<p>Prezados,</p>
<p>Penso que boa parte do mal-estar na avaliação do desempenho acadêmico, resulte do emprego da palavra "produtividade" e de sua inevitável associação com os códigos do economicismo capitalista.</p>
<p>Como o trabalho docente jamais se prestou à tangibilidade típica do modo de produção capitalista, não sendo sequer "produtivo" do ponto de vista econômico, determinar parâmetros para uma avaliação justificadora da remuneração dos professores, o ítem mais dispendioso de qualquer sistema educacional (mesmo quando são mal pagos), constitui a tarefa mais difícil e quase sempre inglória da maioria dos gestores de educação.</p>
<p>E como o que se pretende sempre é o ajuste dessa avaliação aos dogmas da economia capitalista, quase sempre os principais parâmetros de produtividade remetem à redução de carga horária dos cursos (é preciso aligeirar a formação!),com aumento acentuado da carga horária docente (professor-horista) ao aumento da relação professor-aluno (tem ex-Reitor que não vê problemas se for de 1:300 ou superior) e no caso mais especifico e hegemônico entre os professores universitários, a massiva publicação de artigos.</p>
<p>Nesse último ítem, são abundantes os relatos de publicadores tão "produtivos", que a impressão é de que os numerosos artigos tão febrilmente elaborados, podem ter sido na verdade... psicografados.</p>
<p>A questão maior, é que enquanto a menoridade acadêmica continuar grassando no ensino superior, mais capitalista tenderá a ser a avaliação dos docentes universitários, os quais serão ainda submetidos, cada vez mais, aos esquemas "meritocráticos" de diferenciação salarial por meio de bolsas ou outras formas de estímulo pecuniário, outra grande tradição herdada do capitalismo industrial.</p>
<p>E não é nada fácil superar esse estado de coisas, exatamente porque o capitalismo é o sistema-mundo vigente, como lembra Wallerstein, além do fato de que os docentes universitários em quase todo o mundo, abraçam serenamente a tese da naturalização da produtividade acadêmica.</p>
<p>Donde tendem em sua maioria, a acatar como igualmente natural, a competitividade sem exclusão de golpes, incluindo publicações por vezes fraudulentas, além de atos de explícito vampirismo intelectual, numa espécie de conformidade com uma variante do darwinismo que jamais foi endossada por Darwin, mas apenas por alguns dos seus mais equivocados intérpretes, como Spencer e Weber.</p>
<p>Com efeito, até Marx andou escrevendo umas boas bobagens sobre Darwin, tendo sido por sinal, categoricamente desautorizado pelo próprio naturalista inglês.</p>
<p>Assim sendo, diante dessas consideráveis dificuldades, já seria de bom tamanho se os professores principiassem pela rejeição gradual dessa infame expressão "produtividade acadêmica", a qual somente lhes minora e falseia a função social, já que o trabalho docente não é por natureza produtivo, empregando ao invés disso, o termo proficuidade acadêmica ou proficuidade intelectual.</p>
<p>Sem embargo, proficuidade é uma palavra que tem mais a ver com proficiência, maestria, capacidade apurada e com atividades que resultam em efeitos proveitosos, sendo portanto mais próxima da elaboração intelectual maior, o que se espera enfim como resultante da prática laboral dos docentes universitários.</p>
<p>Além disso. proficuidade tem mais a ver com legado, do que com produtividade.</p>
<p>Pensado nessas expressões, será que Kant, Einstein ou Heinsenberg, devem ser mais bem lembrados como "produtivos" ou como profícuos?</p>
<p>Não sei quanto a vocês, mas de minha parte, nem mesmo o fato de eles nos terem legado inúmeros textos ou trabalhos de caráter acadêmico, serve para considerá-los como simplesmente "produtivos".</p>
