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<div align="right"><font size=3>Correio Braziliense, 11/01/2009.<br><br>
</font></div>
<div align="center"><font size=5><b><u>Quem determina o fato
histórico?<br><br>
</u></b></font></div>
<div align="right"><font size=3>Jaime Pinsky<br><br>
</div>
Embora não se possa confundir pesquisa com docência, é muito bom quando o
pesquisador tenha preocupações didáticos e o professor se aprofunde na
investigação. Ocorre, então, retroalimentaçao salutar entre a
sistematização e o aprofundamento - uma, fundamental nas aulas; o outro,
imprescindível na pesquisa. Ambos úteis nos dois casos. <br><br>
Há perfis que não se amoldam a uma ou outra das tarefas: o investigador
competente porém "travado" ou o mestre brilhante mas incapaz de
aventuras de espírito mais profundas, por exemplo. Há, contudo, certo
esnobismo por parte de uma série de pesquisadores que acham que sua fala
deve, necessariamente, ser inacessível ao comum dos mortais. <br><br>
Convencer esses espécimes a praticar a modéstia da clareza é tarefa
inglória. Pior ainda são os medíocres, por sinal a imensa maioria dos
acadêmicos, a descer dos saltos e escrever, ou falar de modo a serem
compreendidos. Nesse caso há um medo compreensível: se seu discurso for
entendido, a pobreza dele ficará mais à mostra. Ele é o especialista em
relatórios, o campeão da burocracia. Não é intelectual, senão o burocrata
do conhecimento. <br><br>
Há poucos anos um grupo de historiadores de talento, preocupados com o
divórcio então (e ainda) existente entre a universidade e o ensino de
história escreveu um pequeno livro que já teve numerosas edições e tem
influenciado gerações de professores e estudantes. O ensino de História e
a criação do fato (o nome do livro) não questionava apenas o modo pelo
qual alguns fatos são considerados "históricos" e outros não,
ou quem determina a historicidade dos fatos, mas ia fundo na discussão
sobre que história interessa ensinar num país como o nosso. <br><br>
Vinte anos após a primeira edição do livro, os autores decidiram
atualizar formalmente os textos, mantendo, contudo, o conteúdo. Sua
atualidade (mais triste do que animadora em alguns casos) poderá nos
ajudar a compreender melhor a história. Não resisti e extraí da obra
frases reveladoras que transcrevo abaixo para (espero) o prazer
intelectual dos meus supostos leitores, aos quais, evidentemente, desejo
um ano de paz e alegria. <br><br>
"Da maneira como a maioria dos manuais insiste em nos apresentar a
História, esta parece ser, efetivamente, a 'a ciência do passado'."
<br><br>
"A transmissão da ideia de um passado separado de viver social
articula-se com o sentido de um tempo imutável, dogmático."
<br><br>
"Cada nação conta uma história diferente. O que é guerra de
libertação para uma é de opressão para outra." <br><br>
"Outro valor que aparece em nossos livros de história é a ideia de
um Brasil sem preconceito racial, onde cada um colabora com aquilo que
tem para a felicidade geral. O negro com a pimenta, o carnaval e o
futebol; o imigrante com sua tenacidade; o índio com sua valentia.
Negando o preconceito, guarda-se o fantasma no armário ao invés de lutar
contra ele." <br><br>
"Esmagado duplamente, de um lado pelo herói, de outro pelo
'processo' do qual era vítima passiva, o homem começa ser descoberto como
agente real da história, como aquele que atua para que ela possa
ocorrer." <br><br>
"Fazer história pode começar pelo que seria a inversão de um
quebra-cabeças: o acontecimento pronto e acabado, que sempre compõe uma
imagem que ambiciona abranger a totalidade, deve ser decomposto para
denunciar aos espectadores o arbítrio de sua construção, como se alguém
mostrasse à plateia os fios invisíveis que sustentam os truques do
ilusionista - tão sobrenatural quanto qualquer um de nós." <br><br>
"A tarefa da escola pública torna-se mais complexa ao se ver
obrigada a introduzir, para alunos provenientes de diferentes setores
sociais, formas de socialização comuns a todos." <br><br>
"Repensar na história como disciplina escolar requer dos professores
um momento de reflexão que envolve considerações que vão além dos
conteúdos, metodologias de ensino e recursos didáticos. Trata-se de
refletir sobre o sentido político e social da disciplina histórica."
<br><br>
"A heroização do povo pode ser consoladora, mas não ajuda a
compreender a realidade e, portanto, a transformá-la num sentido
favorável às classes populares. Ao contrário, pode ser tão mitificadora
quanto a história tradicional, que enaltecia os 'grandes homens' das
camadas dirigentes."<br><br>
<br>
<i>Jaime Pinsky Historiador, professor titular da Unicamp, é diretor da
Editora Contexto
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