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<div align="right">Diogo Mainardi<br>
VEJA 04 Ag 04<br>
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<div align="center"><font size=6><b><u>Brasil, cúmplice de um crime
<br><br>
</u></font></div>
<div align="right"><i>"Lula foi à África. De novo. Assinou
acordos<br>
para o plantio de mandioca com o ditador do<br>
Gabão. Deveria ter aproveitado a viagem<br>
para condenar o regime genocida do Sudão.<br>
Preferiu falar sobre maracatu"</i></b> <br><br>
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Sudão. De um lado, os milicianos árabes ou "janjawid". Do
outro, a população negra da região de Darfur. Os milicianos árabes querem
tomar a terra dos negros. Já assassinaram cerca de 30.000 pessoas.
Incendiaram vilarejos. Praticaram estupros em massa. Raptaram crianças.
Envenenaram as fontes de água. Um milhão de habitantes de Darfur foram
obrigados a abandonar suas casas. Dois milhões estão desnutridos. Cento e
cinqüenta mil se refugiaram no Chade. Trata-se da maior crise humanitária
da atualidade. Que lado o Brasil escolheu nessa tragédia? O dos negros?
Claro que não. O Brasil escolheu ficar com o regime do Sudão e seus
esquadrões da morte árabes. Lula nos tornou cúmplices das atrocidades
cometidas em Darfur. <br><br>
A questão está sendo debatida no Conselho de Segurança da ONU. Os Estados
Unidos, desde o fim de junho, defendem a imposição de sanções contra o
regime ditatorial do Sudão, que arma e protege os milicianos árabes de
Darfur. França, Inglaterra, Alemanha, Espanha e Chile apóiam a
iniciativa. O Brasil, não. Uniu-se à Argélia e ao Paquistão para obstruir
a proposta americana. O representante brasileiro na ONU, Ronaldo
Sardenberg, sugeriu dar mais tempo ao regime do Sudão. A Anistia
Internacional calcula que 1.000 pessoas morrem por semana em Darfur. Dar
mais tempo aos paramilitares sudaneses significa permitir o assassinato
de ainda mais gente. Como disse o jornal <i>Washington Post,</i> o Brasil
considera mais importante a soberania do que a vida. <br><br>
Os parlamentares dos Estados Unidos, na última semana, definiram a
situação em Darfur como um genocídio. Pediram uma intervenção urgente do
governo americano, multilateral ou unilateral. Ou seja, com ou sem a ONU.
George W. Bush ameaçou abertamente os chefes militares sudaneses,
incitando-os a conter os "janjawid". O candidato do Partido
Democrata, John Kerry, foi ainda mais veemente. Discursando na maior
associação de negros do país, demandou a punição imediata dos mandantes
do genocídio. O movimento negro americano pressionou os políticos a se
ocupar do genocídio de negros no Sudão. A ministra de Promoção da
Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, que representa o movimento negro
brasileiro, optou por ignorar o imobilismo criminoso de seus colegas de
governo. <br><br>
Lula foi à África. De novo. Doou cinco ou seis computadores à população
de São Tomé e Príncipe e assinou acordos para o plantio de mandioca com o
ditador do Gabão, Omar Bongo, conhecido por ser o líder estrangeiro com o
maior número de propriedades imobiliárias em Paris. O presidente deveria
ter aproveitado a viagem à África para condenar o regime genocida do
Sudão. Preferiu falar sobre maracatu. A megalomania petista considera o
Brasil importante o bastante para merecer uma cadeira permanente no
Conselho de Segurança da ONU. Neste ano, ocupamos uma cadeira rotativa. A
primeira decisão relevante de nosso mandato foi sobre as sanções ao
Sudão. Escolhemos o lado errado. Decidimos ser coniventes com um crime.
Ainda bem que daqui a um ano e meio tomam de volta nossa cadeira
rotativa. <br>
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