Química da Royal Institution, apenas porque lá poderia prosseguir com as suas experiências como em nenhum outro lugar.</p>
<p>Mas na COPPE, pelo visto, ele não teria direito sequer a um simples laboratório.</p>
<p>Não dá para concordar portanto, com o paroxismo de um critério, a julgar pelo isento relato do Respício, que chega a desqualificar como orientador de doutorado, mesmo um docente com currículo e renome internacionais, apenas porque este não teria publicado recentemente um artigo "P1" recente.</p>
<p>Isso não tem nada e jamais terá a ver com a promoção das grandes conquistas da humanidade através da  troca de experiência de alto nível, via publicação de artigos.</p>
<p>É pura burocracia, e no sentido dos mais perigosos, pois que não significa excesso de papelório, mas a constituição de esquemas de poder com altos teores de danos à vida acadêmica.</p>
<p>Por último, mas não menos importante, ainda que os bons publicadores mereçam todo o nosso respeito e admiração, heróis mesmo, para mim, são os professores da educação básica que tentam nesse país,  sempre hostil à Educação, trabalhar de forma decente em prol da formação de crianças e adolescentes.</p>
<p>As condições de trabalho e a remuneração dos docentes universitários estão ficando cada vez mais aviltantes, sendo notório que muitos colegas precisam literalmente rodar bolsinhas para complementarem os seus rendimentos, que ainda assim, não alcançam os ganhos de um policial rodoviário em início de carreira.</p>
<p>Mas para os professores da educação básica o quadro é ainda pior, pois que em 2010 o piso nacional da categoria, pouco mais de R$ 1000,00 (já inclusas todas as gratificações), mal vai alcançar o limiar da classe média baixa desse país, segundo o IBGE.</p>
<p>E isso como se ganhar mil e poucas merrecas fosse salário de classe média. Mesmo baixa.</p>
<p>No mais, eu lhe desejo todo sucesso possível como publicador e em todos os demais ítens de medição do seu desempenho acadêmico!</p>
<p>Abraço,</p>
<p>Leandro</p>
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<p style="text-align: center;">Atenciosamente,</p>
<p style="text-align: center;">Leandro Nogueira<br />Doutor em Educação Física<br />Coordenador do Curso de Graduação em Educação Física<br />EEFD-UFRJ</p>
<p> </p>
<p><br /><br />Em 15/01/2010 11:28, <strong>A C Fernandes < acfernandes@peno.coppe.ufrj.br ></strong> escreveu:</p>
<blockquote style="border-left: 2px solid #6868cc; margin: 0pt 0pt 0pt 0.8ex; padding-left: 1ex;"><br />COLEGAS DO FORUM,<br /><br />Assim não é possível. Inventaram agora o conceito publicionismo.<br /><br />Publicar em nível internacional na minha opinião é retribuir a <br />cooperação que recebemos de inúmeros trabalhos internacionais que usamos <br /> diuturnamente para realizar pesquisas avançadas, sejam elas <br />acadêmicas, sejam elas aplicadas.<br /><br />Para mim, trata-se de uma das grandes conquistas da humanidade poder <br />trocar esta experiência de alto nível. É claro que segredos absolutos <br />demoram para aparecer, não são publicados, mas a fundamentação esta aí <br />para quem  tiver competência e quiser aproveitar.<br /><br />Quem tenta, sabe que não é fácil publicar em revistas técnicas <br />conceituadas. É muito mais difícil do que ficar inventando conceitos <br />diversionistas. Ao invés de chamar a pessoa que publica (no B
 rasil onde <br />faltam recursos e ambiente) de publicionista deveriam chamar de herói.<br /><br />Abrç<br />ANTONIO CARLOS<br /><br /><br /><br /><br /><br />leandrofilho@uol.com.br escreveu:<br />> Prezados,<br />> <br />> O relato abaixo na mensagem do Respício, é simplesmente valioso, <br />> justamente por retratar uma situação inaceitável do ponto de vista <br />> acadêmico.<br />> <br />> Confesso que apesar das minhas críticas ao modelo atualmente consagrado <br />> de produtivismo acadêmico, eu não imaginava que uma aberração dessa <br />> estatura fosse perpetrada em uma universidade pública.<br />> <br />> É o predomínio ou a absolutização da burocracia publicacionista sobre o <br />> legítimo e notório saber.<br />> <br />> Guardadas as devidas proporções sócio-históricas, isso significa que <br />> Faraday estaria frito se precisasse de algum assento acadêmico na COPPE.<br />> <br />>  <