<p>Penso que para muito além dessa estreita visão, eles estiveram, isso sim, entre os mais profícuos e prolíficos acadêmicos de todos os tempos.</p>
<p>E só isso já nos deveria levar a entender, que "avaliar produtividade" de professor, principalmente a partir de códigos ou esquemas típicos do economicismo capitalista, é antes de tudo um grosseiro equívoco em qualquer instância da gestão educacional.</p>
<p>Abraços,</p>
<p>Leandro</p>
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<p style="text-align: center;">Atenciosamente,</p>
<p style="text-align: center;">Leandro Nogueira<br />Doutor em Educação Física<br />Coordenador do Curso de Graduação em Educação Física<br />EEFD-UFRJ</p>
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<p><br /><br />Em 11/01/2010 19:27, <strong><span>Luiz Eduardo email < luizeduardo.email@yahoo.com.br ></span></strong> escreveu:</p>
<blockquote style="border-left: 2px solid #6868cc; margin: 0pt 0pt 0pt 0.8ex; padding-left: 1ex;"><br /> <span style="font-size: small;">At 17:22 11/1/2010 -0200, you wrote:<br />
<blockquote class="cite">Essa estoria já fez aniversário. Ver por ex. (novembro 2008)<br /><br /> <a href="http://scholarlykitchen.sspnet.org/2008/11/25/elsevier-math-editor-controversy/" target="_blank"> http://scholarlykitchen.sspnet.org/2008/11/25/elsevier-math-editor-controversy/</a> <br /><br /> e, como comentário correto sobre o tema (final do artigo):<br /><br /> ''The problem is not that he published 5 articles in his own journal. <br /> The problem is that hes published <a href="http://www.scirus.com/srsapp/search?q=%28au%3AEl+AND+au%3ANaschie%29&t=all&sort=0&g=s" target="_blank"> over 300 articles</a> in his own journal since 1993. ''<br /><br /> Agora, por curiosidade, qto de fato é relevante e ''honesto'' em suas publicacoes?<br /><br /> Afinal, conheci um gajo produtivo que tambem simulava publicacoes, <br /> que eram de fato resumos ( para ''fazer numero'', para<br /> dar ''mais peso ao seu nicho'' - argumentos dados sem o menor pudor)<br /><br
/> O que leva uma pessoa produtiva a falsificar descaradamente quando isso,<br /> de fato, nao é necessario?<br /><br /> Esse é um tema interessante, digno de artigo. Alias, como será que <br /> evoluiram essas taticas na historia da ciencia e as respectivas estatísticas?</blockquote>
<br /><br /> <br /><br /> </span><span style="color: #000080; font-size: small;"><strong>O que é desonesto não é publicar ou não publicar no proprio jornal.<br /><br /> Desonesto é impor as publicações como único e opressor indicador de produção e produtividade.<br /><br /> <br /> Se os concursos públicos fossem feitos com inteligencia e honestidade...<br /><br /> Se o ingresso no quadro de professores fosse por critérios inteligentes e honestos...<br /><br /> Se quem entrasse aqui fosse...<br /> DE VERDADE...<br /> professor...<br /> pesquisador...<br /> intelectual...<br /><br /> ora, não precisaria AVALIAR PRODUTIVIDADE NENHUMA.<br /><br /> <br /> E, ao impor tais indicadores... estamos fazendo o quê ?<br /><br /> Ora... estamos querendo inventar chicotes pra fazer intelectual pensar...<br /> pra fazer cientista publicar...<br /><br /> <br /> ORA...<br /> ESSE CHICOTE SÓ FUNCIONA EM CIMA DE QUEM É O OBRIGADO A FAZER O QUE NÃO SABE, O QUE NÃO QUER, O QUE N
ÃO PODE.<br /><br /> <br /> E então... <br /> dá nisso aí...<br /><br /> UM MEDIOCRE INSTRUMENTO DE ESTÍMULO À PRODUTIVIDADE DE MEDIOCRES.<br /><br /> <br /> Por favor...<br /><br /> <br /> L.E.<br /><br /> ========================================</strong></span><strong></strong> <br /></blockquote>