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<img src="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/images/opiniao.gif" width=190 height=37 alt="[]">
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</font><font size=1>11 de janeiro de 2009</font><font size=3> <br><br>
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<div align="center"><font size=4 color="#000080"><b>TENDÊNCIAS/DEBATES<br>
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</font><font size=5>Universidade: perversões da
autonomia</b></font><font size=3> <br><br>
<b>NAOMAR DE ALMEIDA FILHO<br><br>
</b></div>
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<b><i>Defendo o conceito de autonomia como ousadia histórica; nunca para
manter a velha universidade elitista, alienada e anacrônica <br>
<br>
</i></b><br>
A RIGOR , o termo autonomia significa capacidade de definir as próprias
normas. Em uso corrente, inclui o sentido de autarquia ou capacidade de
autogoverno.<br>
Para avaliar objetivamente a questão da autonomia universitária,
consideremos dois planos articulados: administrativo e acadêmico.<br>
No plano administrativo, as universidades federais encontram-se travadas
por aparato normativo que compromete tanto a missão acadêmica de formar
com qualidade quanto o dever de buscar eficiência e economicidade como
instituição pública.<br>
Rápidos exemplos triviais. Para atividades de ensino e pesquisa,
precisamos de bens de melhor qualidade e serviços mais criativos,
pertinentes e competentes, quase nunca baratos.<br>
Porém, segundo a lei de licitações, somos obrigados a contratar pelo
menor preço.<br>
Na UFBA (Universidade Federal da Bahia), seis meses de conta de água
bastariam para substituir todo o obsoleto sistema hidráulico dos campi,
reduzindo o consumo em até 40%.<br>
Não obstante, é proibido mudar rubricas de custeio porque o Orçamento da
União é prefixado.<br>
Em qualquer caso, inútil economizar, porque todo o montante poupado tem
de ser, ao final do exercício, recolhido ao Tesouro Nacional.<br>
Diligentemente, órgãos de controle externo nos têm auditado. O TCU
(Tribunal de Contas da União), aplicando a lei, tem punido dirigentes
universitários por irregularidades supostas em procedimentos que, o mais
das vezes, visam a viabilizar a gestão universitária.<br>
No plano acadêmico, a universidade se engana, e aparentemente gosta, ao
pretender-se autônoma. De fato, longe estamos da mítica autonomia
universitária.<br>
Submetidos à crescente judicialização da sociedade, concursos docentes,
processos seletivos, transferências e matrículas obedecem a leis e regras
mais cartoriais que acadêmicas. <br>
Projetos pedagógicos seguem, na minúcia, diretrizes curriculares
estabelecidas por órgãos externos de regulação, influenciados por
interesses corporativos e mercadológicos.<br>
Linhas de pesquisa contemplam prioridades definidas por agências de
fomento; programas de extensão respondem a demandas ou determinações de
organismos governamentais, não-governamentais e empresariais.<br>
A autonomia universitária nos é garantida pelo artigo 207 da Constituição
Federal. Então, por que não recebemos orçamento global, definido por
metas e planos?<br>
Por que nosso quadro docente e de servidores obedece a regras do serviço
público, quiçá adequadas a repartições burocráticas, porém flagrantemente
contraditórias com o mandato da inovação acadêmica?<br>
Por que nossos conselhos de gestão não têm autonomia para gerir
patrimônio, custeio e receita?<br>
Por que nossos conselhos acadêmicos têm que seguir diretrizes e
regulamentos de corporações e conselhos?<br>
Por que nossos conselhos curadores, reforçados com representação da
sociedade, não poderiam fiscalizar operação, orçamentos e prestações de
contas?<br>
Por que povo e governo não nos cobram transparência, competência,
desempenho e qualidade em vez de mera capacidade de seguir regras de
controle e normas burocráticas?<br>
O conceito de autonomia da universidade articula meios e fins. Como sua
missão é socialmente referenciada, penso que a autonomia dos fins deve
ser relativa, com participação e controle social na definição de metas e
finalidades. Porém, para cumprir de modo competente seu mandato
histórico, a universidade precisa gerir processos institucionais com
autonomia plena dos meios.<br>
A universidade brasileira perverte o conceito de autonomia. Onde precisa,
não exerce autonomia, pois, em seu cotidiano, a gestão dos meios segue
pautas extrainstitucionais e obedece a marcos heterônomos.<br>
Entretanto, docentes e dirigentes reivindicam autonomia dos fins. Tal
posição tem justificado, por exemplo, rechaçar políticas de ações
afirmativas e inclusão social, o que pouco contribui para tornar mais
justa a sociedade que abriga, sustenta e legitima a universidade.<br>
Na atual conjuntura nacional, rica em oportunidades e desafios, pode a
defesa da autonomia justificar conservadorismo social, imobilismo
institucional e ranço acadêmico? Penso que não.<br>
Immanuel Kant, propondo destradicionalizar a universidade mediante
experimentação de novas formas de pensar e agir, propôs a audácia como
consigna da autonomia universitária.<br>
Seguindo o grande filósofo, defendo o conceito de autonomia somente como
ousadia histórica, jamais para manter a velha universidade elitista,
alienada e anacrônica, sempre para transformar e reinventar a vida.<br>
<br>
</font><font size=2><b>NAOMAR DE ALMEIDA FILHO</b>, 56, doutor em
epidemiologia, pesquisador do CNPq, é professor titular do Instituto de
Saúde Coletiva e reitor da UFBA (Universidade Federal da Bahia).<br>
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