 br />> <br />> Leandro<br />> <br />> <br />> Em 13/01/2010 16:00, *Luiz Eduardo email < <br />> luizeduardo.email@yahoo.com.br >* escreveu:<br />> <br />> <br />>     At 12:00 13/1/2010 -0200, you wrote:<br />> <br />>         *Luiz Eduardo,<br />> <br />>         Ha' uns 3 ou 4 anos, nao me recordo bem, o "CEPGuinho" da COPPE<br />>         negou a participacao de um professor da COPPEAD numa banca de<br />>         Doutorado porque ele nao havia publicado em "revistas<br />>         internacionais indexadas de alta pontuacao" (os tais famosos<br />>         artigos "P1" na linguagem da COPPE) nos ultimos anos.<br />>         Entretanto, o tal professor havia escrito nada mais nada menos<br />>         que 4 livros, outros muitos capitulos de livros, orientado<br />>         nao-sei-quantas dissertacoes e teses, publicado/apresentado<br />>         artigos em dezenas de congressos no Brasil e no exterior,
  atuado<br />>         como professor-palestrante da ESG, na Escola de Guerra Naval,<br />>         etc., sendo considerado um dos mais renomados na area em<br />>         questao, inclusive internacionalmente.  E a COPPE negou ate' o<br />>         fim a participacao dele... porque o homem nao havia publicado<br />>         nehum "P1" recente!!!<br />> <br />>         Concordo em genero, numero e grau c/ o que vc, o Leandro e<br />>         outros têm escrito aqui sobre essa tirania demente de se<br />>         privilegiar e enaltecer apenas os que publicam os tais "P1".<br />> <br />>         Todo um contexto precisa ser analisado, assim como a area do<br />>         individuo, pois existem areas que podem "publicar" muito mais<br />>         (em numero, nao necessariamente em qualidade!!!) do que outras!!<br />> <br />>         Abracos,<br />>         Respicio<br />>         -------------*<br />> <br />> <br />>
  <br />> <br />> <br />> <br />>     Pois é, Respício...<br />> <br />>     tem muita gente, muitas nações, muitos povos, que exigem ser DIFERENTES.<br />> <br />>     E depois, quando são tratados diferentemente, gritam, gemem e jogam<br />>     bombas.<br />> <br />>     Não estamos aqui reprimindo quem opta por se dedicar a produzir<br />>     artigos P1.<br />>     Palmas para eles.<br />> <br />>     Mas palmas igualmente para quem se sacrifica na coordenação dos<br />>     cursos de graduação<br />>     (jamais me pegarão pra isso... e também por isso aplaudirei de pé<br />>     que faz).<br />> <br />>     Esse é o ponto.<br />>     Não estamos criticando que publiquem.<br />>     Ou que desperdicem o escasso dinheiro com ciclovias.<br />> <br />>     O problema não é a burrice.<br />>     O problema é o totalitarismo.<br />> <br />>     O problema é que eles querem que
  todos sejam iguais a eles...<br />> <br />>     o que também é mentira...<br />>     porque se todos fossem iguais a eles...<br />>     então eles não conseguiri am as bolsas diferenciadas do CNPq.<br />> <br />> <br />>     Mas lógica... de totalitários ... quem há de conseguir ?<br />> <br />> <br />>     NÃO ESTAMOS FALANDO DE CIENCIA.<br />>     ESTAMOS TRATANDO DE PODER E DE POLÍTICA.<br />>     Estamos tratando de liberdades.<br />>     E de justiça.<br />> <br />>     o tempo todo.<br />> <br />> <br />>     L.E.<br />> <br />> <br />>     ------------------------------<br />> <br />> <br />> ------------------------------------------------------------------------<br />> <br />> _______________________________________________<br />> forum-prof mailing list<br />> forum-prof@listas.if.ufrj.br<br />> http://webmail.if.ufrj.br/mailman/listinfo/forum-prof<br /><br />-- <br />
 Antonio Carlos Fernandes, PhD<br />Professor, COPPE/UFRJ<br />Diretor de Relações Internacionais, LabOceano<br />Coordenador, LOC<br /><br /><br />tel.:<br />+55-21-2562.8736 (UFRJ)<br />+55-21-3867.6768 (LabOceano)<br />+55-21-2562.8812 (LOC)<br />+55-21-9627.0802 (cel.)<br />+55-21-2205.0869 (res.)<br /><br /></blockquote>