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<div align="right">CARLOS HEITOR CONY<br>
FSP - 29/01/05 <br><br>
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<div align="center"><font size=4><b>Carência e mérito <br><br>
</b></font></div>
RIO DE JANEIRO - Mais um plano lançado pelo governo para responder às
críticas de sua apatia pela agenda social. Depois do Fome Zero e do
Bolsa-Família, que trouxeram mais problemas do que soluções para o
próprio governo, vem agora o Prouni, destinado a democratizar o ensino
superior. Ao contrário dos programas anteriores, que pelo menos eram
bem-intencionados, mas impraticáveis, o Prouni tem um erro de origem,
expressando um conceito primário de ensino.<br><br>
O erro é considerar "carente" o aluno que não consegue
determinada média nos cursos básicos. A reserva de cotas de negros nas
universidades também é polêmica, mas tem lá a sua oportunidade, pelo
muito que devemos aos nossos irmãos discriminados -discriminados, sim,
mas não necessariamente carentes. Abolir ou diminuir a média que habilita
aos cursos superiores é agredir o conceito do mérito, que fundamenta até
mesmo as sociedades que já tentaram viver sem classes. Todos devem ter
oportunidade, essa é uma verdade tranqüila. Mas a oportunidade que deve
beneficiar a todos tem como finalidade justamente a conquista do
mérito.<br><br>
Oportunidades iguais para todos, sim, mas o mérito é conquistado, e não
imposto por decreto. Seria simples a um governo abrir a universidade para
todos, inclusive aos analfabetos, que também não deixam de ser
carentes.<br><br>
Em algum ponto da trajetória de um carente haverá o momento de verdade,
que será provocado e definido pelo mercado, que é cruel por definição e
insensível por obrigação.<br><br>
Mais humano seria ter o mérito avaliado ainda na fase escolar, quando o
estudante poderá esforçar-se para obter o mérito que o habilitará a
progredir não apenas no currículo escolar da juventude mas, no devido
tempo, na fatia do mercado que escolher, onde não mais será um carente
necessitado da piedade do Estado.<br><br>
Será um profissional tecnicamente preparado para exercer seu ofício sem
apelar para a carência ou para qualquer tipo de condenável
preconceito.<br><br>
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FONTE :
<a href="http://www.folha.com.br/" eudora="autourl">www.folha.com.br</a>
- 29/01/05 </body>
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